Pop

Para Wagner Moura, o cinema traz sensações, mas o streaming dissemina a cultura

Em entrevista à EXAME, ator ressaltou a importância do streaming e defendeu a importância do cinema como espaço único de experiência

Wagner Moura: ator estrela em Guerra Civil nesta quinta-feira, 18.

Wagner Moura: ator estrela em Guerra Civil nesta quinta-feira, 18.

Luiza Vilela
Luiza Vilela

Repórter de POP

Publicado em 18 de abril de 2024 às 10h46.

Última atualização em 19 de abril de 2024 às 18h15.

Tudo sobreCinema
Saiba mais

Para Wagner Moura, que estreia nesta quinta-feira, 18, em "Guerra Civil", da prestigiada produtora A24, o valor da experiência de ir ao cinema virou uma questão de princípio. Vai do crivo do público de escolher filmes que valem a pena o valor do ingresso, seja pela própria experiência, seja pela temática do filme.

"Sendo realista e sincero, tem filmes que eu prefiro ver em casa. Outros eu acho fundamental ver no cinema. Falando dos que eu participei, "Guerra Civil", por exemplo, é um filme que eu recomendo que as pessoas vão assistir no cinema, tem um impacto ver na tela grande. "Marighella" é outro que eu também veria no cinema, porque é uma experiência diferente, um assunto muito importante", explica o ator em entrevista à EXAME. "Entendo a importância do streaming, mas o cinema ainda traz sensações que você não consegue vendo um filme em casa".

Cidadãos têm a obrigação de resistir às ditaduras, diz Wagner Moura

O ator brasileiro mais bem sucedido internacionalmente respondeu uma pergunta da EXAME sobre o futuro do cinema num mundo dominado pelo TikTok. O contexto é conhecido.

Da última década para cá, o mercado da indústria cinematográfica mudou muito. É um fato consolidado que fica evidente nas bilheterias: se antes as pessoas envolviam o cinema na rotina como um destino frequente, porque era o único caminho de conferir um novo título em um intervalo de tempo longo, até que ele chegasse às locadoras, hoje, o público é mais criterioso. Para sair de casa, o ingresso precisa compensar o gasto com o streaming.

Grandes "culpadas" dessa desaceleração, as plataformas digitais inflaram depois da ascensão da Netflix, em 2013. A assinatura chacoalhou o mercado não só pelo formato — a comodidade de assistir de onde quiser e quando quiser, moldando o consumo do audiovisual à rotina do usuário, e não o contrário —, mas também porque foi, aos poucos, diminuindo o "gap" entre a saída de um filme do cinema até a chegada no streaming. O que antes poderia demorar mais de seis meses, hoje, leva poucas semanas.

Ator Wagner Moura na pré-estreia do filme Guerra Civil (Leandro Fonseca/Exame)

A pandemia deu dois preços em uma moeda

Com quase dois anos de salas vazias pela pandemia de covid-19, o cinema travou uma batalha por sobrevivência  ao mesmo tempo em que assistiu o streaming viver um de seus momentos de maior ascensão. A Netflix, maior entre as plataformas, passou dos 200 milhões de usuários em 2020. O Disney+, lançado um ano antes, fechou o ano da pandemia com 95 milhões de assinantes.

Um estudo da Kantar Ibope Media mostra que houve aumento de 68% no acesso às plataformas de streaming gratuitas e de 58% nas pagas. O número de novos assinantes chegou aos 26%, um total de 232 milhões de novas contas, assim como o aumento da receita, que subiu 34%, com arrecadação de US$ 14,3 bilhões.

O cinema foi atividade cultural presencial que mais perdeu público após a pandemia, segundo dados do Datafolha de 2022. Só 26% das pessoas foram assistir a um filme naquele ano, sendo que ponto percentual equivale a 1,46 milhão de pessoas. A Pesquisa Global de Entretenimento e Mídia, realizada no início de 2021, estimou que a receita da sétima arte caiu 70% em todo o mundo.

"A pandemia deu um susto no cinema muito grande. Uma hora eu pensei 'Ninguém vai mas ao cinema depois disso' e graças a Deus tudo voltou ao normal, as pessoas voltaram a ir ao cinema, porque é isso, tem essa questão muito forte da experiência de vivenciar o filme", pontua Moura.

Para a indústria de Hollywood, o jeito de se reerguer foi justamente relembrar que ir ao cinema é uma experiência. Virou até slogan dos formatos que somente uma sala projetada pode oferecer: "você pode assistir um filme ou pode fazer parte dele", como diz o IMAX. 

Prova disso são os mais recentes sucessos de bilheteria, "Barbie" e "Oppenheimer", que protagonizaram, juntos, um retorno às salas de cinema recorde depois da pandemia. O filme da boneca ultrapassou os U$ 1,4 bilhão de faturamento, ao passo que o da bomba atômica atingiu U$ 953 milhões, puxados pela experiência de ir às salas vestido de rosa ou de preto.

Um estudo do BoxOfficeMojo, especializado na análise de bilheterias mundiais, mostra que entre 2019 e 2020 houve uma diminuição de quase 81% com relação à bilheteria mundial total. Se até 2019 o cinema faturava até U$ 11.8 bilhões, em 2022, o resultado caiu para U$ 7.3 bilhões.

Na última década, que acompanha a ascensão do streaming, sete filmes entraram para a lista das 10 maiores bilheterias do cinema. Deles, quatro ultrapassaram os U$ 2 bilhões em bilheteria. Em 2023, a Netflix registrou receita de U$ 33,72 bilhões.

'O streaming tem um papel importante'

Ainda que esteja engolindo a audiência do cinema, é inegável que o streaming abriu os horizontes do conteúdo audiovisual. Para Wagner Moura, uma coisa não anula a outra. O cinema fica com a experiência, mas o streaming abre mais espaço na indústria.

"Os streamings têm um papel importante na disseminação da cultura. Você pode conhecer o trabalho de muita gente, porque ele se tornou algo global, as coisas circulam muito mais. Uma coisa feita na Turquia chega aqui e a gente tem a possibilidade de assistir. O audiovisual sul-coreano, que bomba no mundo todo, é outro exemplo disso", comenta o ator.

No fim, independente dos números, a ascensão do streaming também se relacionada diretamente com o maior acesso à cultura por uma gama maior de pessoas. "É um caminho que é muito interessante para o consumo de cultura no mundo todo. Traz mais mercado para os atores trabalharem, mais consumo de entretenimento para quem assiste", finaliza.

Acompanhe tudo sobre:CinemaFilmesAtores e atrizesStreamingNetflix

Mais de Pop

Foccacia é italiana? Estudo sugere que prato não nasceu em Roma; entenda

Irmãos Menéndez voltam ao tribunal em meio à campanha por sua liberdade

Pamela Hayden, a voz de Milhouse em "Os Simpsons", se aposenta após 35 anos de dublagem

'Wicked' arrecada US$ 114 milhões no fim de semana e bate recorde