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Por que as montadoras elevaram preços dos carros em 10% mesmo na pandemia

Empresas atribuem reajustes a uma conjunção de fatores, mas não explicam aumentos acima da inflação ao longo dos últimos anos

Carros ficaram mais caros mesmo diante da queda brutal das vendas (GM/Divulgação)

Carros ficaram mais caros mesmo diante da queda brutal das vendas (GM/Divulgação)

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Juliana Estigarribia

Publicado em 14 de setembro de 2020 às 06h00.

No auge da quarentena, as vendas de veículos caíram 90% no país. A projeção do setor é de uma retração média de 40% dos licenciamentos no mercado brasileiro em 2020. No entanto, as montadoras estão aplicando reajuste médio de 10% nos preços dos automóveis em meio à pandemia. O que está por trás dessa política?

O primeiro fator é simples: câmbio. Desde o início do ano o dólar subiu, em média, 35%. Como o conteúdo importado dos carros tem crescido cada vez mais ao longo dos anos, principalmente devido à maior adoção de novas tecnologias, a produção está mais cara no país.

“Os carros de entrada têm, atualmente, muito mais tecnologia embarcada do que alguns anos atrás. Esse aporte tecnológico aumenta o custo do veículo, diminui o índice de nacionalização da produção e aumenta nossa exposição ao câmbio”, afirma Ricardo Bacellar, sócio para o setor automotivo na KMPG Brasil. 

Ele acrescenta que a escala atual de produção das montadoras está muito baixa, elevando os custos por unidade escoada. De janeiro a agosto, houve queda de 45% do volume produzido de automóveis e comerciais leves no país em relação a igual período do ano passado, segundo dados da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea).

Neste cenário, as montadoras aplicaram um reajuste médio de 10% durante a pandemia, conforme levantamento realizado pela consultoria automotiva Jato Dynamics. 

O aumento que chega ao consumidor final -- a depender da negociação com o concessionário -- pode ficar entre 7% e 8%. Com isso, um carro de entrada que custa em torno de 50.000 reais pode sair por mais de 54.000 reais. Entre os modelos importados, o reajuste é ainda maior.

“Em um cenário de alta do dólar e queda da demanda, as montadoras acabam mudando sua estratégia e, muitas vezes, privilegiam margens já que os volumes estão em baixa”, afirma Milad Kalume Neto, diretor da Jato. 

Luiz Carlos de Moraes, presidente da Anfavea, afirma que alguns fatores contribuíram para elevar os preços dos carros. Um deles é o aumento do aço no mercado doméstico. “O impacto foi na veia”, disse o dirigente.

Além disso, ele afirma que a taxa básica de juros reduzida estimula a alta do dólar, encarecendo as tecnologias importadas. 

“Estamos tentando fazer a melhor gestão possível dos custos, mas muitas empresas tomaram a decisão de aumentar preços. Trata-se do eterno desafio de volume versus margens para poder pagar a operação.”

Bacellar salienta que a indústria automotiva global trabalhava historicamente com ciclos de inovação de 3 a 5 anos. Hoje, esse período é de menos de 3 anos. “Os investimentos em novas tecnologias e eficiência energética são significativos, o que impacta os preços.”

O outro lado da moeda

O dólar, a alta carga tributária e a baixa escala de produção são inegáveis, mas um levantamento da consultoria IHS Markit revela que, de 2013 a 2018, o preço médio do carro no Brasil subiu 20% acima da inflação.

De acordo com Roberto Barros, consultor da IHS, com os investimentos exigidos pelo Rota 2030 (nova política industrial do setor), esperava-se um aumento médio de 5% nos preços dos carros até 2023. No entanto, com a pandemia, a expectativa é que esse reajuste deva vir todo em 2020. 

Embora o carro brasileiro ainda não seja o mais caro do mundo, Barros afirma que estamos entre os países com preços mais salgados do mercado global. 

“A diferença de preços vem diminuindo, era ainda mais absurda até meados de 2014. Alguns anos atrás, os carros eram caros e com tecnologias defasadas no Brasil.”

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