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OPINIÃO: Quando a água baixar, precisamos manter a mobilização

Estou impactado positivamente com a união dos gaúchos e com a quantidade de empresários e pessoas de outros estados oferecendo ajuda e a minha mensagem para todos é: continuem conosco quando a água baixar

Rio Grande do Sul: Agibank se mobiliza para ajuda no RS (Cesar Lopes/ PMPA/Divulgação)

Rio Grande do Sul: Agibank se mobiliza para ajuda no RS (Cesar Lopes/ PMPA/Divulgação)

Marciano Testa
Marciano Testa

Fundador do Agibank

Publicado em 9 de maio de 2024 às 18h50.

Última atualização em 15 de maio de 2024 às 11h28.

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Primeiramente, gostaria de dizer que tenho muito orgulho de ser gaúcho, de ter nascido e começado a empreender no Rio Grande do Sul, meu estado natal, lugar de gente aguerrida e empreendedora. Quero dizer que estou sentindo o impacto no meu peito, mas vamos superar essa catástrofe e sair dela ainda mais pujantes. Os dias até aqui foram muito intensos. Dos 4200 colaboradores do Agibank, cerca de 900 pessoas estão no Rio Grande do Sul. De nossa rede de lojas, 14 estão sem poder operar, assim como o Agi Lab, nosso espaço junto ao Instituto Caldeira.

Mesmo antes de as enchentes invadirem a capital e região metropolitana, promovemos a doação de 2.500 créditos cestas básicas para clientes de regiões afetadas, além de garantir que todas as nossas lojas pudessem atuar como pontos de arrecadação de doações. Outro esforço ao qual temos nos dedicado é a mobilização para o pagamento dos créditos calamidade do Governo Federal. Vamos pagar algo a cerca de 200 mil pessoas, o que vai demandar muita agilidade, atenção e acolhimento em todos os canais de atendimento. Temos muitas pessoas que perderam seus documentos, seus celulares, que terão dificuldade para se deslocar.

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O propósito do Agibank está profundamente ligado à capacidade de transformar vidas para melhor por meio de inclusão digital e financeira para pessoas de menor renda. Por isso, entendemos que o nosso papel nesse cenário trágico é apoiar nossos clientes, colaboradores e a comunidade em geral. Agora é hora de mantermos as portas abertas, de pensar em alternativas para atender quem vai precisar de ainda mais recursos, de estarmos disponíveis em todos os canais, porque sabemos que as pessoas esperam isso da gente e vamos ajudar essas famílias a reconstruírem suas vidas. Ontem mesmo vi um post em rede social da filha de um cliente, agradecendo o fato de termos conseguido resolver o problema, mesmo ele não tendo um documento em mãos, usando biometria. É isso que seguiremos fazendo.

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Pessoas com voz ativa têm o papel de influenciar e mobilizar, começando por dar o exemplo nas atitudes necessárias a se fazer. E vamos ter que reconstruir praticamente boa parte do estado e da capital. Aqui vai primeiro um apelo para o poder público em geral: superar a burocracia nesse momento para poder minimizar perdas de vidas, pois estamos em estado de "guerra". Segundo, continuarmos a mobilização após literalmente a água baixar, para atender as necessidades que ainda serão evidentes. Há pessoas que perderam familiares, a casa e a empresa e temos um papel importante de dar suporte a esses cidadãos e apoiá-los na reconstrução de suas vidas. Seja com doação de recursos ou empenho do nosso tempo e esforço.

No futuro

Olhando para frente, vejo dois grandes desafios. Primeiro de estabilização da crise, que neste momento de alta mobilização e notoriedade é mais visceral — e de fato a mobilização é tamanha e dá muito orgulho da nossa nação de Norte ao Sul do Brasil. O segundo, o qual eu me enquadro mais em termos de colaboração, é pensarmos de forma estruturada o que faremos, o que eu chamo de "quando à água baixar". São desafios de reconstrução e sinalização de longo prazo para quem investe no RS. Mostrar que vamos ter de fato um plano para futuras intempéries, dada a característica climática e geográfica do estado e da capital. Importante termos isso no radar para que tenhamos respostas estruturadas e cadenciadas de investimentos que garantam uma continuidade futura para que empreendedores continuem a canalizar investimentos no estado. Sugiro um grande chamamento da sociedade gaúcha, liderado pelo governador e prefeitos, a partir das respostas estruturadas que citei acima, convocando a nação a olhar o RS como um reduto de novos investimentos, principalmente ligados à nova economia, que na minha visão é uma das grandes vocações do RS.

O poder público tem o poder nas mãos, tem estrutura para planejar, para orquestrar as necessidades, definir priorizações, mas precisa aprender a trabalhar na escassez, a executar com eficiência, a empregar tecnologia e mão de obra qualificada. É aí que o privado entra, soma forças. A crise que estamos enfrentando deixa claro o papel das empresas. Temos temas relevantes para serem discutidos quando o assunto é empreender no Brasil, no RS. As empresas podem mais, basta o poder público deixar o ambiente minimante estável e não atrapalhar, que o privado responde.
Podemos caminhar juntos para os mesmos objetivos, pensando em desenvolvimento de longo prazo, em sustentabilidade. Eu acredito nisso e a prova é o Instituto Caldeira, do qual sou um dos fundadores, que inclusive está totalmente imerso neste momento. São hoje 520 grandes empresas e mais de 700 startups, universidades e poder público, juntos num grande hub de inovação, que virou um símbolo de como o poder público, as instituições de ensino e a iniciativa privada andando juntas fazem coisas incríveis. Não sei como lá vai estar quando "a água baixar", mas com a força da Comunidade Caldeira vamos recolocar tudo em pé novamente.

Otimismo

O desafio é imenso e complexo, mas sou otimista, creio que além da força do povo gaúcho, da nossa capacidade, temos hoje instrumentos importantes, como o próprio Instituto Caldeira, o South Summit, ótimas universidades, grandes empresas e uma força tremenda no agronegócio. Dito isso, eu consigo ver o estado além da tradicional vocação para o agro, podendo sim ter uma vocação mais tecnológica. Temos grandes cases que nasceram no Sul e outros potenciais, percebo isso de perto nas grandes incubadoras, como o Caldeira, Tecnopuc, Tecnosinos.
A tecnologia é sem fronteiras e temos os elementos para sermos protagonistas, tanto em formação e mão de obra qualificada como em desenvolvedor de soluções. Conseguimos atrair, como nossos sponsors, as grandes empresas de tech americanas (AWS, Microsoft, Google, Salesforce, Oracle) hoje nossas parceiras no Campus Caldeira, projeto de educação em tech para jovens de baixa renda que vêm das escolas públicas. Neste ano de 2024, estamos com mais de 4500 inscritos em cursos profissionalizantes com trilhas de conhecimento de forma gratuita, e os 500 melhores ainda recebem uma bolsa como remuneração, oferecida pelos sponsors. Projetos iguais a esse transformam uma nação.

Estamos trabalhando para ampliar o impacto e alcançar 10.000 jovens anualmente, ou seja, o poder público (aqui me refiro ao poder público em todas as esferas) fazendo a sua parte de investir em infra e garantindo a estabilidade, a iniciativa privada responde e, a partir disso, poderemos ter um dos melhores estados para se investir em empresas ligadas ou que necessitam de recursos em tecnologia. Estou impactado positivamente com a quantidade de empresários e pessoas de outros estados oferecendo ajuda e a minha mensagem para todos é: espero que estejam conosco quando "a água baixar".

Negócios em Luta

A série de reportagens Negócios em Luta é uma iniciativa da EXAME para dar visibilidade ao empreendedorismo do Rio Grande do Sul num dos momentos mais desafiadores na história do estado. Cerca de 700 mil micro e pequenas empresas gaúchas foram impactadas pelas enchentes que assolam o estado desde o fim de abril.

São negócios de todos os setores que, de um dia para o outro, viram a água das chuvas inundar projetos de uma vida inteira. As cheias atingiram 80% da atividade econômica do estado, de acordo com estimativa da Fiergs, a Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul.

Os textos do Negócios em Luta mostram como os negócios gaúchos foram impactados pela enchente histórica e, mais do que isso, de que forma eles serão uma força vital na reconstrução do Rio Grande do Sul daqui para frente.

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