Revista Exame

O que causa insônia no RH

A falta de preparo da liderança adoece pessoas e empresas e se transformou num grande pesadelo corporativo

A liderança não é sobre ser uma fortaleza. Liderança é sobre ser humano (Richard Drury/Getty Images)

A liderança não é sobre ser uma fortaleza. Liderança é sobre ser humano (Richard Drury/Getty Images)

Adriano Lima
Adriano Lima

Autor do livro "Você em Ação"

Publicado em 22 de agosto de 2024 às 06h00.

Para muitos gestores de RH, atualmente, não é preciso ter um vampiro na empresa para criar um ambiente de terror e fazer com que passe as noites em claro. O problema está em como “desterrorizar” algumas criaturas já existentes e não deixar que a zona de conforto e os velhos paradigmas invadam. Em resumo, é preciso transformar gestores em líderes inspiradores.

E por que falar em tirar o sono e liderança? Porque percebi que esses temas têm uma ligação estreita na vida do profissional de RH. Há pouco tempo, conduzi um estudo com 117 executivas(os) de RH do Brasil sobre o que mais tira o sono desses profissionais. Levando em conta que a pandemia fez com que as empresas avançassem inúmeras casas no jogo de tabuleiro da transformação digital, entender o que passaria a ser os principais pontos de atenção do RH é algo crucial para quem quer se sobressair.

Numa lista com dez sugestões de possíveis “monstros”, cada entrevistado pôde escolher três, e o resultado apontou para dois temas que caminham lado a lado: falamos da falta de uma liderança preparada para os desafios atuais e futuros da empresa (76,9%) e da preocupação crescente com a saúde mental (46,5%).

Antes de nos debruçarmos sobre eles, vale a pena falar sobre por que é bom dormir bem. Dormir bem é como dar um upgrade no seu cérebro, transformando-o em uma verdadeira máquina de aprendizado e memória. Ao cairmos nos braços de Morfeu, nosso cérebro se transforma em um supercomputador, criando novas conexões e guardando informações preciosas que vão nos ajudar a tomar algumas decisões. É como receber uma dose mágica de inspiração e clareza mental. Mas cuidado: se você decidir se aventurar no mundo da insônia, prepare-se para um festival de distração e estresse, com a concentração dando um olé e a paciência saindo de férias.

O sono é o verdadeiro guardião do nosso equilíbrio emocional. Dormir bem ajuda a regular as emoções, pois é também no momento do sono profundo e revigorante que o cérebro faz uma verdadeira faxina emocional, processando as experiências do dia e deixando você pronto para enfrentar o mundo no dia seguinte ao chegar à empresa. Ou seja, muito mais do que uma figura de linguagem, “tirar o sono” interfere diretamente na qualidade de vida dos colaboradores.

Como o tema saúde emocional ganhou mais destaque no período de pandemia e pós, vale a pena imaginar, dentre os vários fatores estressantes deste novo mundo do trabalho, qual pode ter mais impacto na geração de um ambiente psicologicamente saudável na organização. E a resposta é a liderança, sim!

Os líderes sempre ganham papel de destaque, seja qual for a época, seja a transformação por que passa uma empresa. A questão é o que essa época e essa mudança demandam de cada um deles. Em um ambiente incerto, muitas vezes de suspense, como aqueles dos filmes de terror, é impossível antever cenários. Na pandemia, as empresas tiveram de mudar o modelo de trabalho da noite para o dia, sem esperar por isso. E o que imaginar em um mundo “phygital” (“físico e digital”) do trabalho e do mercado?

Algumas coisas ainda se mantêm certas dentro das empresas. Por exemplo, de acordo com o levantamento da Amcham em parceria com a consultoria Humanizadas, 73% dos quase 800 executivos ouvidos para a Pesquisa Panorama Liderança afirmaram que a principal prioridade em 2024 é aumentar a produtividade.

Resultado nunca é demais, não? Faz parte, mas talvez fosse o caso de pensar em resultado como consequência, e não como meta. Provavelmente dessa maneira será possível entender o novo papel da vez dos líderes. Há mudanças em curso, e muitas empresas ainda não se deram conta. E podem tomar um grande susto quando derem de cara com elas.

Qual seria a nova liderança para uma nova era de organizações prósperas? Pensando nesse tema, uma equipe da McKinsey resolveu listar as cinco principais mudanças na liderança que podem desencadear uma nova era de crescimento sustentável e inclusivo para empresas que buscam se superar em tempos de disrupção.

De forma bem reduzida, podemos dizer que devemos sair de “gestores” que entregam “resultados” para “visionários” que geram “impactos para todos os stakeholders”; de “planejadores” num cenário de “escassez” para “arquitetos” em um mundo de “abundância”.

Todas essas mudanças acontecem de uma forma ou de outra dentro das empresas e na carreira de cada um. É preciso um momento de reflexão para entender como elas se dão em nosso dia a dia corporativo. Pode parecer paradoxal, mas o novo líder é aquele que não se deixa transformar em um ser dotado de milhares de poderes sobrenaturais, capaz de salvar o mundo.

A principal mudança é admitir ter coragem para assistir a um filme de terror ou para dizer que não gosta por sentir medo e não dormir bem à noite em razão disso. A liderança não é sobre ser perfeito ou um exemplo de fortaleza para todos. Liderança é sobre ser humano. Ser quem você é. No passado, as empresas pecaram em transformar bons técnicos em líderes, desviando a natureza e o talento de muitos. Muitas jogaram aos leões profissionais despreparados para a função, armados apenas com chavões aprendidos em rápidos cursos de preparação.

A nova liderança já vem sendo trabalhada e forjada em meio a tantas mudanças. Vulnerabilidade, autenticidade, proximidade, confiança e inspiração. Essas são as armas que sempre estiveram presentes para o líder, mas que foram trocadas por cruzes, balas de prata, réstias de alho para afugentar os monstros corporativos.

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