Tecnologia

Não é cilada, Bino: andamos no primeiro caminhão autônomo desenvolvido no Brasil

Projetado pela USP de São Carlos e a Scania, o veículo usa GPS e câmeras para se orientar em uma espécie de trilho virtual

scania (Divulgação)

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Da Redação

Publicado em 22 de julho de 2015 às 13h25.

Com tantas revoluções tecnológicas que prometem um futuro melhor, em alguns momentos é espantoso perceber como a inovação já está perto de mudar nosso cotidiano. Pensei nisso ao me sentar no banco do motorista de um caminhão de 7 toneladas e dar uma volta com ele pelo campus da Universidade de São Paulo em São Carlos, interior paulista. Detalhe: eu não precisei mover um músculo para conduzir o veículo.

Estava em um G360 da Scania, o primeiro protótipo de caminhão autônomo a rodar no Brasil. O caminhão, apresentado nesta terça-feira (20) em evento para jornalistas, foi desenvolvido nos últimos dois anos por meio de uma parceria da montadora sueca com a Escola de Engenharia de São Carlos e o Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação (ICMC).

O caminhão autônomo desenvolvido na USP de São Carlos utiliza navegação por GPS e câmeras para se locomover sozinho, seguindo uma espécie de trilho virtual pré-definido, com margem de erro de até 5 centímetros em relação ao mundo real. A tecnologia é bastante diferente do caminhão autônomo apresentado neste ano pela Mercedes-Benz, o Freightliner, que usa as faixas das pistas para se guiar. 

Mas, segundo Denis Wolf, professor do ICMC e um dos coordenadores do projeto, o sistema de navegação é um diferencial do projeto nacional, levando-se em consideração a (falta de) infraestrutura das estradas nacionais. “Esse sistema é o mais adequado para a realidade brasileira. Imagine um caminhão em uma estrada de terra no interior do país, por exemplo. Ele jamais irá encontrar uma faixa de pedestres para se orientar”.

Segundo o professor, o maior desafio do projeto foi criar um sistema computacional que pudesse reproduzir o comportamento humano. “As câmeras do veículo registram apenas cores. Então, é preciso fazer o programa interpretar se o que está na imagem captada é uma árvore, uma rua ou uma criança”, afirma Wolf. Todos esses cálculos são feitos em tempo real por um algoritmo, que tem milésimos de segundo para entender o que está acontecendo, planejar e executar uma ação. 

Os responsáveis pelo projeto afirmam que a ideia do caminhão autônomo não é acabar com os motoristas de caminhões, mas sim ajudá-los a rodar nas estradas. “Não queremos substituir os caminhoneiros, mas sim auxilá-los a cumprir suas tarefas com mais segurança”, afirma Wolf.

Que me perdoem todas as pessoas que me deram carona alguma vez na vida, mas nunca me senti tão seguro em um veículo como durante o curto passeio de quase um quilômetro a bordo do caminhão autônomo. Na cabine, acompanhado por dois alunos que garantiam que nada daria errado, um monitor mostrava o trajeto a ser cumprido. Uma voz feminina avisou que a partida seria dada e, pronto, o caminhão passou a se mover muito suavemente.

A tecnologia embarcada no veículo não é das mais complexas. O dono do espetáculo é um computador instalado na cabine, atrás do banco do motorista. Ele é auxiliado por dois GPS instalados no teto, que alimentam o sistema de navegação. Na grade frontal, ficam um radar e uma câmera estéreo, que rastreiam o ambiente ao redor do veículo em busca de obstáculos. O caminhão diminui a velocidade quando percebe que algo está a pelo menos 20 metros de distância.

Passado o espanto inicial de andar em um veículo sem motorista, não há muito com o que se emocionar no passeio — e é esse é o objetivo principal do protótipo: transmitir segurança. Mas se o motorista não se sentir suficientemente seguro, pode pisar no freio ou assumir o volante a qualquer momento.

Por enquanto, o veículo não pode sair do campus da USP em São Carlos, e não ultrapassa os 18 km/h de velocidade. Segundo Wolf, ainda são necessários mais testes em condições adversas para que o caminhão possa sair às ruas, caso exista essa liberação das autoridades. Por enquanto, a ideia da Scania é usar parte da tecnologia desenvolvida em São Carlos nos caminhões usados em aplicações confinadas, como minas subterrâneas ou grandes fábricas, para então colocar os veículos nas estradas e cidades.

“Iremos passo a passo. Primeiro iremos usar o veículo em ambientes confinados, depois em um corredor exclusivo de uma cidade, para então pensar em colocá-lo nas estradas”, afirma Rogério Rezende, diretor de Assuntos Institucionais e Governamentais da Scania na América Latina.

Para viabilizar a iniciativa, a Scania fez um aporte de 1,2 milhão de reais no projeto. O objetivo final da empresa sueca é criar uma nova geração de caminhões mais eficientes e, principalmente, mais seguros. 

Em 2012, data do último levantamento oficial, 3 682 pessoas morreram no Brasil em decorrência de acidentes envolvendo caminhões, mais de 10 por dia. As três principais causas para os 131 269 desastres com veículos pesados, a maioria deles com 10 anos de estrada, envolviam imprudência na direção: falta de atenção do motorista (21 860 acidentes), velocidade incompatível com a pista (5 917) e não guardar distância com o veículo da frente (5 868). Toda tecnologia que for capaz de minimizar essas tragédias será bem vinda.

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