Logo Exame.com
Empresas

Em meio a apagão florestal, Dexco sai na frente com negócio de madeira

Com escalada de preços da madeira, dona da Duratex reforçou capacidade de autossuficiência; em 2023, divisão alcançou maior Ebitda da história

Dexco: divisão de madeira alcançou seu maior Ebitda da história em 2023: R$ 1,4 bilhão e margem de 29%, motivada especialmente pela gestão de ativos florestais Foto: Dexco/ Divulgação (Dexco/Divulgação)
Dexco: divisão de madeira alcançou seu maior Ebitda da história em 2023: R$ 1,4 bilhão e margem de 29%, motivada especialmente pela gestão de ativos florestais Foto: Dexco/ Divulgação (Dexco/Divulgação)
Raquel Brandão

Raquel Brandão

Repórter Exame IN

Publicado em 8 de março de 2024 às 15:15.

Última atualização em 9 de março de 2024 às 09:18.

Depois de um crescimento acelerado de projetos, o setor de madeira e celulose vive uma encruzilhada. Com a demanda fortemente aquecida, o déficit estrutural de madeira no Brasil chega a 1,450 milhão de hectares – o que tem levado os preços a testarem os limites históricos.  

Nos últimos anos, segundo levantamentos da Indústria Brasileira de Árvores (IBA), o ciclo de investimentos da indústria de madeira e celulose foi de R$ 62 bilhões: como Projeto Cerrado, da Suzano, ou o Puma II, da Klabin, por exemplo. “Ainda levará um ou dois ciclos para haver um equilíbrio. Hoje há um acúmulo de demanda e o que vemos é um processo de reconstrução da base”, afirma Henrique Haddad, vice-presidente da divisão de madeira da Dexco, dona da Duratex, Durafloor e Portinari.  

A unidade de negócio foi o ponto forte da empresa em 2023, enquanto metais, louças e revestimentos viram as vendas recuarem. No ano, o lucro líquido do grupo cresceu 6,1%, para R$ 811 milhões – mas o quarto trimestre foi de queda de 10%, para R$ 195 milhões. Enquanto isso, a divisão de madeira alcançou seu maior Ebitda da história em 2023: R$ 1,4 bilhão e margem de 29%, motivada especialmente pela gestão de ativos florestais.  

Para lidar com o cenário de pressão e o risco de apagão florestal, a companhia antecipou e reforçou seus investimentos, com a percepção de que o negócio precisava ser verticalizado para se manter sustentável. “Fomos disciplinados na estratégia de não diminuir ativos ao longo do tempo”, diz. Ao fim do ano passado, a variação do valor justo dos ativos biológicos foi de R$ 768,6 milhões, 28,6% mais do que em 2022.  

Uma das apostas está bem longe das fábricas e não tem, ainda, destinação definida: por meio da Caetex, uma joint-venture com a Usina Caeté, arrendou terras em Alagoas – hoje, são 18 mil hectares de floresta, que devem chegar a 40 mil hectares até o fim de 2025. Até lá, segundo Haddad, deve haver uma definição sobre os ativos, como a possibilidade de mais uma fábrica de painéis de madeira ou de celulose. Por enquanto, a companhia vende madeira e cavaco (madeira já triturada usada na secagem de grãos e na geração de energia).  

“Não existe alternativa a não ser repor a capacidade de reprodução. Por isso nós fomos disciplinados nessa estratégia”, argumenta Haddad, que antes de comandar a divisão era CFO da empresa, indicado pela Itaúsa, principal acionista da empresa, com 40,8% do capital social. “Continuamos com o plano de reflorestamento, recomposição do nosso espaço”, diz.  

Nos últimos anos, a empresa fez fortes colheitas. Ao longo de 2023, com esse cenário de preços elevados, e as vendas de painéis em ritmo mais lento, fez negócios florestais em montantes relevantes, como venda de madeira em pé para terceiros, o que ajudou nos números finais da divisão. “É pontual, meu objetivo é vender painel de madeira”, pondera Haddad. 

“Entre 2024 e 2025 estamos com uma plantação um pouco maior do que o regular para ter capacidade ao longo do tempo. O investimento precisa ser cadenciado. O que é plantado aqui é só para dali seis anos pelo menos”, explica.  

Para além dos investimentos em capacidade, o esforço também tem sido em aumento de produtividade. Nos anos 2000, o nível de produção era de 35 a 38 m³/hectare por ano. Atualmente, a empresa chegou a níveis de 50 a 55 m³/hectare por ano. 

Essa estratégia tem sido importante dada a valorização do preço médio da madeira. Como explica o diretor florestal da Dexco, Anderson Lins Machado, o preço varia de região para região, mas se observados os últimos três anos, a média de preço dobrou. “Não tem oferta estrutural que permita uma queda maior. Se estabilizou em patamares elevados.”  

Isso pressiona a linha de custos para quem produz os painéis de madeira, mas não tem autossuficiência de madeira, como a Dexco – a concorrência tem, em média, 45% de capacidade da matéria-prima. Antes, a madeira representava 17% dos custos de produção dos painéis, ao fim de 2023 era algo em torno de 25%.  

Além da área em Alagoas, a Dexco tem unidades florestais em Agudos (SP), Uberaba (MG), Taquari (RS) e na Colômbia.

Para quem decide. Por quem decide.

Saiba antes. Receba o Insight no seu email

Li e concordo com os Termos de Uso e Política de Privacidade

Raquel Brandão

Raquel Brandão

Repórter Exame IN

Jornalista há mais de uma década, foi do Estadão, passando pela coluna do comentarista Celso Ming. Também foi repórter de empresas e bens de consumo no Valor Econômico. Na Exame desde 2022, cobre companhias abertas e bastidores do mercado

Continua após a publicidade
Ponto de inflexão? Nubank desacelera no Brasil e ações caem 11%

Ponto de inflexão? Nubank desacelera no Brasil e ações caem 11%

Inter tem lucro e margem financeira recordes; ROE chega a 12%

Inter tem lucro e margem financeira recordes; ROE chega a 12%