Examinando: entenda como as decisões macroeconômicas atingem seu bolso

Todos os dias há notícias sobre PIB, taxa Selic e inflação; vídeo da EXAME explica como as medidas macroeconômicas do governo influenciam a vida das pessoas

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No dia primeiro de abril, o governo sancionou o chamado auxílio emergencial. A proposta garantiu que trabalhadores informais e autônomos recebessem uma ajuda de 600 reais durante a pandemia. Nesse caso, o dinheiro chegou ao bolso do brasileiro através dos bancos. Quem já tinha conta na Caixa e no Banco do Brasil, bancos públicos, recebeu a renda primeiro. Já quem tinha contas em outras instituições, fez um cadastro na base de dados do governo e também recebeu o valor. 

Parece super simples. Nessa situação até que não foi complicado mesmo. Mas não é sempre que é fácil entender como as decisões do mais alto escalão do governo afetam o seu bolso.  Todos os dias você escuta falar sobre o PIB, a taxa Selic e a inflação. Todos esses temas parecem interessar apenas quem trabalha na máquina pública. E você pode não ter ideia disso, mas cada decisão macroeconômica atinge em cheio a sua vida. E no Examinando de hoje nós vamos o porquê isso acontece. 

Bom, para começar, o que é a macroeconomia? O nome é feio, mas a explicação é muito simples. É a ciência que estuda o sistema econômico como um todo, seja de um país inteiro, um estado ou uma cidade. É baseado nessa ciência que o governo toma as decisões macroeconômicas que vão influenciar todos os pontos da economia daquele lugar. Essas decisões levam em consideração três conceitos principais: o PIB, a inflação e a taxa Selic. 

Começando com o PIB, que é o Produto Interno Bruto. O PIB nada mais é do que a soma de tudo o que é produzido por um país em um determinado período. E ele serve principalmente como um termômetro que mostra se o país está crescendo ou não. Mas para você entender como ele afeta seu bolso, você precisa saber o que é usado para esse cálculo. 

De uma forma simplificada funciona assim. A letra “P” na sigla significa que na conta do PIB entram apenas os produtos e serviços finais. Não são consideradas as matérias-primas, porque senão seria uma contagem dupla. Ou seja, um bombom de chocolate entra na soma do PIB, mas o cacau, que foi usado na produção, não.

Já o “I”, de interno, determina que nesse cálculo é considerado apenas o que é produzido em determinada região. Aqui nós estamos usando o país como exemplo, mas pode ser uma cidade, um estado ou até mesmo um setor, como o agronegócio. Então estão inclusas todas as produções de empresas locais ou multinacionais que funcionam naquele lugar. Por exemplo, se uma empresa brasileira expandiu a atuação para os Estados Unidos, o valor da produção dela lá não entra na conta do PIB do Brasil. Já se uma empresa norte-americana abre uma filial por aqui, toda a sua produção faz parte da soma. 

Por último, o “B” garante que o valor da produção considerado é apenas o bruto. Imagina que uma padaria cobra 5 reais no quilo do pão. Mas em um determinado mês o forno quebra e o dono tem um gasto com o conserto. O custo dessa manutenção não entra no valor do produto pão. Caso esses custos extras fossem considerados, então seria contabilizado um produto interno líquido, e não bruto. 

E finalmente, o que o PIB tem a ver com a sua vida. A resposta é simples, tudo. Se o PIB aumenta, aumenta também a renda e o padrão de vida das pessoas. Claro que isso envolve diversos outros fatores, mas esse resultado da economia influencia muito. E é fácil de entender o porquê. O PIB é a soma das produções no país, certo? Se ele aumenta significa que o valor das coisas produzidas também aumentou, e isso deve ser refletido no salário de quem está envolvido nesta produção. Usando o exemplo da padaria, esse ajuste deve atingir desde o padeiro até o produtor de trigo. 

Agora entendido o PIB, vamos passar para a inflação. Quando a gente escuta as notícias no jornal, parece ser algo complicado, mas de uma forma simples, a inflação é basicamente a alta de preços. Ela é medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo, o IPCA. Ele calcula o quanto os preços de coisas do consumo diário das pessoas aumentaram ou diminuíram. 

Já deu para entender que a inflação está diretamente ligada ao seu bolso. Mas para você ter uma ideia do quanto ela pode te afetar basta olharmos a história. Por um conjunto de questões, entre as décadas de 80 e 90, a economia do Brasil passava por uma forte crise. Nesse período a inflação chegou a 80% ao mês. Isso significa que um produto que custava 1 real no começo do mês, podia chegar a valer 80 reais no fim dele. 

E essa hiperinflação, como é chamada, mexeu tanto com o dia a dia dos brasileiros que criou até mesmo costumes que duram até hoje. Por exemplo, naquela época, as pessoas recebiam o salário e iam direto para o mercado comprar tudo o que podiam. Elas tinham receio de que no dia ou na semana seguinte os preços subissem ainda mais e aí já não seria possível comprar as mesmas coisas. Foi nessa época que surgiu o hábito de fazer a compra do mês. Para você ter uma ideia da loucura que foi, durante o período da hiperinflação, um fogão de brinquedo poderia custar mais do que um fogão de verdade. E você poderia comprar um blazer de linho ou uma geladeira pelo mesmo valor. 

Apesar de parecer algo distante, a hiperinflação aconteceu apenas a 30 anos atrás. Mas ela também é mais atual do que você pode imaginar. Em 2018, a Venezuela registrou uma inflação de 130.000%. E esses foram os dados oficiais divulgados pelo país. O Fundo Monetário Internacional estima que esse número foi ainda maior. As pessoas levavam sacolas cheias de pesos bolivarianos, a moeda de lá, para comprar produtos básicos como pão ou um frango. 

Agora que você já viu o estrago que a inflação pode fazer na vida das pessoas, deve estar se perguntando como fazer para controlar esse índice. E isso entra nas políticas macroeconômicas. O governo tem mecanismos para aumentar e diminuir a inflação quando necessário. O principal deles é a taxa Selic. 

Ela é a taxa básica de juros da economia. Ou seja, todos os outros juros são baseados nela. Quando a inflação tá muito alta, o governo aumenta a taxa Selic. Isso faz com que pegar dinheiro emprestado fique mais caro porque o juros aumentam. Assim, as pessoas fazem menos empréstimos e têm menos dinheiro para comprar os produtos. Se a demanda diminui, os preços tendem a cair e então a inflação cai junto. Mas não se preocupa que a gente tem um Examinando que explica tudo sobre a taxa Selic e como ela é usada para controlar a inflação. Mas vale lembrar que esse sistema por si só não resolve o problema e o governo precisa de uma série de medidas para contornar uma crise. 

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