Tecnologia

Jogo de adivinhar local já tem até Copa do Mundo — e brasileiro na disputa

O Geoguessr viralizou na pandemia e não para de crescer desde então; produtura faturou R$ 100 milhões em 2023 e agora tem o próprio campeonato mundial

Laura Pancini
Laura Pancini

Repórter

Publicado em 3 de maio de 2024 às 12h37.

Última atualização em 3 de maio de 2024 às 14h02.

Se você é daqueles que abrem o Google Maps para chegar em um endereço, mas ao olhar para o mapa não sabe se sobe ou desce, se vai para a direita ou para a esquerda, anda para um lado e aí percebe que deveria ter ido para o outro lado, não há como você não admirar um Geoguessr. Esse nome, ou até mesmo título, que mistura as palavras em inglês localização e adivinhação, faz referência aos jogadores de um game simples no quesito funcionamento, mas muitíssimo complicado na hora de se obter sucesso e avançar.

Com mais de 50 milhões de jogadores registrados em 140 países, o jogo é literalmente de adivinhação de geolocalização e já virou e-sport. Ele não exige ser exatamente bom em geografia, mas ser alguém atento aos detalhes: profissionais de Geoguessr conseguem descobrir qualquer lugar do mundo olhando uma cena do Google Street View que mostre a arquitetura das construções, o tipo de vegetação, se há montanhas no topo, os escritos em sinalizações e até qual tipo de automóvel o Google usou para registrar as imagens.

A produtora do game é uma empresa com sede em Estocolmo e abriu as portas em 2013, quando o engenheiro de software Anton Wallén criou um aplicativo que, resumidamente, transformava o Google Maps em um jogo. Receba uma imagem gerada pelo Street View e adivinhe onde está. Quanto melhor o palpite, maior a pontuação. 

Parece uma ideia inocente, mas hoje os milhões de jogadores registrados movimentam um negócio robusto, ao se tratar apenas de um jogo que roda direto do navegador do computador ou smartphone. No ano passado, segundo dados do site sueco Bolagsfakta, plataforma de informações comerciais, o Geoguessr teve lucro de € 8 milhões e faturamento de € 20 milhões em 2023, cerca de R$ 43 milhões e R$ 109 milhões, respectivamente.

Como muitas coisas online, o Geoguessr explodiu em número de usuários durante a pandemia. Com todos em casa, explorar o mundo por trás de uma tela se transformou em uma espécie de caça ao tesouro. As redes sociais passaram a ter criadores de conteúdo voltados para o Geoguessr, e comunidades como o Reddit começaram a acumular milhares de dicas sobre cada país disponível.

Mais recentemente, o Geoguessr realizou sua primeira Copa do Mundo em Paris, com um prêmio total de € 25 mil. A segunda edição acontece em setembro em Estocolmo, e somente um brasileiro conseguiu se classificar. Orlando Moraes vai competir com outros 23 jogadores por um prêmio de € 50 mil em Estocolmo.

O que é Geoguessr?

Criado em 2013, o Geoguessr é simples e direto: o jogador recebe uma imagem aleatória de qualquer lugar do mundo e tem que adivinhar onde está. Quanto mais perto o palpite estiver do local correto, maior a pontuação. 

Enquanto alguns se contentam em acertar a cidade ou bairro que está, jogadores profissionais podem ficar mais de hora procurando a exata rua em que o Geoguessr o mostrou. É um jogo para quem é paciente, estratégico e só um pouquinho nerd.

Vale mencionar que, em fevereiro, o Geoguessr parou de oferecer a versão gratuita do jogo. Agora, quem quiser jogar precisa escolher entre três assinaturas e pagar entre R$ 7 ou R$ 13 por mês. 

O que faz um bom Geoguessr?

Os jogadores de Geoguessr alertam: apesar de soar impressionante, eles não conseguem adivinhar realmente qualquer país do mundo. O Geoguessr tem cerca de 80 de 193 países disponíveis, isso devido à dependência ao Google Street View. 

“Com a prática, você começa a entender melhor alguns aspectos físicos importantes. A diferença das casas da Europa, para as da América… outra coisa interessante é saber onde no mundo tem deserto, onde tem floresta…”, explica João Paschoal, criador de conteúdo focado em Geoguessr. O Geo Pasch, como é conhecido nas redes, destaca a identificação de vegetação, relevo e placas como primeiros passos para identificar o local. A Hungria, por exemplo, é bastante plana, então você nunca verá montanhas por lá. No vídeo acima, o criador identificou exatamente a localização que estava após identificar prédios ao fundo e uma vegetação que só podia ser "Hong Kong ou China".

O tipo de cobertura que o Google fez também importa. Se a imagem é uma câmera de última geração, ou se usaram uma caminhonete ao invés de um carro, os jogadores mais especializados conseguem já excluir alguns países da lista. “Tem muitas mais imagens de capitais e centros populosos”, resume Paschoal. “Mas, proporcionalmente, também temos mais imagens dos Estados Unidos [onde o Google tem sede]”.

Existem também documentos para cada país, feitos pela comunidade, que ajudam quem joga a aprender os detalhes de cada região. Curiosamente, o Brasil é um dos países mais difíceis de acertar no Geoguessr: segundo Moraes, a diversidade regional acaba fazendo com que brasileiros e gringos não saibam diferenciar exatamente em qual estado estão. Nas qualificatórias para a Copa do Mundo, duas de cinco imagens geradas eram em solo brasileiro.

Como é a Copa do Mundo de Geoguessr?

Para os dois jogadores, as competições oficiais de Geoguessr são uma parte importante do crescimento da comunidade e do interesse pelo jogo. Os campeonatos são organizados em várias etapas, incluindo modos que permitem movimentação livre para buscar pistas, e outros que restringem o movimento, onde o jogador tem que fazer suposições baseadas em uma única imagem estática.

Para chegar até a Copa do Mundo, é necessário passar por uma fase qualificatória online, com 40 jogadores de um continente. Oito passam para as qualificatórias presenciais, e somente cinco conseguem se qualificar para a Copa do Mundo que, este ano, acontece em setembro. 

Orlando Moraes é o único brasileiro que estará em Estocolmo competindo pelo prêmio de aproximadamente R$ 270 mil. E o carioca só decidiu participar para dar uma resposta definitiva ao vício em desenvolvimento: “Qualquer um poderia se inscrever, então pensei que era minha chance de me provar. Pensei: ‘tô dedicando muito tempo nesse jogo, então, se eu não for bem nisso, tá na hora de dar um tempo’”. 

Mesmo nas finais, Moraes ainda acredita que jogadores melhores vão chegar até a próxima edição e ultrapassá-lo. Segundo ele, hoje, existem por volta de cinco players brasileiros que jogam a nível mundial. “Cada vez mais vai aumentando a qualidade [dos jogadores], então vai ficar mais difícil de passar”. 

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