Avião autônomo Predator dispara um míssil Hellfire (Divulgação)
Maurício Grego
Publicado em 8 de fevereiro de 2013 às 11h19.
São Paulo — Trabalhando junto com a CIA, as forças armadas americanas vêm usando seus drones para atacar supostos terroristas no Paquistão. Mas esses aviões-robôs também matam civis e, em alguns raros casos, até cidadãos americanos. Por isso, o uso desse tipo de arma é polêmico. A discussão pegou fogo nesta semana depois do vazamento de um memorando de Barack Obama sobre o assunto.
A existência do memorando vinha sendo comentada desde o ano passado. Nesta semana, o debate se intensificou com o vazamento e a ida de John Brennan, novo chefe da CIA, ao Senado para ser sabatinado. A história provocou uma caça às bruxas. Segundo relatos publicados na imprensa americana, a CIA estaria investigando e-mails, mensagens instantâneas e até telefonemas de militares que tiveram acesso ao documento para tentar identificar quem o divulgou.
Entre outras coisas, o memorando diz que, se um americano está envolvido em terrorismo e oferece risco à segurança do país, então ele pode ser morto por um drone. Na interpretação de muitos juristas, isso equivale a uma execução sumária, sem julgamento – algo que contraria as leis do país. Esses ataques com drones também vão contra acordos internacionais.
Mesmo com sua legalidade em discussão, eles devem continuar. Essa é uma atividade secreta realizada pela forças armadas em colaboração com a CIA. É justificada pelo argumento de que é necessária à segurança do país. Pertence à zona nebulosa entre as leis civis e as leis marciais.
Os drones empregados pelos americanos em países como o Paquistão são da família Predator. São produzidos pela empresa General Atomics. O primeiro modelo dessa série, o MQ-1, estreou em 1994 e entrou em serviço no ano seguinte. No início, servia apenas para reconhecimento.
Depois de 2001, o Predator passou a carregar os mortais mísseis Hellfire e transformou-se em arma de ataque. Outros mísseis e bombas guiadas por raios laser foram sendo incorporados com o tempo. O MQ-1 foi empregado em países como Afeganistão, Paquistão, Iraque, Líbia e Iêmen. Estima-se que as forças armadas americanas tenham mais de 7 mil unidades em uso.
Apesar de ter um sistema robótico de navegação e identificação de alvos, o drone não realiza ataques de forma autônoma. É sempre um humano quem puxa o gatilho. O comando é feito à distância, de uma base em terra que pode estar no outro lado do planeta, já que a comunicação é feita via satélite. Nessa base secreta, um piloto vê, num conjunto de monitores, imagens captadas pelas câmeras do drone e dados registrados por sensores a bordo.
O piloto usa um joystick e outros controles para dirigir a aeronave. Tropas na zona de combate também podem ter acesso às imagens obtidas pelo robô. Em 2009, descobriu-se que rebeldes iraquianos também captavam as transmissões dos Predator americanos, que não eram criptografadas. Supõe-se que algum tipo de criptografia tenha sido implantado depois disso.
O Predator MQ-1 voa a até 7.600 metros de altitude e pode permanecer 40 horas no ar. Com propulsão a hélice, sua velocidade máxima é cerca de 220 km/h. Ele tem 8 metros de comprimento por 15 de envergadura. Uma versão mais recente, a MQ-9 Reaper (Predator B), atinge o dobro dessa velocidade. É o modelo que está sendo entregue atualmente às forças armadas.
Em 2009, a General Atomics começou a testar um modelo a jato, o Avenger (Predator-C), que voa a 740 km/h e a até 18.300 metros de altitude. Avenger é uma aeronave furtiva. Ela emprega uma série de tecnologias para dificultar sua detecção pelos radares. É um equipamento mais caro que seus antecessores, o que vem atrasando sua entrada em serviço.
De acordo com a organização New America Foundation, a CIA realizou 349 ataques com drones no Paquistão desde 2004. A fundação estima que entre 2.000 e 3.300 pessoas tenham sido mortas nesses ataques. A maioria dos mortos são militantes islâmicos que a CIA considerava terroristas. Segundo a New America, o número de civis não militantes atingidos vem diminuindo com o tempo. No ano passado, eles totalizaram cerca de 10% dos mortos, contra 60% em 2006.