Repórter
Publicado em 17 de fevereiro de 2025 às 11h36.
Última atualização em 17 de fevereiro de 2025 às 13h04.
No último Carnaval, um aplicativo inesperado desbancou WhatsApp, TikTok e Instagram como o mais baixado no Brasil. Mas não era um app de ingressos, streaming ou delivery. Era o Hallow, uma plataforma de meditação e oração católica que já ultrapassou 22 milhões de downloads no mundo. A ascensão do app reflete um movimento maior: a digitalização da fé. Em um mercado global que já movimenta milhões de dólares por mês em assinaturas e conteúdos religiosos, a startup conseguiu se posicionar como líder do segmento e atrair investidores de peso, como Peter Thiel (primeiro investidor do Facebook) e J.D. Vance, o novo vice-presidente dos Estados Unidos.
Com um modelo baseado em assinaturas que custam R$ 200 ao ano, o Hallow registrou US$ 2,5 milhões em receita apenas em novembro, segundo dados da Appfigures. No Brasil, onde chegou há dois anos, já soma 4 milhões de downloads e aposta em conteúdos locais para engajar ainda mais usuários. “O Hallow não é apenas um app de oração. Ele combina espiritualidade e bem-estar, trazendo ferramentas que ajudam na rotina e no equilíbrio mental”, diz Stephany Ibrahim, General Manager da empresa no país.
Para isso, o aplicativo oferece orações guiadas, trilhas sonoras para concentração e desafios de meditação, além de parcerias com nomes como Michel Teló, Prof. Felipe Aquino e Padre Reginaldo Manzotti.
O sucesso do Hallow não é um caso isolado. Aplicativos religiosos estão crescendo no Vale do Silício, com serviços que vão de chatbots de aconselhamento espiritual a transmissões de cultos online.
Nos EUA, a chamada "Christian Tech" já movimenta um mercado milionário. O Hallow, por exemplo, viralizou no país com campanhas estreladas por Mark Wahlberg, que também tem participação na empresa. No Brasil, a startup enxerga um potencial ainda maior. “O país tem 120 milhões de católicos e um dos maiores engajamentos digitais do mundo. Essa combinação é única”, diz Stephany.
Esse engajamento se reflete nos números. O app dispara em downloads durante datas religiosas importantes, como Quaresma e Natal. Em 2023, foi o mais baixado na quarta-feira de cinzas, impulsionado pelo interesse crescente em práticas espirituais digitais.
Apesar de usar tecnologia avançada para personalizar a experiência do usuário, o Hallow mantém uma barreira para a IA generativa. Enquanto alguns apps experimentam chatbots que simulam santos ou "confissões digitais", a empresa optou por manter a voz humana no centro da experiência.
“A oração é uma conexão humana. Antes de gravar, nossos narradores fazem uma oração pelo ouvinte. Isso nenhuma IA pode substituir”, afirma Stephany. Ao mesmo tempo, o app usa machine learning para entender padrões de uso e oferecer recomendações personalizadas, além de testar novas ferramentas para engajar usuários em diferentes estágios de sua jornada espiritual.
Com US$ 105 milhões levantados e um modelo de negócios baseado em assinaturas, o Hallow agora mira novas frentes de expansão. Entre as possibilidades, estão parcerias institucionais, novos conteúdos licenciados e recursos interativos, como Bíblias digitais e desafios religiosos.
Há também desafios regulatórios que podem afetar sua expansão internacional. O aplicativo, que já foi proibido na China, agora enfrenta barreiras na União Europeia (UE) devido a novas exigências sobre transparência de dados e moderação de conteúdo.
Alex Jones: CEO e fundador do Hallow
O fundador, Alex Jones, afirma que as regras impõem um “fardo regulatório avassalador” e podem tornar inviável a operação na região. A legislação europeia exige que plataformas digitais forneçam relatórios detalhados sobre a atividade dos usuários, algo que pode ser ainda mais complexo para um app que lida com dados religiosos, classificados como sensíveis pelas normas de proteção de privacidade.
A situação acendeu um alerta entre grupos de defesa da liberdade religiosa. A Alliance Defending Freedom (ADF) International, organização jurídica focada em direitos humanos, entrou no caso e pode levar o tema aos tribunais. O receio é de que, se o Hallow for obrigado a encerrar suas operações na UE, isso crie um precedente perigoso para igrejas, instituições de caridade e outras plataformas - tornando a missão de alcançar seus fiéis e um verdadeiro negócio de fé.