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Hopi Hari, lugar mais feliz do mundo, enfrenta dívidas e briga societária

O parque foi inaugurado em 1999 com sonhos audaciosos, mas acumula prejuízos, disputas societárias e está em recuperação judicial

Hopi Hari (Hopi Hari/Divulgação)

Hopi Hari (Hopi Hari/Divulgação)

Karin Salomão

Karin Salomão

Publicado em 15 de abril de 2018 às 08h00.

Última atualização em 15 de abril de 2018 às 08h00.

São Paulo – Inaugurado como “o lugar mais feliz do mundo”, o Hopi Hari está passando por maus momentos. Depois de passar por acidentes fatais, atraso em pagamentos e fechamento do parque, a companhia hoje enfrenta recuperação judicial, brigas e disputas societárias, que podem atravancar o seu processo de recuperação.

A companhia está em recuperação judicial desde outubro de 2016. A recuperação judicial é uma ferramenta para ajudar uma empresa em dificuldades a se reerguer, com suspensão temporária e renegociação das dívidas. Porém, o documento apresentado pelo Hopi Hari só foi aprovado no início de abril deste ano.

A demora na realização da assembleia e aprovação do documento, que determina como serão feitos os pagamentos para os credores, tem relação com as disputas entre o acionista controlador da companhia, José Luiz Abdalla, e a diretoria da empresa, presidida por José David Xavier.

Entre as discussões, estava a questão de quem teria o direito a apresentar o plano de recuperação: se a diretoria da empresa ou seu acionista controlador.

De acordo com Gilberto Giansante, representante da Giansante Sociedade de Advogados, administradora judicial do Hopi Hari, o plano deve ser apresentado pela própria empresa e seus representantes. Além disso, ele afirma que o plano não deve tratar de discussões societárias, mas apenas do pagamento das dívidas e assuntos sobre a manutenção do funcionamento da companhia.

Desfeito esse impasse, o plano, apresentado pela administração de David, foi aprovado pelos credores incluídos no documento no dia 6 de abril. Agora, a esperança da empresa é começar a se recuperar e até receber novos investimentos, de acordo com Sérgio Emerenciano, advogado que representa a companhia.

Contestação

Mesmo depois da aprovação do documento, o acionista Abdalla contesta o seu conteúdo.

O grupo contemplado na proposta, que foi aprovada nesta quinta-feira, representa 10% do total da dívida do parque e exclui quatro credores financeiros. Dentre eles estão o BNDES, que teria 230 milhões de reais para receber, e o Prevhab, fundo de pensão dos funcionários do antigo Banco Nacional de Habitação (Prevhab), com dívida de 85 milhões de reais de acordo com o Valor Econômico. Incluídos no plano estão 1.700 pessoas ou empresas, como fornecedores ou funcionários.

A exclusão dos principais credores preocupa Abdalla. De acordo com seu advogado, Luiz Donelli, os pagamentos de dívidas que não forem incluídos no plano de recuperação judicial teriam que ser feitos de acordo com os contratos fechados no momento do empréstimo. Caso esses requisitos não sejam cumpridos, o juiz poderia pedir falência.

“As dívidas estão vencidas, precisariam ser pagas à vista. Porém, o caixa da empresa não sustentaria o pagamento nessas condições”, diz. Segundo ele, o pagamento nessas condições poderia levar a companhia à falência. Por esse motivo, o melhor seria se Abdalla e os credores alegassem a nulidade do plano de recupeção, diz o advogado.

Do outro lado, Emerenciano, advogado que representa a companhia, diz que está resolvendo essa questão. “Já existiam negociações em paralelo com esses credores, que irão continuar”, diz.

Histórico

Essa briga não é o único enrosco da companhia.

O parque foi inaugurado em 1999 com sonhos audaciosos. O objetivo era reproduzir, no Brasil, o sucesso dos parques de diversões da Disney, nos Estados Unidos, e atrair parte dos brasileiros que já viajavam ao exterior para visitar as atrações.

A construção do parque na cidade de Vinheiro, interior paulista, consumiu 200 milhões de dólares da GP, gestora de fundos, e de quatro fundos de pensão – Previ, Funcef, Petros e Sistel.

O faturamento esperado não veio e, em 2009, o parque foi vendido para a consultoria Íntegra, dos sócios Luciano Corrêa e Nelson Bastos. Em 2011 começou a dar lucro e chegou a ser o parque mais visitado do país, com 2 milhões de visitantes por ano, mas em 2012 uma visitante morreu ao cair do brinquedo Torre Eifel, o que obrigou o parque a fechar temporariamente.

A crise econômica agravou a situação ainda mais e o Hopi Hari pediu recuperação judicial em agosto de 2016, com dívida de 300 milhões de reais. O pedido foi aceito pela justiça em outubro daquele ano.

Poucos meses depois, um possível alívio para a companhia: o empresário José Luiz Abdalla comprou 80% da empresa do proprietário anterior, Luciano Corrêa, no final de 2016. A proposta de compra era ousada. Além de incorporar as dívidas da empresa, Abdalla também planejava implementar um complexo hoteleiro com cerca de 1.200 apartamentos e um centro de convenções, eventos e exposições.

Em março de 2017 Abdlalla comprou os 20% restantes e se tornou o único acionista controlador da empresa, além de presidente do conselho, de acordo com fato relevante divulgado à CVM (Comissão de Valores Mobiliários).

No entanto, a situação do parque não melhorou. Os salários dos funcionários estavam atrasados, as visitas diminuíram, a energia chegou a ser cortada e o parque precisou funcionar por meio de geradores. Em maio de 2017, precisou ser fechado, sem conseguir se manter aberto.

Sob nova direção

Ano passado, o Hopi Hari passou por novas mudanças em sua administração. Em junho de 2017, Abdalla indicou José David Xavier para a presidência do conselho de administração e da companhia. O novo conselho foi aprovado sem ressalvas, de acordo com a ata da reunião divulgada pela CVM.

Na mesma data, Abdalla negociou com um fundo a venda de até 75% do controle da companhia na condição de criar uma linha de crédito de até 10 milhões de reais para financiar a recuperação do parque. O fundo, de acordo com Donelli, seria gerido por Mario Cuesta, ex-presidente do IG, mas ainda não teria levantado recursos.

Donelli, advogado de Abdalla, disse que o fundo não cumpriu com sua parte do acordo, de investir na companhia. Por isso, o contrato de venda deveria ser anulado e a diretoria atual, escolhida por ele em favor do fundo, destituída.

Já Emerenciano diz que o investimento foi feito e permitiu a reabertura do parque – que ficou fechado de março a julho de 2017. “O negócio tem melhorado e desde a reabertura já recebemos 170 mil visitantes”, afirma.

O novo ingresso custa 150 reais, mais caro que os anteriores 99 reais, e dá direito a todos os brinquedos do parque. Atualmente, cerca de 70% dos brinquedos estão em funcionamento. 

O advogado ainda espera que outros investidores se interessem pelo parque e aportem recursos, para que o local volte a ser referência de diversão em São Paulo.

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