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Com visão contra o consenso, Absolute é a gestora do ano

Absolute Investimentos acredita que as bolsas americanas continuarão surpreendendo neste ano

Fabiano Rios:  ”As empresas estão bem e a inflação caindo é o melhor cenário para os preços dos ativos“ (Leandro Fonseca/Exame)

Fabiano Rios: ”As empresas estão bem e a inflação caindo é o melhor cenário para os preços dos ativos“ (Leandro Fonseca/Exame)

Publicado em 23 de fevereiro de 2024 às 06h00.

O diferencial da Absolute em 2023 foi que o Fed não deixaria os EUA entrarem em uma recessão. Naquele momento, o que indicava isso?

Fabiano Rios: Para tentar evitar uma recessão, o Fed estaria disposto a aguardar mais tempo para a inflação convergir para a meta. Acertamos a direção, mas não a magnitude. Essa volta da inflação foi mais rápida e com uma economia muito mais forte do que esperávamos.

No ano passado tivemos fortes altas nas bolsas americanas. Todo esse movimento já foi precificado?

Rios: Acreditávamos que, com a economia forte, os lucros continuariam surpreendendo para cima e, com a convergência das expectativas de inflação, poderia haver uma expansão de múltiplos. Acreditamos que isso ainda vai acontecer. A bolsa subiu, mas, em grande parte, por expansão de lucros.

Mesmo sem os lucros crescerem neste ano, pode haver espaço para as bolsas subirem mais?

Rios: Mas os lucros vão crescer neste ano e, de novo, deverão surpreender o mercado. Os números do último trimestre que saíram já foram nessa direção.

Então, tem muito espaço para a bolsa subir lá fora?

Rios: Eu acho que tem. Essa é uma visão fora do consenso, de que a bolsa está cara. Nós discordamos dessa visão.

A inteligência artificial continuará sendo o tema do momento?

Rios: Gosto de traçar um paralelo com os anos 1990, que marcaram a saída de um período inflacionário. Foi uma época de desemprego relativamente baixo, crescimento forte, e tinha a questão tecnológica aparecendo, que era a internet. A economia crescia acima do esperado e a inflação não vinha. Acho que estamos entrando em um momento similar e isso me deixa otimista. A IA fará o papel de aumento de produtividade. Não consigo ver um cenário melhor para ações, especialmente para as americanas.

Além da posição na bolsa americana, qual outra relevante vocês têm?

Rios: Estamos vendidos no renminbi [moeda chinesa] contra dólar. É uma posição pessimista, que serve de proteção para a posição comprada em bolsa, e ainda tem um carrego positivo. Se ficar no mesmo preço, ainda dá para ganhar dinheiro.

A perspectiva é negativa para a economia chinesa?

Rios: Não vejo nada para que o renminbi se valorize. A economia está indo mal, e ainda existe o diferencial de juros com os Estados Unidos, já que o juro chinês está muito baixo e ainda tem possíveis gatilhos de desvalorização. Há a possibilidade de piora da guerra comercial, e as restrições americanas estão fazendo o dinheiro estrangeiro sair da China.

Isso pode ter efeitos negativos sobre a economia brasileira, dado que a China é nosso principal parceiro comercial?

Rios: Para a economia brasileira isso tem dois efeitos. Um é que os produtos chineses estão chegando mais baratos, porque não estão com demanda interna e dos Estados Unidos. Isso ajuda a manter a nossa inflação baixa. O outro seria o impacto no mercado de commodities, mas isso não tem se refletido nos preços. Para a bolsa, acho que é neutro.

Como a Absolute está vendo a economia hoje?

Rios: A economia está muito bem, assim como as empresas, enquanto a inflação deverá seguir surpreendendo para baixo. É o melhor cenário possível para preços de ativos. Seguimos otimistas. Ainda há espaço para expansão de múltiplos na bolsa americana, porque os fundos estão com portfólios bem mais conservadores que o usual. Estamos no início de um ciclo de tomada de risco. Como em todo início de ciclo, deverá haver a valorização dos ativos até um ponto em que vão ficar caros. Mas acho que ainda estamos longe disso.

Essa tomada de risco deve se refletir no câmbio, com moedas emergentes valorizando diante do dólar ?

Rios: Como eu acho que a economia americana segue surpreendendo muito positivamente, acredito que há uma chance razoável de o dólar seguir forte.

Mesmo com a queda de juros?

Rios: Sim, porque o que importa é o diferencial. No Brasil, por exemplo, estamos cortando o juro há um bom tempo. Então, o diferencial de juros está diminuindo. Acho que isso vai acontecer em outras partes do mundo, como na Europa. Vejo a economia europeia aumentando seu diferencial de juros em relação aos Estados Unidos, o que deve se traduzir em um dólar forte contra o euro.

Tem alguma posição direcional com o real?

Rios: Não, estamos neutros.

Para a bolsa brasileira a perspectiva também é otimista?

Rios: Acho que a bolsa brasileira é muito caso a caso. Não vejo um fluxo generalizado para a bolsa. Então, é importante ter a análise micro das empresas. Gostamos de alguns setores, como regulados e ­shoppings. Não acho que a bolsa chegará a 150.000 pontos. Será mais comedido.

De que forma a gestão da Absolute como empresa contribuiu para a boa performance dos fundos?

Tiago Sant’Anna: Tentamos ter uma boa estrutura gerencial para deixar os gestores focados em gerir os fundos, e não a empresa. Esse é um pecado capital de muitas gestoras, em que o modelo de negócios tira muito a atenção dos gestores da função principal, que é gerir os fundos.

Tivemos dois anos de duros resgates na indústria de fundos. A perspectiva é mais otimista para este ano?

Sant’Anna: Com a queda de juros, vemos uma volta para ativos de risco e para produtos que possam oferecer mais retorno.

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