Tiago Nogueira, da Líder: “Tivemos que mudar o jeito de pensar o negócio. Foi uma transformação completa, que durou anos” (Lider/Divulgação)
Repórter de Negócios
Publicado em 26 de março de 2025 às 15h00.
Última atualização em 26 de março de 2025 às 16h22.
Começou como uma marcenaria no fundo de casa, em Carmo do Cajuru, no interior de Minas Gerais.
João da Mata Nogueira, o fundador, era lustrador de móveis quando decidiu abrir sua própria fábrica, em 1945. A cidade tinha menos de 10.000 habitantes. O negócio era artesanal — e virou uma grande indústria.
Hoje, a Lider é uma das maiores fabricantes de móveis de alto padrão do Brasil. Tem 19 lojas próprias, mais de 130 revendedores autorizados e um parque fabril de 120.000 metros quadrados. Em 2024, faturou 340 milhões de reais. A meta para este ano é bater 400 milhões.
A projeção de crescimento vem no ano em que a marca completa 80 anos. A data marca também uma nova fase da empresa: com rebranding, abertura de lojas, reforço na linha de móveis planejados e uma estratégia mais agressiva no canal multimarcas.
“Estamos dobrando o tamanho de uma loja em São Paulo, e abrindo uma nova loja em Campinas. A expectativa é crescer perto de 20% em 2025”, afirma Tiago Nogueira, diretor comercial e neto do fundador.
Apesar de ter iniciado sua expansão fora de Minas nos anos 1990, com lojas em Vitória, Brasília e São Paulo, a Lider ainda era vista como uma marca regional até meados dos anos 2000.
O ponto de virada veio em 2006, com uma pesquisa nacional com arquitetos e decoradores que escancarou o problema: o produto era bem avaliado em qualidade, mas faltava inovação, variedade e design.
A resposta foi um reposicionamento completo. A empresa reformulou portfólio, catálogo de acabamentos, layout das lojas e comunicação. Em 2014, trouxe o estúdio Nada Se Leva para liderar a direção criativa e passou a desenvolver produtos com designers autorais. Hoje, 90% do mix é produzido internamente.
“Tivemos que mudar o jeito de pensar o negócio. Foi uma transformação completa, que durou anos”, diz Tiago.
Com cinco unidades produtivas em Carmo do Cajuru e mais de 1.500 funcionários, a empresa mantém uma operação verticalizada. Não fabrica a matéria-prima, mas processa internamente madeira, aço inox, espuma, tecido e vidro. Isso garante controle de qualidade e flexibilidade na customização.
O segmento de planejados representa hoje 20% do faturamento da Lider — e é tratado como principal vetor de crescimento. A empresa mantém uma fábrica exclusiva para o segmento e tem apostado em showrooms dedicados em cidades estratégicas.
“Esse mercado ainda tem muito espaço para crescer. Nosso diferencial está na marcenaria e na personalização. São mais de 1.200 combinações possíveis de acabamentos, tecidos e peças”, diz Tiago.
Em abril, a marca inaugura um novo espaço de planejados no D&D Shopping, em São Paulo, com dois andares e investimento de 1,2 milhão de reais. Em Campinas, uma nova loja de 1.500 m², distribuída em quatro pavimentos, será inaugurada em maio — investimento de 16 milhões de reais.
Além dos planejados, a Lider aposta na expansão da rede de franquias e multimarcas. Hoje, a empresa opera lojas franqueadas em Goiânia e Ribeirão Preto, e abrirá novas unidades em Franca e Uberlândia. No canal multimarcas, a estratégia é ganhar capilaridade em regiões fora do eixo Sul-Sudeste, com foco no Norte, Nordeste e Centro-Oeste.
A expansão física é acompanhada por um investimento robusto em qualificação da força de vendas. Em 2024, a empresa contratou a consultoria para treinar a equipe comercial — um projeto que consumiu mais de meio milhão de reais.
“Estamos trabalhando para aumentar a produtividade média por vendedor e o tíquete nas lojas. É uma forma de crescer com rentabilidade”, afirma Tiago.
O mercado de móveis planejados no Brasil deve crescer até 8% até 2025, impulsionado por personalização e integração com o setor imobiliário.
Segundo dados da Emobile, há mais de 245 mil marcenarias ativas no país — alta de 31% em cinco anos. No segmento de alto padrão, marcas como Todeschini, Florense e Bomtempo disputam o público com a Líder.
Apesar da estrutura de capital fechado, a Lider é uma empresa de gestão profissional. Mas o comando segue com a família. Os cinco filhos do fundador ainda participam do conselho e da operação.
“Eles se reúnem todos os domingos em casa e, às segundas, na empresa. A diversidade de perfis e a convivência harmoniosa influenciam muito a cultura da Lider”, afirma Tiago.
Com operação enxuta, zero endividamento e estrutura própria para logística e assistência técnica, a empresa pretende crescer sem abrir mão do controle. “Temos um negócio sólido, com governança profissional e espaço para evoluir sem precisar de aporte externo. O desafio agora é escalar mantendo qualidade e consistência”, afirma.