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Papel e Celulose

Suzano dá play no Projeto Cerrado e mira ganho de margem e novos investimentos

Com investimento total de R$ 22 bilhões, nova fábrica de celulose aumenta produção em 20% e reduz raio médio da floresta até as operações para 65 quilômetros

Projeto Cerrado: até o fim de 2024, produção deve ser de 900 mil toneladas (Suzano/Divulgação)
Projeto Cerrado: até o fim de 2024, produção deve ser de 900 mil toneladas (Suzano/Divulgação)
Raquel Brandão

Raquel Brandão

Repórter Exame IN

Publicado em 22 de julho de 2024 às 10:45.

Última atualização em 22 de julho de 2024 às 14:16.

A Suzano está, finalmente, dando início à produção no Projeto Cerrado, fábrica de celulose que aumentará a produção da fabricante em 20% e promete ser uma alavanca importante de rentabilidade e de liberação de caixa para novos investimentos. O episódio simboliza a passagem de bastão, de vez, de Walter Schalka (que ficou 11 anos no comando da Suzano) a Beto Abreu, anunciado em fevereiro e cujo mandado de CEO se iniciou este mês.

Com capacidade para produzir 2,55 milhões de toneladas por ano, a unidade recebeu R$ 22,2 bilhões em investimentos, dos quais R$ 15,9 bilhões destinados à construção da fábrica e R$ 6,3 bilhões a iniciativas como a formação da base de plantio e a estrutura logística para escoamento da celulose. São todas essas cifras em torno do que é a maior linha única de produção de celulose do mundo.

Instalada no município de Ribas do Rio Pardo, em Mato Grosso do Sul, a Unidade Ribas foi anunciada em maio de 2021, em meio ao maior ciclo de investimentos da Suzano: mais de R$ 50 bilhões entre 2019 e 2023. Para 2024, o investimento total previsto é de R$ 16,5 bilhões.

No pico da obra chegou a empregar mais de 10 mil pessoas. Com o início das operações, cerca de 3 mil pessoas, entre colaboradores, passam a trabalhar nas atividades industrial, florestal e de logística da nova unidade. Além disso, investiu mais de R$ 300 milhões em obras na cidade, incluindo a construção de unidades de moradia e centro médico, melhorias na infraestrutura local e apoio a projetos sociais.

Com o início das operações da nova unidade, a capacidade instalada de produção de celulose da Suzano salta de 10,9 milhões para 13,5 milhões de toneladas anuais, o que representa um aumento de mais de 20% na produção atual da companhia. A Suzano também tem capacidade para produzir 1,5 milhão de toneladas anuais de papéis, incluindo as linhas de papéis sanitários, de imprimir e escrever e de embalagens, entre outros itens que utilizam a celulose como matéria-prima

Para este ano, em meio à fase de ramp up, estima uma produção de aproximadamente 900 mil toneladas, atingindo 2 milhões de toneladas ao fim de 12 meses. Mas o grande ganho, explica Aires Galhardo, vice-presidente executivo de operações celulose, engenharia e energia, está mesmo na rentabilidade do novo ativo.

A partir do momento em que as florestas plantadas chegarem ao estágio de utilização, o raio médio estrutural da base florestal entre as operações da Suzano cai de 150 quilômetros para 65 quilômetros, reduzindo consideravelmente os custos. "Apesar de ele acrescentar 20% mais ou menos de produção adicional à Suzano, em termos de rentabilidade é mais que isso. Contribui com uma parcela mais alta que a média. Então, a tendência é que no médio prazo, tanto o Ebitda quanto a margem de contribuição cresçam", diz. No primeiro trimestre, o Ebitda da Suzano ficou 26% menor do que um ano antes, a R$ 4,56 bilhões.

Esse diferencial é significativo para o negócio em um momento em que os preços da celulose passam a apontar para baixo. No primeiro semestre deste ano, a commodity passou por uma pico de preços, chegando a patamares de US$ 750 por tonelada no mercado chinês, num cenário que supreendeu positivamente o mercado. Agora, porém, a entrada do próprio Projeto Cerrado e de ativos de outros players, como a chinesa Liangsheng Pulp and Paper, aumenta consideravelmente a oferta justamente em um momento em que a demanda dá sinais de enfraquecimento.

O Itaú BBA rodou uma pesquisa com cerca de 80 investidores locais. Deles, 68% preveem uma correção do mercado de papel e celulose ainda no terceiro trimeste. Além disso, 62% projetam preços em torno de US$ 550 e US$ 600 por tonelada, enquanto 18% preevem US$ 600 a US$ 650.

Mas esse cenário não é um ponto de preocupação, segundo Galhardo. "Qualquer coisa que entra agora é receita. O projeto está quase todo pago, cerca de 90% a 95% [era 86% ao fim do primeiro trimestre]. No momento que precisava ter desembolso pesado, o preço estava bom." O custo, acrescenta ele, ainda vai ser bem menor do que o preço praticado pela Suzano, então a a rentabilidade está garantida mesmo em tempos mais duros.

E essa capacidade de captura de margem que fará o papel de desalavancar a Suzano. No primeiro trimestre do ano, a alavancagem em dólares da Suzano chegou a 3,5 vezes, maior patamar dos últimos 12 meses — era 1,9 vez ao fim de março de 2023. Mas dentro dos critérios financeiros da companhia e com tendência, a partir de agora, de queda.

"Com o Cerrado, conseguimos desalavancar muito rápido e ter uma geração adicional de caixa também muito rapidamente. Isso abre as portas para movimentos estratégicos ou de novos crescimentos orgânicos, ou de aquisições", destaca o VP.

Depois de desistir da compra da International Paper, a Suzano anunciou a compra de duas fábricas de papel cartão revestido e não revestido da Pactiv Evergreen, nos Estados Unidos. Antes disso, comprou uma fatia de 15% da Lenzing, uma fabricante austríaca de celulose solúvel e tecidos.

Das 14 recomendações de analistas sell side, apenas duas são "neutro" e o restante é de "compra" para a ação da Suzano, com preço-alvo médio de R$ 72,15, um prêmio de 35% sobre o último fechamento. A Suzano tem R$ 69,90 bilhões de valor de mercado e acumula uma queda de 2,79% no valor das ações desde o início de 2024. Em 12 meses, a valorização do papel é de 19%. 

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Raquel Brandão

Raquel Brandão

Repórter Exame IN

Jornalista há mais de uma década, foi do Estadão, passando pela coluna do comentarista Celso Ming. Também foi repórter de empresas e bens de consumo no Valor Econômico. Na Exame desde 2022, cobre companhias abertas e bastidores do mercado

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