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De tabu a crise, saúde mental não pode mais ser ignorada por empresas

Meio milhão de brasileiros foram afastados por adoecimento mental em 2020; solução está na prevenção, tema que já é explorado por startups como Vittude e Bee Touch

Saúde mental: em 2020, meio milhão de brasileiros foram afastados do trabalho por adoecimento mental (Ponomariova_Maria/Getty Images)
LP

Laura Pancini

Publicado em 12 de agosto de 2021 às 06h00.

Última atualização em 12 de agosto de 2021 às 09h52.

Saúde mental: em 2020, meio milhão de brasileiros foram afastados do trabalho por adoecimento mental (Ponomariova_Maria/Getty Images)

Não foi só Simone Biles que precisou se abster do trabalho para cuidar da própria saúde mental . Em 2020, foram 576 mil pessoas afastadas do mercado de trabalho por conta de adoecimento mental, um aumento de 26% em comparação a 2019, segundo dados da Secretaria Especial de Previdência e Trabalho.

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Para empresas , a alta em afastamentos indica que é preciso buscar outra solução. Dados da última edição do Fórum Econômico Mundial apontam que companhias em todo o mundo perdem cerca de 2,5 trilhões de dólares em produtividade, com faltas no trabalho e rotatividade.

A mudança está em mental healthtechs como a Vittude, referência brasileira em psicologia online que desenvolveu uma solução completa de saúde mental para organizações; e a Bee Touch, startup que mensura e prediz riscos psicossociais por meio do uso de dados e da tecnologia.

Para Tatiana Pimenta e Ana Carolina Peuker, CEOs e cofundadoras de cada empresa, respectivamente, o trabalho é sobre a prevenção do adoecimento mental. “Com a covid, os sintomas agravaram. É como se tivesse colocado uma lupa naquilo que já existia”, disse Peuker à EXAME.

“Houve aumento nos casos de TOC, compulsividade alimentar, abuso de álcool e drogas”, relata Pimenta sobre a pandemia, além dos casos de ansiedade e depressão . A fundadora da Vittude também revelou que os funcionários mais afetados tendem a vir dos segmentos de tecnologia, varejo, publicidade ou serviços.

Segundo levantamento da Distrito, no ano passado as startups do ramo amealharam 4,68 milhões de dólares em investimentos – 150% a mais do que em 2019, quando elas receberam 1,85 milhão de dólares.

“As empresas estão começando a olhar para isso como uma estratégia competitiva. Eu invisto [na saúde mental], afasto menos pessoas, gasto menos e tenho colaboradores mais felizes, produtivos e um ambiente melhor”, disse Pimenta, que acredita que a questão da “marca empregadora” também influencia na decisão.

‘Match’ com o psicólogo ideal

Fundada em 2016 por Tatiana Pimenta e Everton Höpner, a Vittude oferece uma solução completa de saúde mental para empresas, que engloba desde o diagnóstico até a capacitação da alta liderança.

Tatiana Pimenta, CEO da Vittude (Juliana Frug / Vittude/Divulgação)

“Talvez um dos grandes fatores de sucesso [da Vittude] é porque eu consigo entender muito claramente o que um paciente sente de dor, desde o tabu de não aceitar o que ele está sentindo até preconceito ao redor dele”, conta Pimenta, que foi diagnosticada com depressão em 2012.

O carro-chefe da companhia é a “Vittude Match”, ferramenta de inteligência artificial que cruza as demandas e expectativas dos pacientes com a experiência clínica e dados do psicólogo.

Através de 7 perguntas abertas e fechadas, o algoritmo faz o processamento da linguagem usada por quem responde. Pimenta explica que o que a empresa chama de “gramática da depressão” consegue ajudar na identificação do perfil do psicólogo ideal para o paciente.

“Muita gente usa o campo para descrever as emoções. As pessoas não sabem que estão doentes”, comenta a presidente executiva. “Se vejo alguém falando sobre estar desvalorizado, ele não está falando sobre querer se matar, mas é uma gramática de ideação suicida. Então encaminhamos para um psicólogo já acostumado ao perfil do usuário.”

A curadoria de qual psicólogo pode trabalhar sob a ferramenta da Vittude é rigorosa. Só os 3% melhores do processo seletivo tendem a entrar e, atualmente, 20.000 profissionais estão na lista de espera.

A combinação da inteligência artificial com a seleção exigente se mostrou um sucesso para a startup: “Depois de quase um ano no ar, descobrimos que a permanência nas sessões após o primeiro encontro aumentou em 600%. A frustração causada pela tentativa e erro foi reduzida em 90% dos casos”, disse Pimenta.

Desde o início da pandemia, a healthtech coleciona números impressionantes. A startup viu o faturamento crescer 540% e o número de agendamentos de consultas aumentar 700%.

Hoje, são mais de 450 mil vidas cobertas por benefícios corporativos e cerca de 130 clientes, incluindo companhias como Grupo Boticário, Renner, Raia Drogasil, Grupo Profarma, Saint Gobain, SAP e Sky.

Saúde com ciência de dados

A Bee Touch foi fundada em 2011 pela professora e pesquisadora Ana Carolina Peuker; a psicóloga, mestre e doutora em Ciências Médicas Sibele Faller e o cientista da computação, Felipe Scuciatto. Juntos, eles desenvolveram a Avax Psi, primeira plataforma digital de avaliações psicológicas a partir de ciência de dados do Brasil.

Ana Carolina Peuker, fundadora e CEO da BeeTouch (Bee Touch/Divulgação)

A plataforma da Bee Touch ajuda empresas a atuarem de maneira preventiva. Além de um sistema de rastreio de fatores psicossociais no trabalho, a startup produz análises a partir das respostas dos colaboradores e orienta a gestão sobre os próximos passos.

[A análise é] justamente para mostrar para a empresa os aspectos que podem criar vulnerabilidades para o adoecimento mental”, disse Peuker.

O usuário recebe um questionário onde serão avaliados temas como: organização no trabalho, relação com colegas, se há definição nos papeis de cada colaborador ou presença de qualquer forma de abuso moral, assédio ou preconceito. “São questões mais ampliadas e que ajudam a fazer um diagnóstico de necessidades.”

Quem responde as perguntas ganha um feedback imediato, enquanto o gestor recebe as informações de forma anônima em tempo real, tudo de acordo com as normas da LGPD . Depois, o relatório é formulado e enviado à empresa.

A Bee Touch construiu um protocolo de avaliação psicossocial que ninguém tem no mundo”, avalia Ricardo Mattos, CEO da Vetor Editora, empresa com foco em pesquisa e geração de conhecimento para a área psicológica e que investiu na Vittude e na Bee Touch

Com 55 anos de atuação nacional, a Vetor prevê crescimento de 40% com a digitalização das soluções em psicologia. Já a Bee Touch planeja triplicar seu faturamento em 2021 — com a crise pandêmica, a empresa cresceu quase 70% em 2020.

A Vetor Editora também viu a procura por testes onlines aumentar nos setores de RH de empresas para recrutamento, seleção e rotina do dia a dia. Os que tiveram maior aumento foram: o teste de personalidade, com aumento de 170%; o de atenção, com mais de 100% de crescimento; e inteligência, também com aumento de cerca de 100% de procura.

Na Bee Touch, são mais de 300 mil vidas cobertas e cerca de 15 clientes, como as Caixa dos Advogados da OAB de São Paulo, Piauí e Mato Grosso do Sul, e a BRASKEM, no Rio Grande do Sul, onde foi desenvolvido um projeto em parceria com o Hospital Moinhos do Vento.

“Eu percebo nos clientes que a visão sistêmica e ampliada que oferecemos faz com que o colaborador perceba a entrega com mais valor. Não é algo só pra inglês ver ", disse Peuker.

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