Contra hackers, bancos, varejistas e PF buscam atuação inspirada no FBI
Evento com Febraban, Esfera Brasil e IDV debateu a criação de um Centro Nacional de Proteção Digital para trocar informações contra ataques
Matheus Doliveira
Publicado em 10 de dezembro de 2021 às 09h58.
Última atualização em 10 de dezembro de 2021 às 10h21.
Um novo dia, um novo ataque hacker afetando a rotina de milhões de pessoas e de grandes instituições. Nesta sexta-feira, o alvo foi o site do ministério da Saúde e o aplicativo ConecteSUS. Ao longo de 2021, além de serviços públicos, inúmeras empresas foram alvo de ataques – de pequenas a gigantes. Em todo o mundo, estima-se que os cibercrimes levaram a perda de 6 trilhões de dólares em 2021, segundo a consultoria Roland Berger.
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Segundo levantamento da Federação Brasileira de Bancos, a Febraban, no primeiro semestre de 2021, os golpes cibernéticos contra clientes de instituições financeiras do Brasil cresceram 165% em relação ao mesmo período de 2020. A explosão no número de fraudes é um recorte dos tempos de pandemia, quando mais pessoas passaram a aderir às facilidades da bancarização digital através de novos serviços como o PIX, que já superou a marca de 100 milhões de usuários desde que foi implementado.
Em fórum realizado em São Paulo nesta quinta-feira, 9, representantes das maiores instituições financeiras do país e dos gigantes do varejo se reuniram para debater temas ligados à segurança digital e ataques hacker ao sistema bancário e de varejo de crédito. O debate foi conduzido pelo diretor-geral da Polícia Federal, Paulo Maiurino, e trouxe nomes como o advogado Pierpaolo Bottini, da Esfera Brasil; Issac Sidney, da Febraban; e Marcelo Silva, do Instituto para o Desenvolvimento do Varejo (IDV).
O encontro foi mais um de uma série recente de eventos promovidos pelo setor público, representado pela Polícia Federal, e pelo privado, que se debruçam cada vez mais sobre segurança. O objetivo é fomentar a criação de um Centro Nacional de Proteção Digital brasileiro inspirado em cases americanos, na figura do FBI e Interpol, e europeu, com a Europol. Nesses 3 modelos, as polícias utilizam dados de instituições bancárias privadas para identificar, combater e punir ataques cibernéticos.
“Nossa meta é servir como um centro de troca de informações entre o setor público e privado para prevenir, mas também saber lidar com crimes cibernéticos e fraudes digitais quando elas ocorrerem”, disse Maiurino. “Nós já temos um espaço para a criação do Centro de Proteção em Brasília, isso vai acontecer em breve, estamos aqui para estender o convite à sociedade civil, aqui representada pelos bancos e varejistas”, afirmou. Caso saia do papel, o Centro de Proteção de Dados da PF será o 4º modelo no mundo que une os setores público e privado.
Assim como já acontece lá fora, a proposta da PF é criar um banco de dados central coletando informações das instituições privadas para identificar fraudes digitais. A ideia de criar delegacias federais contra crimes cibernéticos também foi debatida no fórum.
Somente no ano passado, a PF contabilizou 1282 inquéritos sobre crimes cibernéticos. Os alvos mais visados pelos hackers são pessoas sem conhecimento em segurança digital – mas empresas e instituições mais sólidas também viram alvo. O golpe mais comum, e que mais cresceu esse ano, é chamado de “engenharia social”. A prática diz respeito às vítimas que, por falta de conhecimento nos espaços digitais, acabam cedendo dados sensíveis aos golpistas, seja clicando em links maliciosos ou infectando o computador com malwares. "O combate a esse tipo de crime só avança com uma parceria coordenada entre o setor público e privado", disse Pierpaolo Bottini, da Esfera Brasil."A sociedade está cada vez mais digital. Essa iniciativa também é fundamental para proteger a população", completouMarcelo Silva, do IDV.
O crescimento desse tipo de golpe ocorre em um contexto em que os smartphones já correspondem por mais da metade das transações bancárias feitas no Brasil, como pagamento de contas, boletos e transferências. Só em 2020, de acordo com o levantamento da Febraban, os celulares foram usados em 51% das transações. “Estamos falando de transformação digital. Cada vez mais a economia deixa de ser matéria e passará a ser bit. É muito importante que o estado possa garantir equidade entre empresas”, disse Flávio Rocha, da Riachuelo.