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O que as empresas X esperavam no passado - e o que fizeram

Diferença entre expectativa e realidade fez o mercado punir as empresas de Eike Batista; veja o que as companhias disseram antes de abrir capital e o que entregaram até aqui


	Eike Batista: de sétimo homem mais rico do mundo à centésimo na lista da Forbes
 (Gabriel Rinaldi/EXAME.com)

Eike Batista: de sétimo homem mais rico do mundo à centésimo na lista da Forbes (Gabriel Rinaldi/EXAME.com)

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Da Redação

Publicado em 21 de maio de 2013 às 07h36.

São Paulo – Mini-Petrobras, mini-Vale, Roterdã dos Trópicos, Embraer dos Mares e Carajás do carvão. Em momentos diferentes, todas as expressões foram utilizadas por Eike Batista para exaltar a vocação de suas diferentes empresas. O otimismo reluzia nos prospectos das companhias, documentos nos quais OGX, MMX, MPX e OSX descreveram seus megaprojetos ao mercado, traçando as perspectivas para tirá-los do papel. Tudo para convencer os investidores a abraçar as empreitadas, vislumbrando garantir seu quinhão quando as companhias começassem a gerar caixa.

O tempo passou, algumas investidas ficaram pelo caminho e outras tiveram prazos e metas modificadas, como é de praxe na execução de projetos pré-operacionais. Mas o mercado torceu o nariz para as companhias diante das exuberantes expectativas traçadas no passado: considerando a trajetória dos papéis desde que começaram as ser negociados, todos tiveram um desempenho inferior ao do Ibovespa, se descolando consideravelmente do principal índice da Bovespa (veja gráficos abaixo).

Com as ações sendo duramente penalizadas, boa parte da fortuna de Eike escorreu pelo ralo. O dono das empresas X, que chegou a ser considerado o sétimo homem mais rico do mundo, foi para a centésima colocação do ranking de afortunados da Forbes.

Passada a temporada de balanços do primeiro trimestre do ano, confira a diferença entre o que as empresas do conglomerado EBX esperavam antes de serem negociadas na Bovespa e o que elas entregaram até março de 2013.

 

OGX (petróleo)

Estreia na bolsa: junho de 2008
Expectativas no prospecto:

O estudo de viabilidade contratado da DeGolyer & MacNaughton, consultoria especializada em certificação de reservas de petróleo, indicou a existência de 4,835 bilhões de barris de óleo equivalente nos blocos da petroleira.

No documento, a OGX reforçou a crença na sua capacidade de execução. "Os nossos recursos potenciais riscados indicados neste prospecto consideram uma probabilidade média de sucesso de 27%. No entanto, a nossa equipe de exploração, enquanto atuava na Petrobras, obteve um índice médio de sucesso de 53% nos últimos quatro anos", disse a empresa.

E completou: "Somos parte do Grupo EBX, conglomerado industrial fundado e liderado pelo empresário brasileiro Sr. Eike F. Batista, que possui um comprovado histórico de sucesso no desenvolvimento de novos empreendimentos nos setores de recursos naturais e infraestrutura".


A OGX também ressaltou esperar "geração de fluxo de caixa já em 2011". A expectativa era de produzir 2 milhões de barris de petróleo naquele ano, 14 milhões no fim de 2012 e 18 bilhões em 2013.

Realidade em 2013:

A geração de caixa chegou com dois anos de atraso. O feito foi atingido no primeiro trimestre deste ano, com o ebitda (lucro antes de juros, impostos, amortização e depreciação) no azul em 74 milhões de reais.

No período, o volume total de petróleo produzido beirou a casa do milhão - foram 954.000 barris. Já no fim de 2012, a produção total da companhia foi de 3,2 milhões de barris. O número equivale a pouco mais de 20% do previsto para o ano no prospecto de 2008.

Concebida e vendida aos investidores como uma "mini-Petrobras", a OGX levantou 6,7 bilhões de reais quando abriu capital na bolsa, maior IPO da história da Bovespa até então. É verdade que o caso de amor com o mercado foi abalado em algumas ocasiões. Em 2011, por exemplo, as ações desabaram após a consultoria DeGolyer & MacNaughton prever um tamanho mais modesto para as reservas recuperáveis. Mas nenhum desses eventos mexeu tanto com a companhia quanto a divulgação, em junho passado, de uma vazão 75% menor que a estimada inicialmente para o segundo poço de petróleo produtivo da empresa.

A desconfiança dos investidores sobre a capacidade a empresa aumentou e as notícias negativas que se seguiram só aprofundaram a queda livre dos papéis. As ações, que chegaram a valer mais de 22 reais, são hoje negociadas na casa de R$ 1,80.

 

MMX (mineração)

Estreia na bolsa: julho de 2006

Expectativas no prospecto:

Vendida como uma espécie de mini-Vale, a MMX levantou 1,03 bilhão de reais na sua oferta pública de ações. No prospecto, a companhia havia divulgado a intenção de usar 66% dos recursos no sistema MMX Minas-Rio, que contemplava a operação da mina, mineroduto e porto do Açu, além de uma usina de pelotização. Somado, o valor do investimento passava de 2,4 bilhão de reais, com a maior parte do dinheiro sendo financiado por bancos.

O sistema MMX Corumbá, já em operação naquela época, previa iniciar as atividades da usina de ferro gusa e produtos semi-acabados em junho de 2007, mesmo ano em que a MMX esperava começar a operar a mina Amapá. 

Realidade em 2013:

Menos de um ano depois de abrir capital, a MMX promoveu uma reorganização societária, colocando os negócios de logística da MMX Minas-Rio sob um novo chapéu (esse braço, batizado de LLX, também viria a ser negociado na bolsa, tendo o porto do Açu como principal projeto).

Dos ativos indicados no prospecto, apenas Corumbá permaneceu sob o controle da companhia. A divisão de minérios do projeto Minas-Rio foi vendida à Anglo em 2008, por 5,5 bilhão de dólares. O acordo contemplou a compra da mina do Amapá. Nesse meio tempo, outras investidas entraram no radar - e foram abandonadas antes de virarem realidade. Foi o caso do projeto de investimentos em ativos no Chile.

O fato é que a MMX adquiriu ativos em Minas Gerais, colocou o sistema Sudeste de pé e fez deste seu principal projeto. Na teleconferência do balanço do primeiro trimestre de 2013, no entanto, a empresa admitiu que sua menina dos olhos enfrentará atrasos. Com estimativas de produzir 29 milhões de toneladas de minério de ferro, a expansão de Serra Azul, que faz parte do complexo, estava prevista para o segundo semestre de 2014. Agora, deverá ser prorrogada em até um ano. 

Nos três primeiros meses de 2013, a produção total da companhia foi de 1,5 milhão de tonelada. No acumulado de 2012, o número foi de 7,4 milhões de toneladas, sendo apenas 1,5 milhão entregue por Corumbá. No prospecto de 2006, a MMX esperava que a produção anual do sistema MMX Corumbá fosse mais de três vezes superior. Hoje, a divisão é responsável por apenas 15% da total produzido pela MMX. A empresa também tornou-se dona do Superporto Sudeste. Avaliado em mais de 5 bilhões de dólares, o empreendimento deve entrar em operação no fim do ano.


 

LLX (logística)

Estreia na bolsa: julho de 2008

Expectativas no prospecto:

A LLX não fez IPO. Desmembrada da MMX em 2007, a companhia passou a ser negociada como companhia independente na Bovespa no ano seguinte. Por isso, os dados iniciais referentes ao seu maior projeto, o porto do Açu, estão presentes no prospecto da MMX.

Segundo o documento, o início das operações estava previsto para maio de 2009. "Roterdã dos trópicos" e "megadesarbitrador das ineficiências do Brasil" foram expressões usadas por Eike para se referir ao projeto. 

Realidade em 2013:

Quatro anos depois do esperado, o porto do Açu deverá começar a operar em 2013, como reiterou a LLX em balanço do primeiro trimestre, sem cravar data exata para a inauguração. De 2007 até agora, a companhia

 

investiu 4 bilhões de reais no empreendimento. O montante abarca a construção de um terminal de minério de ferro no local e supera com folga o valor de mercado atual da companhia, avaliada em 1,3 bilhão de reais.

Segundo a LXX, o superporto do Açu terá capacidade de movimentar até 350 milhões de toneladas por ano, "posicionando-se entre os maiores portos do mundo e configurando-se como maior empreendimento porto-indústria da América Latina". Enquanto não fica pronto, o negócio vem sendo alvo de questionamentos: uma suposta venda orquestrada pelo BTG Pactual e problemas na fundação das obras foram duas notícias que circularam recentemente, ambas negadas pela LLX.

A área do porto também conterá um complexo industrial de 90 quilômetros quadrados. É dele a responsabilidade por gerar receita para a LLX nessa fase pré-operacional. Além do aluguel recebido de OSX e MPX, que fazem parte da holding de Eike, as empresas Technip, NOV e Intermoor contribuíram para a receita líquida de 14,1 milhões de reais apresentada pela LLX no primeiro trimestre do ano.

 

 

MPX (energia)

Estreia na bolsa: dezembro de 2007

Expectativas no prospecto:

"Estamos desenvolvendo nove projetos de geração de energia, a maioria com sites já identificados e parte deles com sua energia negociada", resumiu a companhia, no documento.

Na época, Pecém e Termomaranhão haviam vendido quase toda a sua capacidade de geração de energia na primeira fase do leilão da CCEE, garantindo um fluxo de caixa estável para os projetos.

"Caso seja atingida a plena capacidade de nossos projetos, estimamos que eles poderão gerar aproximadamente 9.647 MW, com grande representatividade no mercado brasileiro, se considerarmos que, em 31 de dezembro de 2006, o Brasil possuía 105.000 MW instalados no seu parque gerador do Sistema Interligado", completou a MPX no prospecto.

A expectativa é que os projetos fossem concluídos entre 2011 e 2018.

 

Realidade em 2013:

Pecém I foi a primeira usina a ficar pronta, em dezembro de 2012. Hoje, a MPX também conta as unidades de Itaqui e Parnaíba I. Juntas, elas têm uma capacidade instalada de 1.031 MW, segundo informado no balanço do primeiro trimestre.

É verdade que o prospecto era mais otimista. Mas a MPX é considerada, mesmo assim, a empresa de Eike mais bem posicionada para ganhar dinheiro.

Além de já gerar 9% da energia térmica do país, a companhia fechou recentemente um acordo com a alemã E.ON, que aumentou sua participação na empresa para 36,2%.


 

OSX (estaleiro e construção de navios)

Estreia na bolsa: março de 2010

Expectativas no prospecto:

O início das operações do estaleiro da companhia - com potencial para ser uma "Embraer dos mares" - era estimado para o segundo semestre de 2011. Nas contas da OSX, o empreendimento, instalado em uma área de 3,2 milhões de quilômetros quadrados em Santa Catarina, teria capacidade de processar 180.000 toneladas de aço por ano.

A companhia divulgou ainda a expectativa de afretar (e operar) 48 navios-plataforma para a OGX em um prazo de 10 anos, aproveitando outras oportunidades de mercado advindas da exploração do pré-sal. 

 


Realidade em 2013:

O estaleiro ainda não foi concluído. Tendo a OGX como principal cliente dos seus pedidos, a OSX também vem sendo penalizada com o desempenho da empresa-irmã.

De janeiro a março, a OSX indicou a existência de 1,3 bilhão de reais em caixa e uma dívida de 5,5 bilhões de reais. A desproporção deve-se à necessidade da companhia de tomar dívida para fazer frente à execução das encomendas.

Hoje, a carteira atual da OSX conta com 11 contratos de construção para uso da OGX, além de um navio para a Sapura e a integração de duas FPSOs (unidades flutuantes de armazenamento e transferência) para a Petrobras.


 

 

CCX (carvão)

Estreia na bolsa: maio de 2012

Expectativas no prospecto:

Assim como a LLX surgiu a partir de uma cisão da MMX, a CCX era um projeto da MPX para a mineração de carvão na Colômbia que passou a ser tocado de maneira independente. Além de três minas com capacidade total de 35 milhões de toneladas, o plano contava ainda com um sistema logístico composto por uma ferrovia e um porto de águas profundas.

Na época da abertura de capital, Eike chegou a chamar a região de "Carajás do carvão".  A produção tinha início estimado para 2017, com investimentos totais de 5,5 bilhões de dólares.

Realidade em 2013:

 

No fim de janeiro, a companhia decidiu fechar capital. Na mesma época admitiu que "seria obrigada a passar por mudanças em seu plano estratégico, em virtude da deterioração das condições do mercado de carvão mineral".

Criada para um cenário em que o carvão fosse ser vendido a 110 dólares por tonelada, a companhia vê a commodity ser negociada a um preço 30% mais baixo. No balanço do primeiro trimestre, a CCX indicou um prejuízo de 17,1 milhões de reais.

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