Confira a crítica completa de "Jogos Vorazes: A Cantiga dos Pássaros e das Serpentes" (Jogos Vorazes/ LionsGate/Divulgação)
Repórter de POP
Publicado em 14 de novembro de 2023 às 13h35.
Última atualização em 14 de novembro de 2023 às 23h23.
Por vezes me pego pensando naquela frase de Jean-Jacques Rousseau que todo mundo já ouviu na escola uma vez na vida: “O homem nasce bom e a sociedade o corrompe”. Significa, de certa forma, dizer que ninguém nasce nasce mau. E não sei bem se concordo com isso, mas tenho a plena certeza de que o novo filme da franquia dos Jogos Vorazes se propõe a debater esse tema.
"A Cantiga dos Pássaros e das Serpentes" estreia nos cinemas brasileiros nesta quarta-feira, 15, de feriado. Baseado no livro derivado da saga, escrito por Suzanne Collins, o longa tem direção de Francis Lawrence e elenco composto por Rachel Zagler, Hunter Schafer, Tom Blyth, Pinter Dinklage, Viola Davis, entre outros. E o corpo de artistas, aqui, é uma parte fundamental da composição desse filme, dividido em três atos. Devo dizer: ele surpreendeu bastante pela qualidade do enredo e atuação dos envolvidos.
Atrativo pela canção que baseia todos os demais filmes, "The Hanging Tree", o novo longa traz a história de Coriolanus Snow e sua ascensão ao poder na Capital, o "estado" mais forte de Panem (onde a história se passa). "A Cantiga dos Pássaros e das Serpentes" acontece 64 anos antes dos eventos com Katniss Everdeen (Jennifer Lawrence) e Peeta Mellark (Josh Hutcherson), quando Snow ainda era um simples estudante da Universidade da Capital, em uma jornada de ascensão após a guerra.
Mas será que vale a pena ver no cinema? Pela EXAME Pop, assisti ao filme com antecedência e trago para vocês minha análise crítica sobre "Jogos Vorazes: A Cantiga dos Pássaros e das Serpentes". Confira:
O novo filme da franquia, lançado quase dez anos após o lançamento do último, "Jogos Vorazes: A Esperança - Parte 2" (2015), chega aos cinemas com grandes pretensões, mas também com um enorme desafio de superar os preconceitos. O retorno das sagas — em tese já finalizadas — às telonas tem deixado muitos fãs insatisfeitos. Para eles, é como reciclar um material que já era bom sem muita necessidade, e torná-lo cansativo, repetitivo e sem a mesma qualidade dos filmes anteriores.
Felizmente, venho dizer que esse receio definitivamente não é concretizado em "Jogos Vorazes: A Cantiga dos Pássaros e das Serpentes". A prequel, na verdade, surpreende e muito pelo bom resultado de expansão do universo, além de amarrar algumas das pontas soltas deixadas nos quatro filmes anteriores. O destaque fica não só pela profundidade na história e personalidade de Snow — de sua infância à fase adulta em plena ascensão —, como também (e principalmente) pela bela atuação de Tom Blyth no papel.
O destaque para Blyth aqui é genuíno, porque trazer personagens conturbados às telas é sempre um desafio, convenhamos. A linha entre o psicopatismo e o cafona é bem tênue, e apresentar ao público uma personalidade como a de Snow em um universo particularmente injusto como Panem gera um tom de revolta logo de cara. Já conhecemos Snow, já sabemos o que ele é capaz de fazer. Ajuda mencionar, então, que a origem do personagem muda tudo nessa equação moralista que a gente carrega internamente quando diz que uma pessoa é boa ou ruim, sem conhecer bem tudo o que ela passou na vida.
A passagem de tempo, de fardo e também a interação com outros personagens e novas realidades constrói o Snow que conhecemos — e aqui vale um destaque para a brilhante atuação de Viola Davis no papel de Dra. Volumnia Gaul, que serve como uma espécia de guia ao protagonista. No entanto, por mais avessos às suas escolhas, é impossível não sentir por ele empatia em certos momentos.
Faz pensar se realmente todo mundo nasce bom e a sociedade que corrompe, ou se esse "mal" já vem "de fábrica" e fica ali, adormecido em algum lugar.
Atuação de Blyth a parte, a maior preciosidade de "Jogos Vorazes: A Cantiga dos Pássaros e das Serpentes" — que por si só já vale o preço do ingresso — está na interpretação que Viola Davis dá a Dra. Volumnia Gaul. Se nos primeiros quatro filmes é Snow a figura central que causa o asco e o medo no público, é mais do que lógico dizer que Davis, no papel de guia e mentora dele, é um carrasco muito pior de se engolir.
Esse é mais um papel que prova que a atriz, incluída na seleta lista de EGOTs (vencedora de Emmy, Grammy, Oscar e Tony) no mundo, torna em ouro quase tudo o que toca. A ascensão de Snow como o personagem que conhecemos nos primeiros quatro Jogos Vorazes não seria nada sem a presença de Dra. Volumnia Gaul — e Davis tratou de deixar isso muito bem marcado. Há tempos não via um vilão tão puramente ruim por natureza, capaz de usar a mente para fins tão absurdos.
São, ao todo, 2h45 minutos de filme que, ao meu ver, poderiam ter sido reduzidas. Duas horas e vinte (talvez até só duas), já seriam o suficiente para se aprofundar na história do vilão. No entanto, vale o destaque, apesar do tempo longo, dado à música na trama. Veja bem, colocar canções em um filme só por colocar é fácil, mas sejamos sinceros, não fica muito bom, não. A não ser que seja um musical, só que aí o propósito é totalmente diferente.
Quando vi que o novo filme teria um lado mais musical, confesso, fiquei um pouco temerosa. Muito porque todo o enredo dos Jogos Vorazes é, por si só, mais sombrio e pesaroso; portanto, encaixar a música nesse contexto poderia ser uma estratégia arriscada. E não vou dizer que, logo na primeira canção do filme, a música veio como natural à trama; na verdade, foi uma grande quebra de expectativas. Mas é preciso dizer que toda ela faz parte (e conduz) o longa do início ao fim, tão presente quanto os próprios personagens.
Contando atuação do elenco, roteiro e enredo, todos bem construídos, é válido dizer que "Jogos Vorazes: A Cantiga dos Pássaros e das Serpentes" vale o preço do ingresso. Tem lá seus problemas: é um pouco longo demais, faz uso de algumas referências bem clichês à própria saga, mas traz uma interessante abordagem da ascensão dos vilões em uma distopia.
A data de estreia do novo filme da franquia "Jogos Vorazes" está marcada para 15 de novembro.
O filme é indicado para maiores de 14 anos. O conteúdo contém menção a drogas e cenas de violência.
"A Cantiga dos Pássaros e das Serpentes" é protagonizado por Rachel Zegler e Tom Blyth. O elenco também conta com Viola Davis, Hunter Schaefer, Kjell Brutscheidt, Ashley Liao, Jason Schwartzman e Peter Dinklage.
Com o novo filme, a ordem cronológica dos filmes fica da seguinte maneira:
Recomenda-se, para melhor entendimento da trama, assistir na ordem de lançamento: