Líbano tentou cobrar por chamadas no WhatsApp, mas população não deixou
Com a medida, ministro de telecomunicações Mohamed Choucair desejava aumentar a receita do país - e protestantes aproveitaram para contestar outras medidas
Maria Eduarda Cury
Publicado em 18 de outubro de 2019 às 12h52.
Última atualização em 18 de outubro de 2019 às 12h53.
São Paulo - O ministro de telecomunicações do Líbano , Mohamed Choucair, propôs a cobrança de uma taxa para ligações feitas utilizando a tecnologia Voip, que permite que aplicativos como o WhatsApp transmitam voz por meios digitais - ou seja, sem que as chamadas sejam cobradas por um plano telefônico. A intenção do ministro com a medida era tentar aumentar a receita financeira do país - a ideia era cobrar cerca de 20 centavos, em libra libanesa, por chamada, o que seria o equivalente a 0,80 centavos em reais.
A proposta de Choucair, no entanto, não conseguiu sequer ser aprovada - logo após o anúncio, manifestantes e reuniram na frente da sede do governo em Beirute, capital do país, para protestar contra essa medida.
A revolta, que foi chamada de "revolução do WhatsApp" por portais de notícia locais, é a maior manifestação do Líbano em anos, e os protestantes aproveitaram para contestar o preço da gasolina e comida, que também estão altos para a população - algo similar ao que aconteceu no Brasil , durante os protestos contra o aumento de 0,20 centavos nas passagens de ônibus.
Os protestos, que se tornaram violentos, geraram estradas bloqueadas, pneus queimados, e acabaram evoluindo para uma revolta em cima dos problemas econômicos que estão envolvendo os habitantes locais. Cezar Shaaya, um contador que reside em Beirute e estava protestando contra o governo, disse para a agência de notícias Reuters que o estado é o culpado pela insatisfação geral: "Eu estava sentado em casa, vi as pessoas em movimento e saí para protestar. Sou casado, tenho pagamentos de hipotecas vencidos todo mês e não estou conseguindo trabalho. A culpa é do estado", comentou Shaaya.
Além da revogação da proposta da taxa sobre ligações em aplicativos como o WhatsApp, o primeiro-ministro do Líbano Saad Hariri cancelou uma reunião que aconteceria nesta sexta-feira, 18, que visava discutir o orçamento do país em 2020.
No Brasil, operadoras brasileiras, que hoje oferecem WhatsApp gratuitamente, já combateram o uso do aplicativo no passado. Em 2015, Amos Genish, então presidente da Vivo, chamou o aplicativo de "operadora pirata".