Revista Exame

A aposta certeira da AZ Quest

Com foco em diversificação e controle de risco, a gestora chegou a 37 bilhões de reais sob gestão em um ano desafiador

Walter Maciel, CEO da AZ Quest: estratégia em fundos alternativos fez a asset crescer 50% no ano passado (Leandro Fonseca/Exame)

Walter Maciel, CEO da AZ Quest: estratégia em fundos alternativos fez a asset crescer 50% no ano passado (Leandro Fonseca/Exame)

Karla Mamona
Karla Mamona

Editora de Finanças

Publicado em 14 de fevereiro de 2025 às 06h00.

Última atualização em 14 de fevereiro de 2025 às 14h32.

Foi de um tombo histórico pós-crise global de 2008 que a AZ Quest, gestora independente, reajustou a rota e passou a focar a estratégia que a consagrou como uma das duas Assets do ano no prêmio Melhores do Mercado de 2025: diversificação e pulverização do passivo.

Fundada em 2001 por Luiz Carlos Mendonça de Barros, a gestora nasceu com olhar voltado para a estratégia macro, mas, para permanecer no mercado diante de uma mudança de apetite por risco, entendeu que precisaria de mais. Isso porque, na crise de 2008, a AZ Quest viu seus recursos sob gestão passarem de 3,5 bilhões para 550 milhões de reais. “Perdemos 90% do patrimônio em seis meses porque quatro caras tinham nosso dinheiro. É do jogo, mas aprendemos”, diz Walter Maciel, CEO da AZ Quest.

Hoje, a estratégia de investimentos está fundamentada em três pilares: não depender de um único cliente, nem de apenas um produto, nem de uma só pessoa, o que Maciel chama de “gestor místico”. “Criamos uma empresa diferente. O trabalho coletivo é muito importante. Não importa quem entre ou quem saia, o controle de risco é o mesmo. A estética do produto é a mesma. Temos uma maneira de fazer as coisas.”

Nos últimos 17 anos, a AZ Quest focou a pulverização do passivo, de modo a evitar a concentração e minimizar a volatilidade do volume de recursos sob gestão. A gestora, que tem 140 fundos, diversificou suas fontes de captação por meio de fundo de pensão, com multi-family office e agentes autônomos. Também diversificou nas classes de ativos, que passam pela estratégia macro, renda fixa, renda variável e crédito privado. “Hoje, os nossos produtos estão disponíveis em praticamente todas as plataformas digitais, em todas as prateleiras dos grandes bancos, tanto via fundos exclusivos quanto abertos ao público. Também temos diversas estratégias disponíveis em quase todas as plataformas de previdência privada.”

Na diversificação, apostar em ativos alternativos (nos segmentos de infraestrutura, agronegócio e real estate) se mostrou certeiro. A AZ Quest estreou nesse segmento em dezembro de 2022 e, de lá para cá, já lançou quatro fundos. Em dois anos, a gestora cresceu 3 bilhões de reais com esses ativos. “O dinheiro vindo do alternativo é perpétuo. Nunca sai da empresa porque não há resgate.” No ano passado, todos os ativos sob gestão aumentaram em 12 bilhões de reais. Com isso, a asset terminou o ano com 37 bilhões de reais. Confira a seguir a entrevista com Walter Maciel.

O ano de 2025 começa com uma desconfiança da indústria de fundos em relação ao governo. Existe algo que possa ser feito para reverter essa situação?

No ano passado, a indústria inteira se frustrou ao apostar no arcabouço fiscal, ou seja, a favor do governo. Hoje, está todo mundo com medo. O governo precisa dar um sinal crível de controle da dívida pública. Basta mostrar que ela parou de subir e que, nos próximos cinco anos, vai cair. Nesse cenário, o mercado de juros futuros desabaria, e o dólar cairia. Se o governo fizer uma mudança de 180 graus agora, as coisas mudam imediatamente. É por isso que o mercado fica perplexo: ainda dá tempo, e há como fazer. Hoje, o único problema do Brasil é o risco fiscal.

Qual é a perspectiva da AZ Quest para o cenário de investimentos?

Olhando para a bolsa, temos as ações mais baratas desde a eleição de 2002. O problema é que não há nenhum gatilho que impulsione o mercado. A perspectiva de mudança depende do fiscal. Às vezes, o juro nominal é alto, mas a inflação também. Quando o juro real é baixo, é melhor ficar em equities. Mas, se estou falando de juro real de 9%, e ainda no mercado alternativo tenho ativos de alta qualidade negociando no secundário, a bolsa deve continuar de lado. A bolsa só vai mudar se houver um gatilho, o que parece ser uma alternância de poder em 2026. Boas oportunidades estão em fundos alternativos, que têm rendimento isento, e em crédito privado. Há boas oportunidades em papéis Triple A, Double A, Single A. Já para fundos high yield, o momento não é favorável.

E qual é a sua perspectiva para a bolsa americana?

A bolsa americana deve explodir, ainda mais do que no ano passado. Ela deve continuar subindo, e a percepção é de que ainda há espaço para valorização. Mas o movimento será mais forte no setor produtivo [Main Street] do que no setor financeiro [Wall Street]. Sobre DeepSeek, não sou especialista, mas minha percepção é de que não muda nada. A DeepSeek depende da infraestrutura americana e atua em um setor que já está em processo de disrupção, com múltiplos extremamente altos justificados pelo impacto esperado dessas mudanças. No entanto, esse segmento é altamente exposto. Se surgir algo mais inovador, capaz de demonstrar que os trilhões de dólares investidos podem ser desperdiçados, poderemos ver uma grande correção de múltiplos. Dito isso, nada parece impedir o crescimento das Sete Magníficas, que continuam sendo casos de sucesso global. No entanto, dado o valuation elevado, a relação risco-retorno parece mais favorável em índices como o Russell 2000 e o Dow -Jones, que apresentam múltiplos mais atrativos.

Além do setor produtivo, apostaria em mais algum segmento nos Estados Unidos?

Com Trump no governo, a economia americana deve acelerar, e os investidores já estão se posicionando para esse cenário. Trump deve governar com foco no crescimento doméstico, impulsionando setores tradicionais, numa espécie de “nova era de ouro” do “Make America Great Again”. Se esse cenário se confirmar, empresas convencionais devem se beneficiar. Diante disso, não apostaria contra os gigantes de tecnologia, mas o Russell 2000 e o Dow Jones parecem opções mais racionais. Esses índices possuem múltiplos mais baixos, o que reduz a vulnerabilidade a correções bruscas, como a perda de 500 bilhões de dólares que algumas empresas enfrentaram recentemente. No longo prazo, a tendência nesses segmentos é de valorização.

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