Em pé, da esquerda para a direita, Juçara Serrano, André Domiciano, Luiz Gustavo, Claudia Brito, Bruno Venancio, Alessandro Jarzynski; sentados, Tais Mahalem e Marcelo Galbe, sócios da Coris: aquisição no meio da pandemia (Divulgação/Divulgação)
Editor de Negócios e Carreira
Publicado em 3 de dezembro de 2024 às 17h34.
Última atualização em 4 de dezembro de 2024 às 19h11.
Em abril de 2020, em plena crise da pandemia, a Coris – uma das principais empresas de seguro viagem do Brasil – fez uma jogada ousada.
Na ocasião, a empresa fundada em 1988 era parte do conglomerado francês April, um dos maiores do mundo em seguros de viagem.
Quando o mercado de turismo desabou, o CEO e sete diretores compraram 100% da participação da April.
A decisão pelo management buyout, nome técnico para a aquisição de um negócio por parte de seus diretores, não foi fácil.
Naquele momento, o faturamento caiu a zero por meses a fio. E, sem vacina, a perspectiva de as fronteiras serem reabertas novamente estava muito distante.
Quatro anos depois de os novos sócios tomarem as rédeas do negócio, a Coris saiu mais forte da crise. Em 2023, a companhia faturou 71,9 milhões de reais, alta de 11% em 12 meses.
O desempenho colocou a empresa na posição 88 entre as empresas de maior crescimento da receita operacional líquida do Brasil no ranking EXAME Negócios em Expansão 2024.
A retomada da Coris traz lições importantes sobre resiliência do empreendedor e sobre como fazer um choque de gestão numa empresa.
A história da Coris começa em 1988, com a fundação da empresa em São Paulo focada em assistência médica para viajantes.
Em três décadas, a empresa virou uma das cinco maiores do setor no Brasil. O desempenho chamou a atenção do broker francês April, que comprou a companhia em 2004.
Porém, a verdadeira transformação aconteceu em 2017, quando Luiz Gustavo Costa assumiu a direção da operação brasileira.
Formado em tecnologia, Costa construiu uma carreira em concorrentes da Coris no mercado de seguros, como a australiana QBE e a americana Assurant, via de regra em times dedicados à eficiência de processos.
Até então, apesar de pertencer a um grupo internacional, a Coris operava ainda com diretores da época em que era uma empresa familiar. A gestão estava pouco alinhada com as melhores práticas do mercado.
“Quando cheguei, a operação estava sem direção clara, e enfrentávamos uma série de desafios internos, como processos de atendimento desorganizados e uma estrutura que não refletia a real necessidade do mercado”, diz Costa.
O primeiro passo foi a reorganização interna. Em 2020, após o impacto da pandemia e a retração no turismo, o grupo francês vendeu a operação para a equipe local, que passou a controlar 100% da companhia.
“Foi um momento decisivo. Optamos por comprar a operação e fazer um turnaround completo. O Brasil sempre teve um grande potencial no mercado de seguro viagem, e era o momento de apostar na recuperação”, afirma Costa.
O foco da nova gestão foi cortar custos. Ao sair da estrutura francesa, a Coris conseguiu se tornar mais ágil e, de alguma forma, mais próxima do cliente.
Até então, a sede da companhia era próxima da Avenida Paulista, um dos CEPs mais caros de São Paulo.
A nova gestão decidiu mudar a sede da Coris para Barueri, na Grande São Paulo, onde os terrenos são mais em conta.
Além disso, o município cobra uma alíquota de 2% sobre o ISS, imposto municipal sobre serviços. Em São Paulo, a fatia é de 5%.
A reestruturação também incluiu a mudança de processos. Atendimentos antes terceirizados a outras empresas, como o atendimento de clientes com algum problema de saúde durante uma viagem ao exterior, passaram a ser feitos dentro de casa.
Para isso, a Coris estruturou um software de CRM próprio. Hoje, boa parte da estrutura também atende outras seguradoras que contratam a Coris para atender os clientes delas.
“A nossa ideia foi sempre manter a operação no Brasil, com mais controle sobre o atendimento e sinistros”, diz Costa. “O gerenciamento das reclamações dos clientes deveria ser 100% interno.”
Em 2024, a Coris não só expandiu sua linha de seguros, como também firmou parcerias estratégicas com entidades esportivas.
A empresa agora oferece seguro para times de futebol e para o Comitê Olímpico Brasileiro (COB) durante os jogos de Paris.
Além disso, a empresa lançou recentemente o seguro para pets, ampliando sua oferta de produtos e atendendo a uma demanda crescente no setor.
Outro destaque de 2024 foi a implementação de uma parceria com o Hospital Israelita Albert Einstein, com uma central de atendimento 24 horas via telemedicina.
Hoje, a empresa possui cerca de 14.000 clientes atendidos por ano e um volume de 43.000 bilhetes cobertos mensalmente.
Com uma forte presença no turismo internacional e no segmento corporativo, a companhia projeta um crescimento de 15% em vendas para 2024.
O mercado de seguro viagem vem crescendo no Brasil e no mundo.
Em 2023, o Brasil viu um aumento de 45% no volume de prêmios emitidos em comparação com 2019, com os prêmios totais atingindo 849,6 milhões de reais.
Esse crescimento reflete o aumento da consciência sobre a importância do seguro viagem, especialmente após a pandemia, que despertou a necessidade de proteção durante viagens internacionais.
Globalmente, o mercado de seguro viagem deve crescer nos próximos anos. O setor foi estimado em 27,05 bilhões de dólares em 2024 e projeta-se que atinja 63,87 bilhões de dólares até 2030.
A Europa domina o mercado, mas países como o Brasil estão apresentando um crescimento acelerado, impulsionado pela expansão do turismo e pela maior conscientização sobre a importância de estar protegido durante viagens internacionais.
O faturamento de 70 milhões de reais da Coris em 2023 é um feito, sem dúvida, mas a realidade é que esse número não vem sem desafios.
O mercado de seguro viagem nunca foi tão competitivo. Com a entrada de novos players pós-pandemia, a Coris não pode se dar ao luxo de achar que o pior já passou.
Além disso, a alta do dólar e o crescimento da concorrência são obstáculos.
O mercado brasileiro ainda sofre com o desconhecimento sobre a importância do seguro, o que torna a conscientização o principal desafio da Coris e de outras empresas do setor.
Apesar de oferecer coberturas amplas, como até 1 milhão de dólares em despesas médicas, e incluir seguros para esportes de risco (algo raro no mercado), a Coris ainda lida com a percepção de que o seguro é um gasto desnecessário.
“Podemos oferecer mil vantagens, mas se o cliente não perceber o valor real no serviço, tudo vai por água abaixo”, diz Costa. “Nosso maior desafio agora é fazer com que as pessoas realmente entendam a importância do seguro.”
O ranking EXAME Negócios em Expansão é uma iniciativa da EXAME e do BTG Pactual (do mesmo grupo de controle da EXAME).
O objetivo é encontrar as empresas emergentes brasileiras com as maiores taxas de crescimento de receita operacional líquida ao longo de 12 meses.
Em 2024, a pesquisa avaliou as empresas brasileiras que mais conseguiram expandir receitas ao longo de 2023.
A análise considerou os negócios com faturamento anual entre 2 milhões e 600 milhões de reais. Após uma análise detalhada das demonstrações contábeis das empresas inscritas, a edição de 2024 do ranking foi lançada no dia 24 de julho.
São 371 empresas de 23 estados brasileiros que criam produtos e soluções inovadoras, conquistam mercados e empregam milhares de brasileiros.