Publicado em 17 de fevereiro de 2025 às 08h00.
Última atualização em 18 de fevereiro de 2025 às 07h55.
A filosofia de Jeff Bezos sobre "discordar e se comprometer" parece estar ganhando espaço nas diretrizes da Meta. Foi com essa abordagem que Andrew Bosworth, diretor de tecnologia da companhia, respondeu às críticas de funcionários sobre mudanças nas políticas internas.
De acordo com uma reportagem do Business Insider, alguns colaboradores expressaram insatisfação e recorreram ao fórum interno da empresa para questionar as novas diretrizes.
No grupo "Let's Fix Meta", que conta com quase 12 mil membros, um funcionário criticou a liderança por supostamente alterar políticas de forma prejudicial à comunidade LGBTQIA+, eliminar programas de Diversidade, Equidade e Inclusão (DEI) baseados em dados e, em vez de se comunicar diretamente com os funcionários, optar por discutir as mudanças em um podcast de extrema-direita. O comentário finalizou com a pergunta: "há surpresa?".
Em resposta, Bosworth rebateu: "Se sua visão é 'todos têm de gostar de todas as políticas que temos e, se não gostarem, é apropriado vazar', então acho que você deveria considerar trabalhar em outro lugar."
Além da resposta direta, o CTO da Meta compartilhou no grupo um artigo do The Verge sobre as declarações de Mark Zuckerberg em uma reunião geral da empresa no fim de janeiro. Ele afirmou que já esperava que suas respostas fossem vazadas para a imprensa.
"Eu vi todas as reações raivosas/tristes sobre a mudança no formato e compartilho um sentimento de perda sobre isso, mas acho que isso deixa claro que foi a decisão certa", completou Bosworth.
Outro funcionário criticou o argumento da liderança, afirmando que culpar vazamentos para justificar a falta de debate interno sobre políticas era um "tapa na cara" dos colaboradores. Ele destacou que os funcionários da empresa foram contratados por mérito e deveriam ter espaço para discutir as decisões.
A resposta de Bosworth foi ainda mais enfática: "Você deveria pedir demissão se pensa assim, estou falando sério."
Embora Bosworth tenha usado a frase de Jeff Bezos como justificativa para suas respostas, o significado original da abordagem do fundador da Amazon pode ter sido interpretado de forma diferente.
Em 2016, Bezos defendeu que o princípio de "discordar e se comprometer" poderia acelerar processos de tomada de decisão. Em uma carta aos acionistas, na seção "Tomada de decisão em alta velocidade", ele explicou:
"Se você tem convicção sobre uma direção específica, mesmo sem consenso, é útil dizer: 'Olha, eu sei que discordamos sobre isso, mas você apostaria comigo? Discordar e se comprometer?'".
Para Bezos, quando uma decisão chega a esse ponto, ninguém pode ter certeza absoluta da melhor escolha, e um "sim" pode ser alcançado mais rapidamente. Ele citou um exemplo no qual aprovou um projeto original da Amazon Studios, mesmo tendo dúvidas sobre seu sucesso.
"Respondi imediatamente: 'Discordo, me comprometo e espero que se torne a coisa mais assistida que já fizemos'", afirmou. Segundo ele, se a equipe tivesse tentado convencê-lo, a decisão teria sido muito mais lenta.
A abordagem reflete a impaciência crescente no Vale do Silício, onde as grandes empresas de tecnologia estão cada vez menos dispostas a lidar com discordâncias internas. Nos últimos anos, Meta, Amazon e Google fizeram grandes demissões, reorganizaram equipes e mudaram suas estratégias para cortar custos e ganhar eficiência.
A ideia não é nova. Popularizada por Jeff Bezos na Amazon, a filosofia buscava evitar burocracia, permitindo que decisões fossem tomadas rapidamente, mesmo sem consenso.
Sua origem remonta aos anos 1980, quando Andy Grove, então presidente da Intel, defendia que equipes deveriam debater ferozmente, mas, uma vez tomada a decisão, todos deviam segui-la sem resistência.
Agora, a política está sendo aplicada de forma mais rígida. Em um evento interno, Andy Jassy, presidente da Amazon, afirmou que funcionários que não se comprometem provavelmente não se encaixarão na empresa.
Na Meta, Bosworth reforçou a mesma visão: "Se você não concorda, pode sair ou discordar e se comprometer."
Para especialistas, o modelo pode ser positivo se aplicado corretamente, permitindo que líderes confiem nas perspectivas de quem está mais próximo do problema. Mas críticos alertam que essa nova abordagem pode sufocar vozes internas e reduzir a diversidade de pensamento.
Fica a dúvida se essa filosofia vai impulsionar a inovação, como fez nas últimas décadas, ou reforçar o conformismo.