Tecnologia

TikTok e WeChat serão banidos nos Estados Unidos a partir de domingo

O banimento será um golpe duro no TikTok, que tem cerca de 80 milhões de usuários americanos e 1 bilhão no mundo todo

TikTok: briga com os EUA parece ter chegado ao fim --- e resultado não é favorável (Hollie Adams/Bloomberg)

TikTok: briga com os EUA parece ter chegado ao fim --- e resultado não é favorável (Hollie Adams/Bloomberg)

Tamires Vitorio

Tamires Vitorio

Publicado em 18 de setembro de 2020 às 09h13.

Última atualização em 18 de setembro de 2020 às 09h15.

Parece que a guerra entre Donald Trump e o TikTok finalmente chegou ao fim, mas com vítimas pelo caminho. Isso porque o presidente americano deu um ultimato: a partir de domingo, os aplicativos chineses TikTok e o WeChat serão banidos de todas as lojas de aplicativos utilizadas no país, seja no iPhone, seja na Play Store, do Google.

"A ação de hoje prova mais uma vez que o presidente Trump vai fazer tudo que estiver a seu poder para garantir nossa segurança nacional e proteger os americanos das ameaças do Comunismo Chinês", afirmou o secretário de comércio Wilbur Ross em comunicado. "Com a direção do presidente, nós tomamos ações significativas para combater a maliciosa coleta de dados de cidadãos americanos", continuou.

O banimento será um golpe duro no TikTok, que tem cerca de 80 milhões de usuários americanos e 1 bilhão no mundo todo, segundo estimativas. E mais um capítulo entre a guerra comercial entre os Estados Unidos e a China --- que não cessou mesmo em meio à pandemia do novo coronavírus. De um lado, Trump afirma que o aplicativo é responsável por ceder dados dos usuários ao governo chinês. Do outro, o aplicativo nega veementemente a acusação. Até mesmo a conta mais popular no app chinês é de uma americana, a adolescente Charli D’Amelio, 16 anos, que ficou famosa por fazer coreografias de músicas que viralizaram no TikTok. Com 85 milhões de seguidores, ela tem hoje o perfil mais popular do aplicativo — perder os EUA, então, significa perder muito.

A briga parecia ter tido um fim quando, nesta segunda-feira, a Oracle, empresa de tecnologia americana, anunciou nesta que seria “provedora oficial da tecnologia chinesa nos Estados Unidos”. O acordo parece não ter sido o suficiente para estancar a situação, que tomou novos contornos apenas quatro dias após o anúncio.

Segundo a Bloomberg, os termos do acordo parecem não atender às preocupações de segurança nacional manifestadas por autoridades do governo americano, incluindo o Secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo. O que pode ter sido pólvora o suficiente.

A Microsoft e a Oracle estavam em uma disputa sobre uma suposta compra do TikTok para evitar que ele fosse banido dos Estados Unidos sob suspeita de espionagem internacional e ameaça à soberania americana. A discórdia pode ter sido semeada pelo presidente global do Facebook.

Mark Zuckerberg teria dito a Trump que o crescimento das companhias chinesas de internet poderia “prejudicar os negócios americanos”. Sendo americana, a Oracle, especializada no desenvolvimento e comercialização de hardware e softwares e de banco de dados, resolveria os problemas do governo americano com o TikTok sem efetivamente comprá-lo.

Em entrevista à EXAME em julho, Fabro Steibel,d iretor executivo do Instituto Tecnologia Social (ITS), afirmou que a situação se "tratava de um momento novo". "Mas se tem essa ideia de que, ao você ter aplicativos que coletam dados a tantos momentos, e se você der esses dados a outro país, você estará ameaçando a soberania do seu próprio país. E o que está dentro desse tema de soberania?”, questiona Steibel. “Você tem o reconhecimento facial, o TikTok tem um percentual alto de reconhecimento da população indiana e brasileira. Não é tão diferente da coleta que o Instagram faz, por exemplo, mas a simbiose com o governo chinês cria um uso para esses dados que não é o mesmo utilizado pelo Facebook, que não compartilha os dados com o governo americano. E aí você tem a soberania ameaçada”, diz Steibel.

Não é exatamente que o TikTok ou o WeChat têm de dar as informações dos usuários ao governo chinês. O que acontece é que, pelas regras da China, o governo chinês tem uma participação societária “ou acesso aos sistemas de quase todos os negócios”. Para driblar a situação, a opção do aplicativo gigante foi tentar vender suas operações nos EUA --- mas nem isso parece ter sido o suficiente para o governo americano.

O WeChat, com 1,2 bilhão de usuários no mundo todo no segundo trimestre de 2020 segundo a consultoria de dados alemã Statista, também tem muito a perder com o banimento.

Apesar de tudo, as empresas não foram as primeiras a sofrer proibições do governo americano. No ano passado a Huawei, maior fornecedora telecom do mundo, foi colocada na lista negra dos EUA pelo presidente Donald Trump por “ameaçar a segurança americana”, o que proibia a empresa de fazer negócios com qualquer empresa americana. A companhia dependia fortemente de seu acordo com o Google para o fornecimento do sistema operacional Android para seus dispositivos e recentemente anunciou que seus dispositivos terão um sistema operacional próprio.

Resta saber se esse é o fim da novela --- ou só mais um capítulo.

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