De gênero indefinido ao verdadeiro sucesso: qual o segredo de Succession?
Não é novidade que as séries da HBO, em geral, tenham um nível elevado de qualidade. Claro, nem sempre o estúdio acerta, mas é curioso o fato de que boa parte de seus seriados sejam reconhecidos e agraciados pelas principais premiações do entretenimento. Succession, de Jesse Armstrong, é o perfeito exemplo: levou estatuetas de prêmios como Emmy, Bafta, Globo de Ouro, Critics' Choice Television Awards e vários outros, contando a história quase nada atrativa de uma família disfuncional de bilionários.
Rumo à quarta e última temporada, além de receber o prêmio como Melhor Série de Drama no Emmy Awards em 2019, 2020 e 2022, Succession também registrou seu recorde de audiência no último episódio da terceira temporada. Foram, ao todo, 1,7 milhões de espectadores, somando todas as plataformas — transmissão na TV linear e streaming — só nos Estados Unidos.
Mas todo esse sucesso é um tanto quanto curioso no sentido da fama e excelência que alcançou. À primeira vista, a história não cativa: o enredo é focado na Waystar Royco, uma empresa de mídia gigantesca controlada por Logan Roy (Brian Cox), de 80 anos, e seus quatro filhos: Connor (Alan Ruck), Kendall (Jeremy Strong), Siobhan (Sarah Snook) e Romulus "Roman" (Kieran Culkin). Bilionários e à espreita de um novo sucessor, eles se apresentam em uma relação disfuncional e arisca desde o primeiro episódio.
O problema é que toda essa apresentação não é tão bem explicada ao espectador. A sinopse diz muito pouco sobre a trama e, logo nos primeiros minutos, o público entra no universo da família Roy de supetão: a série não apresenta cada um dos personagens, suas funções, trabalhos ou mesmo qual é o caminho que a série levará. E mesmo assim, é impossível não se perguntar o que acontece com o futuro da empresa e da família assim que o primeiro episódio acaba.
Depois do choque inicial, cada capítulo de Succession consegue ser mais envolvente que o anterior. Mais do que jogar o público no conturbado relacionamento entre os Roy e no jogo de negócios e aquisições, a série também reflete, em uma gloriosa fotografia, todo o glamour da vida dos verdadeiros bilionários - e seus problemas e vivências se misturam ao enredo.
Tudo isso se soma ao fato de que, apesar de atribuída à categoria das séries de drama, na verdade não tem muito bem um gênero definido: há, sim, drama em toda a história, assim como comédia.
Protagonismo multifacetado
São muitos os fatores que diferenciam Succession de outras séries sobre negócios, ambientes corporativos e bilionários. O humor ácido do enquadramento, a fotografia luxuosa, os conflitos familiares, românticos e até mesmo a trilha sonora são exemplos disso. Mas o que de fato surpreende no roteiro de Armstrong é a construção dos personagens: um a um, é possível lê-los e, à sua maneira, todos têm seu grau de importância dentro de uma série que prefere não estabelecer seus protagonistas.
Evidentemente, a figura central está em Logan Roy, mas seu protagonismo é tão disputado pelos filhos quanto a sucessão da empresa. Em entrevista exclusiva à EXAME, Brian Cox, que interpreta o magnata, disse acredita que fama de Succession está justamente na composição dos personagens secundários. "Eu gosto da construção dos personagens, é intrigante. Escolher um favorito é um trabalho duro, como escolher um filho favorito, se é que me entende [risos]. Mas os 'secundários' são muito interessantes, constroem a série", disse o ator. "Minha favorita de toda a série é a Jerry, ela é muito interessante porque é trabalhadora, e é a pessoa que tenta manter tudo funcionando. E nem está dentro do núcleo familiar", completou.
Já dentro da família Roy, Brian considera Shiv como uma das favoritas. "Para ser sincero, eu nem sei como definir o meu 'filho favorito'. Mas Siobhan foi inicialmente a que eu mais gostei, porque ela vai desapontando a audiência ao longo do seriado, tem uma moral questionável. Mas eu tenho uma imensa empatia por ela, porque é uma personagem maravilhosamente complexa", acrescenta o artista.
Esse trabalho intenso e bastante focado nos personagens, na visão de Brian, também faz com que a série tenha ganhado tantos prêmios ao longo dos cinco anos. Para a quarta temporada, no entanto, ele acredita que independente de indicações ou estatuetas, o final de Succession impressionará pela qualidade.
"Acredito que Succession não é tão grandioso assim porque ganhou indicações e estatuetas. Quero dizer, não é isso que me interessa. É bom receber uma recompensa, claro, mas eu prefiro entregar um ótimo trabalho do que receber prêmio, para ser honesto com você. Isso é mais importante para mim", disse o ator.
Um reinado e seu magnata: a dinâmica por trás de Logan Roy
Para a montagem de Logan Roy em específico, Brian Cox teve que se adaptar à ideia de viver um personagem duro, grosso e, ao mesmo tempo, pai de quatro filhos. A graça do magnata é a dúvida que ele próprio planta na cabeça do público: aos 80 anos, o CEO da Waystar Roy é realmente um Às dos negócios ou está velho demais para perceber seus deslizes?
A mente de Logan é difícil de compreender — e ele próprio também é um personagem difícil de engolir. A construção do protagonista, diz Brian, veio muito do fato de destrinchar uma sátira dos grandes bilionários do mundo atual. "Todo o show é uma sátira, e uma sátira sobre títulos. E todos os problemas que vimos, você sabe, com a família Trump com o murdoches Conrad Black... Todo mundo pensa que é sobre o assassinato. Portanto, não é realmente sobre o assassinato. É sobre uma família", destacou. "A grande diferença entre, por exemplo, Logan e todos esses outros caras é que o Logan se construiu sozinh, ele surgiu do nada, é um cara misterioso que também é o cara mais interessante do planeta. E fazê-lo é complexo", concluiu o artista.
Na última temporada, Brian disse que o paradeiro de Logan surpreenderá o público. "Não posso te contar absolutamente nada. Mas fizemos um ótimo trabalho com os últimos episódios, e isso vai ficar visível".
Succession estreia no dia 26 de março, às 22h, por meio dos canais da HBO e o streaming HBO Max. A quarta temporada terá 10 episódios, lançados semanalmente até o dia 29 de maio. A entrevista completa de Brian Cox pode ser conferida na próxima edição da Revista EXAME, em abril.
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Créditos
Luiza Vilela
Repórter de POP
Formada em jornalismo pela PUC-SP e cursa pós-graduação em Gestão da Indústria Cinematográfica pela FAAP. Trabalhou para Record TV, Revista Consumidor Moderno e outros veículos de cultura brasileiros. Escreve sobre cinema e streaming.