Revista Exame

Cafezinhos digitais e MVP para tudo: como a BHub atraiu R$ 180 milhões e expandiu 5 vezes em 1 ano

Para reduzir custos, a plataforma de gestão para PMEs criou rotinas de testes constantes de novos produtos e serviços; resultado foi um crescimento na receita e interesse de fundos como Monashees e DST

Jorge Vargas Neto, CEO e fundador da BHub: MVPs estruturados e baixa queima de capital (Leandro Fonseca/Exame)

Jorge Vargas Neto, CEO e fundador da BHub: MVPs estruturados e baixa queima de capital (Leandro Fonseca/Exame)

Maria Clara Dias
Maria Clara Dias

Repórter de Negócios e PME

Publicado em 20 de abril de 2023 às 06h00.

Última atualização em 24 de abril de 2023 às 15h05.

A ideia de um negócio de tecnologia queimando caixa por meses e anos a fio até mostrar de fato a que veio provoca arrepios no empreendedor Jorge Vargas Neto. Em duas décadas no universo das startups (Vargas Neto esteve à frente das empresas de crédito Biva e Zen Finance, vendidas para ­PagSeguro e Rappi, respectivamente), ele viu muito dinheiro sendo investido em negócios bonitos no PowerPoint, mas pouco viáveis na prática. O olhar atento à falência de startups outrora tidas como promissoras fez dele um obcecado pela ideia da sustentabilidade de uma startup no longo prazo.

O que faz a BHub

Em boa medida, a resposta para chegar lá passa por um cuidado extremo com o dinheiro alocado para investimentos. É esse o norte adotado por Vargas Neto para a gestão da BHub, startup fundada por ele em 2021 para auxiliar pequenas e médias empresas a cuidar de tarefas fora do essencial às vendas.

Na lista estão processos como a organização da folha de pagamentos de funcionários e a assessoria jurídica para contratos (de maneira paralegal), num modelo de negócios apelidado por Vargas Neto como “back office as a service”.

O ponto de partida da BHub foram “cafezinhos digitais” marcados por Vargas Neto com empreendedores às voltas com os percalços trazidos pelo home office ao dia a dia das empresas. Desde o primeiro momento, a ideia foi anotar as dores relatadas nos encontros.

Na sequência, montar soluções para elas e chamar todo mundo para testar a novidade, seguindo o preceito de começar um negócio com algum mínimo produto viável — ou MVP, conceito evangelizado pelo investidor americano Eric Ries, famoso globalmente pelo best-seller A Startup Enxuta, de 2011. “Nosso primeiro MVP foi uma solução para o pagamento do ingresso ao cafezinho digital via Pix”, diz. “Dali nasceu nosso product market fit.”

Como a escuta ativa ajudou a empresa

A prática de só colocar um produto no mercado após a escuta ativa dos públicos potenciais foi uma constante na montagem das dezenas de soluções no portfólio atual da BHub.

“O propósito de todo teste que fizemos nos últimos meses foi encontrar maneiras de gastar o mínimo possível para comprovar a tese de que há mercado e possibilidade de tirar algo do papel”, diz.

A mentalidade que une criatividade com gastos sob controle ajudou a BHub a navegar os altos e baixos das startups nos últimos dois anos. Quando o capital estava jorrando solto, a empresa aproveitou para captar mirando o longo prazo. Em setembro do ano passado, a BHub recebeu 40 milhões de reais numa extensão de uma rodada série A anunciada no fim de 2021 e ancorada por fundos globais, como o DST.

No total, a BHub captou 180 milhões de reais desde a fundação. Desse total, 80% seguem no caixa da companhia.

Para onde vai a BHub

Em tempos de crédito caro e aversão ao risco, as empresas capazes de inovar sem sangrar a tesouraria do negócio estão em voga entre investidores. “A inovação custa caro, sim, mas, quando bem pensada e com resultados visíveis, naturalmente consome menos capital”, diz Renato Ramalho, CEO do fundo de venture capital KPTL.

Embora não revele números de faturamento, Vargas Neto garante que os resultados estão vindo também nessa frente. Em 2022, as receitas da BHub multiplicaram-se por cinco na comparação com o ano anterior. Neste ano, devem crescer seis vezes. Em meio às ondas de demissão em startups, a BHub segue contratando. De 2021 para cá, o time saltou de 46 para 140 funcionários.

Em 2023, o foco são parcerias com escritórios de contabilidade com foco em PMEs — a ideia é eles servirem de canal de vendas dos serviços da BHub. “Estamos fazendo em dois anos o que a maioria das empresas leva cinco ou mais”, diz ele.

“Isso é resultado de uma estratégia pé no chão e de um fundador neurótico com o risco como eu sou.”


BHUB

O que faz: mantém uma plataforma para gestão de funções operacionais de empresas de pequeno e médio porte

Como driblou a crise: para reduzir custos operacionais, criou rotinas de testes constantes de novos produtos e serviços

O resultado: expandiu a receita em cinco vezes e ampliou o time em 100 pessoas desde 2021

180 milhões de reais captou a BHub de investidores como Monashees e Norte Ventures desde 2021

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