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Motorola muda foco e aposta no Moto G6 para voltar ao azul

Em entrevista a EXAME, Sergio Buniac, CEO da Motorola, detalha estratégia da empresa com foco na rentabilidade

Motorola: Moto G é aposta da empresa para vender mais na Europa (Daniel Boczarsk/Getty Images)

Motorola: Moto G é aposta da empresa para vender mais na Europa (Daniel Boczarsk/Getty Images)

Lucas Agrela

Lucas Agrela

Publicado em 22 de abril de 2018 às 05h55.

Última atualização em 23 de abril de 2018 às 10h18.

São Paulo – Brasileiro, Sergio Buniac assumiu recentemente o cargo de CEO da Motorola, empresa controlada pela chinesa Lenovo, desde 2014. Sua missão é clara: tornar a companhia rentável. Para isso, a aposta é no trio de smartphones Moto G6, Moto G6 Plus e Moto G6 Play, que fazem parte da linha de produtos mais vendida da fabricante.

Em entrevista a EXAME, Buniac conta que o foco dos produtos é em três pontos: tela, bateria e câmera. A estratégia para crescer internacionalmente mudou e ficará mais parecida com a adotada no Brasil. Em vez de brigar com iPhone X e Galaxy S9+, a ideia é dominar o segmento intermediário com o Moto G. Globalmente, a Motorola reportou perda de 124 milhões de dólares, menos do que em 2016, quando o valor foi de 155 milhões de dólares.

Apesar de o foco ser na Europa, a empresa tem a expectativa de ter crescimento de dois dígitos no Brasil em 2018. Atualmente, a empresa está em segundo lugar em vendas no segmento de smartphones, atrás da Samsung, segundo dados da consultoria GfK.

Leia a entrevista a seguir com o 11º CEO da Motorola (o sétimo desde 2012).

EXAME: O Moto G6 será o principal produto do ano para a Motorola se recuperar do prejuízo que reportou nos últimos anos?

Sergio Buniac: Esse é um dos três lançamentos mais importantes do ano. O Moto G tem um peso significativo no nosso resultado financeiro e essa é a primeira vez que a gente vai de maneira focada e agressiva em mercados específicos. Estou falando sobre a Europa.

Lá, nosso foco sempre foi tentar vender aparelhos premium. Agora, estamos repetindo a estratégia que temos na América Latina. A ideia é ser relevante no segmento que chamamos de 150 a 350 dólares.

Obviamente temos bons produtos premium, mas a briga é mais difícil. Na verdade, o usuário tem mais resistência a mudar de marca. A gente acha que o consumidor do Moto G observa o que ele consegue pelo seu preço e, se for melhor do que os rivais, ele troca. Vimos isso acontecer na América Latina, nos Estados Unidos e na Índia.

No ano passado, o principal recurso que vocês promoveram no Moto G5S Plus foi a câmera dupla. Agora será o assistente de voz?

Serão a tela de proporção 18:9 e a tecnologia de recarga rápida da bateria Turbo Power, porque, especialmente em cidades grandes, conseguir maior autonomia de uso depois de apenas 15 minutos na tomada faz a diferença na vida das pessoas.

Fazemos testes bem conservadores, mas o Moto G6 Play tem bateria que pode durar dois ou três dias com uso moderado. Com uso mais intenso, pode durar um dia e meio. No caso dos Moto G6 e Moto G6 Plus, vamos focar nos recursos da câmera inteligente, que reconhece objetos e paisagens.

Fora isso, é a primeira vez que lançamos um Moto G com 4 gigabytes de memória RAM e 64 gigabytes de espaço de armazenamento. Essa configuração só estava disponível no Moto X4.

Um relatório da Counterpoint Research elencou os smartphones que mais deram lucro às suas empresas no último trimestre de 2017. A Motorola não figurou no top 10, apenas Apple e Samsung apareceram. A ideia da empresa é apostar no volume de vendas de diferentes modelos de celulares?

Nossa prioridade é retornar ao break-even. Se você olhar a companhia, a Lenovo como um todo, teve o seu melhor quarto trimestre dos últimos três anos. Fizemos o que prometemos aos analistas, em termos de rentabilidade, globalmente.

A nossa divisão melhorou, mas ela reduziu a perda, sendo que a promessa era chegar ao break-even. Nossa ação foi penalizada por causa disso, apesar de termos melhorado.

O foco do ano é a rentabilidade. Ainda não temos uma data, mas vamos perseguir isso de maneira bem obsessiva.

Qual mensagem a Motorola passa ao contratar você, um brasileiro, como CEO?

A Motorola tem uma característica interessante, que pode ser vista como boa ou ruim: ela passou por várias fases. Ela se dividiu em duas, virou uma startup, foi comprada pelo Google e depois pela Lenovo. Conseguimos com isso unir o melhor da engenharia da Motorola com a visão do mercado de consumo do Google. Com a Lenovo, temos acesso também à cadeia de fornecedores da maior empresa de computadores do mundo. As aquisições trouxeram esse benefício.

O que fizemos bem na América Latina foi olhar tudo isso sem ficar nos questionando o que iria acontecer. Preferimos focar no consumidor e continuar a fazer bons produtos, e a dar escala global a eles.

A Lenovo tem essa característica, ela é global. Vários executivos são de outros países. Minha contratação aconteceu de acordo com os valores da empresa.

Os novos produtos da linha Moto G6 não têm tecnologias que a Motorola já possui, como certificação para a resistência à água e a tela inquebrável ShatterShield. Por quê?

Nessa faixa, já temos o Moto X4, que tem resistência à água, segundo o IP68. Atendemos o mercado dessa maneira. Mas se colocarmos todos os recursos, vamos lançar um produto de 5 mil reais. Esses são os trade-offs [escolhas estratégicas de remoção de recursos]. Infelizmente não existe um superconsumidor. No Moto G6, preferimos apostar em tela, bateria e câmera.

Por que a tela 18:9 no Moto G6?

Tela é um item importante. Se olharmos em termos de tamanho, os novos produtos são muito parecidos com os anteriores, mas a tela é maior e você tem mais imersão no conteúdo. Essa tela 18:9 é algo importante e, antes, você precisava pagar 4 mil reais para ter isso. Oferecemos essa opção de 1.599 reais que não fica devendo nada para o consumidor.

Além de aumentar o tamanho da bateria, vocês têm trabalhado para melhorar a tecnologia que colocam nesse componente nos smartphones da Motorola?

A Motorola é uma empresa que vem de engenharia, então, sim. Em lugares com temperaturas extremas, muito quentes ou muito frios, os celulares da concorrência apagam depois de meia hora. Os nossos são adaptados para durar nesses cenários.

Vemos claramente um segmento que quer que a bateria dure. Conseguimos agora criar smartphones com muita bateria que não ficaram muito grossos, mesmo sendo da categoria de média gama.

Qual tecnologia que a Motorola desenvolve hoje tem as melhores perspectivas?

Estou animado com o Moto Voz. Ele evoluiu um pouco no Moto X e depois parou. Mas se você olha para a agilidade dele hoje e a sua inteligência para buscas, a maneira que isso acontece é ótima. Com o uso de inteligência artificial no futuro, para contextualizar a pesquisa no lugar onde você está, isso será ainda melhor.

Quando você faz uma busca no Google, ele mostra uma lista de resultados. No nosso não, ele contextualiza. Em uma busca por restaurantes, se você estiver em Chicago, ele vai falar para você os resultados. Então, você pode pedir que ele abra o terceiro, usando somente a sua voz.

Ele é um beta, o que é algo que traz o consumidor para perto de nós–mesmo que ele reclame no começo.

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