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Grow, de bicicletas e patinetes elétricos, tem falência decretada pela Justiça

Empresa estava em recuperação judicial desde 2020 com dívida de 38 milhões de reais

Grow: dívidas da empresa eram de 38 milhões de reais (Mariana Fonseca/Exame)

Grow: dívidas da empresa eram de 38 milhões de reais (Mariana Fonseca/Exame)

Daniel Giussani
Daniel Giussani

Repórter de Negócios

Publicado em 8 de novembro de 2023 às 18h31.

Última atualização em 8 de novembro de 2023 às 18h31.

Mais de três anos depois de ingressar com o pedido de recuperação judicial, a empresa de micromobilidade Grow, dona de vários dos patins elétricos que eram vistos pelas capitais brasileiras no final dos anos 2010, teve a falência decretada pela Justiça. A companhia, nascida da fusão entre a brasileira Yellow e a mexicana Grin, afirmou à Justiça que, "por circunstâncias alheias à sua vontade, não pôde  honrar com o cumprimento do plano e que não há expectativas de soerguimento da atividade". 

Por conta disso, o juiz João de Oliveira Rodrigues Filho, da 1ª Vara de Falências e Recuperações Judiciais de São Paulo, determinou que a recuperação judicial seja convolada em falência.

No despacho em que decretou a falência, o juiz também falou que os credores terão reconstituídos seus direitos e garantias nas condições originalmente contratadas, deduzidos os valores pagos e ressalvados os atos validamente praticados no âmbito da recuperação judicial.

Fim da moda, prejuízo e pandemia: como Grow, ex-Yellow, foi do boom à lona

Qual foi a crise na Grow

Em nota enviada à época do pedido de recuperação judicial, Yellow e Grin afirmam que foram "duramente afetadas pela crise acarretada pela pandemia da covid-19", uma vez que seus negócios são baseados na mobilidade diária das pessoas nas cidades.

As dívidas somavam cerca de 38 milhões de reais. As principais razões para a crise, segundo a empresa, foram

  • maior regulação
  • aumento da concorrência
  • diminuição das margens de lucro
  • necessidade constante de atualização dos patinetes e bicicletas
  • pandemia, que paralisou os serviços de compartilhamento

A EXAME teve, à época, acesso à lista de credores da companhia, composta por ex-funcionários e fornecedores. São pouco mais de 8 milhões de reais em dívidas na classe I, isto é, direitos trabalhistas não-pagos após demissão de ex-funcionários, somados os passivos das duas companhias.

Na classe III, de empresas fornecedoras, são cerca de 30 milhões de reais em dívidas. O maior credor era a fabricante de bicicletas Caloi Norte, com 15,4 milhões de reais a receber.

Quais são os próximos passos

Agora, com a falência decretada, há passos jurídicos e processuais a serem tomados.

Um dos primeiros passos é o administrador judicial proceder à arrecadação dosbens e documentos, bem como a avaliação dos bens, separadamente ou em bloco, no local em que se encontrem. Isso servirá para fazer o levantamento dos ativos da companhia. 

Depois, o administrador judicial deve proceder a venda de todos os bens da massa falida no prazo máximo de 180 dias. Nesse meio tempo, também deve organizar a relação de credores e créditos. Geralmente, a venda dos ativos é usada para ajudar a quitar as dívidas.

Ondas de demissões antes da recuperação judicial

Antes do coronavírus, a Grow já vinha de sucessivas ondas de demissão e encerramento de operações. Em janeiro, muito antes de qualquer possibilidade de quarentena na América Latina, a empresa encerrou as operações em 14 cidades no Brasil. Sobraram apenas São Paulo (SP), Rio de Janeiro (RJ) e Curitiba (PR).

A locação de bicicletas via aplicativo da Yellow também foi paralisada por tempo indeterminado, restando somente os patinetes. No começo do ano, mais uma leva de funcionários já havia sido demitida.

Em março, já envolta em uma crise financeira, a startup foi comprada pelo fundo Mountain Nazca, dono do Peixe Urbano. Assumiu o comando o presidente Roberto Álvarez Cadavieco, dizendo em à época que “a era do crescimento a qualquer custo acabou” e que a Grow tinha o plano de ser “a primeira empresa de micromobilidade rentável do mundo.”

Antes da fusão

A Yellow foi criada pelos brasileiros Ariel Lambrecht, Eduardo Musa e Renato Freitas. Lambrecht e Freitas co-fundaram o aplicativo e unicórnio brasileiro 99, enquanto Musa já foi presidente da fabricante de bikes Caloi.

Lambredcht, Freitas e parte do grupo remanescente da Yellow deixaram a empresa no início de 2020, enquanto circulavam no mercado rumores de que os fundadores da startup brasileira tiveram desentendimentos com os sócios mexicanos da Grin. O grupo brasileiro, por exemplo, foi tirado das posições maiores de comando logo após a fusão com os mexicanos.

No auge do otimismo com os patinetes, a Grow iniciou uma expansão sem precedentes para o modelo de micromobilidade, chegando a estar presente em mais de 10 cidades brasileiras e incluindo em bairros mais afastados dos centros, totalizando mais de 20 milhões de corridas realizadas. Mas o formato foi colocado em xeque diante dos altos custos. Um dos principais desafios no modelo de negócio da Grow é a depredação de patinetes e bicicletas. A empresa não usa estações fixas para os equipamentos, que podem ser deixados em um perímetro mais amplo, o que encarece a operação.

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