Negócios

Por que empresas como J&J, Toshiba e GE querem desmembrar seu império?

Conglomerados erguidos numa época em que ser grande era sinônimo de sucesso buscam enxugar estrutura, otimizar processos e agradar a acionistas num mercado cada vez mais competitivo

J&J: empresa revelou que pretende seguir o mesmo caminho que a GE. (NurPhoto / Colaborador/Getty Images)

J&J: empresa revelou que pretende seguir o mesmo caminho que a GE. (NurPhoto / Colaborador/Getty Images)

AO

Agência O Globo

Publicado em 12 de novembro de 2021 às 16h15.

Última atualização em 17 de novembro de 2021 às 10h08.

Em outras épocas, o mundo corporativo até podia acreditar na máxima do quanto maior, melhor. Mas isso vem mudando. Empresas que construíram verdadeiros impérios globais sentem a pressão para simplificar seus negócios na expectativa de aguçar seu foco, otimizar processos e agradar os acionistas. Só esta semana, três delas anunciaram planos para se dividir.

Na terça-feira, a General Eletric (GE) informou que iria fatiar a empresa em três para melhorar a gestão. Hoje, foi a vez da Johnson & Johnson e a Toshiba revelarem que pretendem seguir o mesmo caminho.

Cada empresa possui suas particularidades para justificar a decisão. Mas em comum, todas elas são companhias centenárias, oriundas de um tempo do capitalismo em que construir grandes impérios globais, com atuação nas mais diversas áreas, era sinônimo de sucesso e crescimento.

Agora, a tentativa de se fragmentar em várias unidades para otimizar esforços parece mais interessante a fim de enfrentar um contexto de mercado com forte concorrência e busca por inovação.

Mudança de paradigma

A Johnson & Johnson divulgou que vai se dividir em duas empresas de capital aberto. A empresa de 135 anos, que emprega mais de 136 mil pessoas, planeja separar sua divisão de produtos de consumo em um negócio à parte.

Isso deixaria a companhia com sua divisão de produtos farmacêuticos e médicos, que inclui a fabricação de vacinas contra o coronavírus e apresenta vendas de crescimento mais rápido e margens mais altas.

Mesmo com operações autônomas, as empresas continuarão enormes. A divisão médica deve registrar uma receita de US $ 77 bilhões este ano. E as operações de consumo - cujas raízes remontam à fundação da empresa em 1886 como fabricante de curativos cirúrgicos - devem gerar US $ 15 bilhões em vendas.

A Johnson & Johnson disse que planeja concluir a separação, que deve ser isenta de impostos para seus acionistas, em 18 a 24 meses.

E a empresa vem enfrentando problemas. Entre eles, estão milhares de processos legais de que seus produtos à base de talco podem ter causado câncer.

A Johnson & Johnson descontinuou as vendas de talco para bebês na América do Norte no ano passado, embora tenha afirmado que o produto é seguro. Em outubro, uma divisão que a empresa havia criado para administrar essas ações entrou com pedido de recuperação judicial.

 

 

Agradar os acionistas

Parte da pressão para o desmembramento vem dos próprios acionistas, que, muitas vezes, enxergam a burocracia presente nos grandes grupos como um obstáculo ao crescimento.

Foi o caso do conglomerado japonês Toshiba. O grupo traçou plano para se dividir em três empresas na tentativa de apaziguar os ânimos dos investidores, que pedem uma revisão radical da corporação após vários escândalos.

Fundada em 1875, a Toshiba planeja hospedar suas divisões de energia e infraestrutura em uma empresa, enquanto suas unidades de disco rígido e negócios de semicondutores de energia irão formar a espinha dorsal de outra.

Uma terceira companhia irá administrar a participação da Toshiba na empresa de chips de memória flash Kioxia Holdings e outros ativos.

No caso da Toshiba, o anúncio não deve agradar a todos.

Logotipo da Toshibano topo do edifício sede da companhia, no Japão. (Kim Kyung-Hoon/Reuters)

O plano, fruto de uma revisão estratégica de cinco meses realizada após um escândalo de governança corporativa, é parcialmente projetado para incentivar os acionistas que vem protestando contra as práticas do grupo a venderem suas participações, disseram fontes à agência de notícias Reuters.

O desmembramento, no entanto, vai de encontro aos apelos de alguns investidores para que o capital da Toshiba seja fechado. Alguns acionistas importantes disseram que podem contestar o plano.

O comitê de revisão estratégica da Toshiba afirmou que a ideia de fechar o capital da empresa levantou preocupações internas sobre o impacto em seus negócios e na retenção de funcionários.

O conglomerado japonês de 146 anos enfrenta diversas crises com investidores, principalmente, os estrangeiros desde que um escândalo na contabilidade envolvendo a alta administração da empresa veio à tona em 2015. O grupo conseguiu se recuperar, ao menos em parte, atraindo novos aportes.

Em junho, uma investigação encomendada por acionistas concluiu que a Toshiba havia conspirado com o Ministério do Comércio do Japão para impedir que investidores ganhassem influência na assembleia da empresa, realizada no ano passado.

A empresa divulgou um relatório encomendado separadamente que concluiu que os executivos, incluindo seu ex-presidente-executivo, se comportaram de forma antiética, mas não ilegal.

Com a divisão, a Toshiba pretende retornar 100 bilhões de ienes, cerca de US$ 875 milhões aos acionistas nos próximos dois anos financeiros.

 

 

Enxugar estrutura

No caso da GE, o anúncio pôs fim a anos de especulação sobre o futuro da GE, que por anos foi uma das empresas mais admiradas dos EUA.

A empresa vai de dividir em partes focadas em saúde, energia e aviação. A unidade de saúde será separada da companhia principal no início de 2023, segundo comunicado divulgado nesta terça-feira.

A GE também combinará seus ativos de energia renovável, equipamentos de energia e negócios digitais em uma nova empresa, que será desmembrada no início de 2024. A empresa principal ficará com os ativos de aviação e passará a ser a GE Aviation, sob o comando do CEO, Larry Culp.

Desde a última crise financeira global, ocorrida há mais de uma década, está reduzindo sua estrutura outrora extensa, incluindo a venda da maior parte do seu braço financeiro, a GE Capital, com o objetivo de reduzir a dívida. A GE terminou o terceiro trimestre com débito de US$ 63 bilhões.

Em seu comunicado, a empresa acrescentou que cada nova unidade estará mais bem posicionada para atender a seus clientes, beneficiando-se de um maior foco, responsabilidade e agilidade.

Agora, resta saber se a tendência da divisão de grandes conglomerados veio para ficar no mundo corporativo. Após o quanto maior, melhor, a regra pode vir a ser, dividir para crescer ainda mais.

Quais são as tendências entre as maiores empresas do Brasil e do mundo? Assine a EXAME e saiba mais.

 

 

Acompanhe tudo sobre:EXAME-no-InstagramGE - General ElectricJohnson & JohnsonToshibaToyota

Mais de Negócios

De food truck a 130 restaurantes: como dois catarinenses vão fazer R$ 40 milhões com comida mexicana

Peugeot: dinastia centenária de automóveis escolhe sucessor; saiba quem é

Imigrante polonês vai de 'quebrado' a bilionário nos EUA em 23 anos

As 15 cidades com mais bilionários no mundo — e uma delas é brasileira