Vannessa Macena, da Mundo di Chocolate: "“Quando montei o Mundo di Chocolate, quis aplicar tudo o que aprendi nos 24 anos ao lado do negócio familiar" (Mundo di Chocolate/Divulgação)
Repórter de Negócios
Publicado em 5 de dezembro de 2024 às 08h46.
Última atualização em 5 de dezembro de 2024 às 15h24.
O mercado de chocolate no Brasil movimenta números robustos. Em 2023, foram 25 bilhões de reais, segundo a Euromonitor, com cada brasileiro consumindo, em média, 3,9 quilos por ano. E há várias formas de consumí-lo: em barra, em trunfa, em sorvete ou, por que não, em fondue.
É nesse cenário que se destaca o Mundo di Chocolate, rede de quiosques de fondue que alcançou 53 unidades em dois anos e meio, com um faturamento de 17 milhões de reais previsto para 2024.
Por trás do crescimento acelerado está Vannessa Macena, de 32 anos. Ela largou a natação profissional ainda na adolescência para trabalhar no quiosque de chocolate de sua família, inicialmente como punição por uma conta de telefone alta.
A punição virou paixão, e a paixão virou carreira: formada em gastronomia, Vannessa especializou-se na arte do chocolate e hoje lidera sua própria rede.
O que diferencia o Mundo di Chocolate no mercado é fazer um fondue "barato". Isso porque o alimento tradicionalmente é associado ao luxo. "Nossa ideia sempre foi trazer uma experiência prática e acessível, mas mantendo a qualidade de chocolate padrão europeu", afirma a empreendedora.
A expansão rápida, aliada à inovação no cardápio, tem atraído franqueados e consumidores. “Quando montei o Mundo di Chocolate, quis aplicar tudo o que aprendi nos 24 anos ao lado do negócio familiar. Meu objetivo era criar algo moderno e alinhado ao que o consumidor busca hoje”, diz Vannessa.
A meta é chegar a 150 unidades até o final de 2025, com possibilidades de expansão internacional. "A capacidade que temos hoje nos permite inaugurar até quatro quiosques por mês, e isso nos faz pensar grande", diz.
A relação de Vannessa Macena com o chocolate começou por acaso, mas virou destino. Filha de um engenheiro e de uma advogada, ela cresceu em Joinville, no interior de Santa Catarina, onde seus pai decidiram empreender após se mudarem de São Bernardo do Campo. A escolha do negócio foi, literalmente, uma questão de oportunidade.
“Meu pai ouviu por acaso, em um corredor do shopping, que eles precisavam de uma loja de doces. Ele nem sabia o que ia abrir, mas disse ao superintendente que seria um quiosque de chocolate", diz. "Ele tinha experiência em engenharia e decidiu que montaria tudo do zero. Em menos de 60 dias, a loja estava pronta”.
A loja familiar se tornou parte do cotidiano de Vannessa, mas ela ainda não se via como parte do negócio.
Adolescente, ela conciliava os estudos com treinos intensos de natação, sendo atleta federada por Santa Catarina. A rotina era puxada: treinos de manhã e à tarde, avaliações escolares rigorosas e competições estaduais. “Era uma rotina pesada, mas eu amava", diz. "Achava que meu futuro era como atleta”.
Tudo mudou por causa de um telefonema. Ou melhor, muitos. Durante uma competição, Vannessa conheceu um garoto e começou a passar horas ao telefone com ele.
"Não tinha WhatsApp nem nada. Eu ligava do fixo de casa para o celular dele, e as horas se acumulavam. Estava apaixonada e não percebia o tamanho do problema que estava criando", conta, rindo.
O susto veio quando o pai de Vannessa recebeu a conta de telefone: 1.200 reais. Para ela, um valor impossível de quitar, já que recebia 300 reais por mês como nadadora.
“Meu pai não pensou duas vezes. Ele cancelou meu contrato com a federação, disse que a natação acabava ali e que eu teria que pagar a dívida trabalhando no quiosque da família”, diz.
Vannessa começou no dia seguinte. A rotina era simples, mas intensa. Ela ia de ônibus para o shopping, trabalhava das 14h20 às 22h e voltava tarde da noite. No começo, parecia apenas um castigo. “Eu me sentia traída. Como assim meu pai acabou com meus sonhos? Mas foi ali que comecei a entender o valor do dinheiro e, sem perceber, me apaixonei pelo trabalho.”
Nos meses seguintes, ela passou a ajudar cada vez mais na operação. Fechava o caixa, atendia os clientes e até montava estratégias para atrair mais consumidores. O castigo se transformou em aprendizado, e Vannessa se viu fascinada pelo mundo dos chocolates. “O namoro não durou, mas o amor pelo chocolate ficou”.
Com o passar dos anos, Vannessa assumiu papéis cada vez mais importantes no negócio da família. A Fábrica de Chocolate, como era chamada na época, cresceu e começou a operar como franquia. Aos poucos, a empresa chegou a 89 unidades espalhadas pelo Brasil. Apesar do sucesso da rede, a separação dos pais trouxe desafios. O negócio familiar foi dissolvido, e Vannessa, que já era dona de seis lojas próprias, precisou decidir seu futuro.
“Foi um momento difícil, mas também um marco. Eu não queria abandonar 24 anos de história com o chocolate", diz. "Decidi criar algo novo, moderno e que carregasse tudo o que aprendi até ali.”
Em 2021, Vannessa fundou o Mundo di Chocolate, com foco em fondue express e um modelo de franquia enxuto e inovador. A nova marca rapidamente atraiu investidores e consumidores. Com o apoio de seu pai, que também empreendeu no setor de montagem de quiosques, ela criou uma estrutura ágil e eficiente.
“O que nos diferencia é a experiência que entregamos ao cliente e a rapidez na expansão. Podemos montar um quiosque em 30 dias, algo essencial em um mercado tão dinâmico”, diz.
Atualmente, a rede conta com 53 unidades ativas em oito estados brasileiros e mais 19 contratos assinados, totalizando 72 operações previstas para 2024. A meta é atingir 100 unidades até o final do próximo ano.
A maioria das lojas são no formato de quiosque, com tamanhos que variam de 4 a 12 metros quadrados, mas há também containers modulares. Aliás, os quiosques são produzidos por um fornecedor exclusivo, o que Vanessa considera um dos grandes diferenciais da rede.
"A produção modular permite adaptações rápidas às exigências de diferentes shoppings, como tamanho e layout do espaço", diz. "Isso também agiliza o processo de inauguração: uma unidade pode ser instalada em até 30 dias após a aprovação do ponto".
Atualmente, a Mundo di Chocolate está projetando um faturamento de 17 milhões de reais para 2024, com base no ritmo acelerado de expansão e no desempenho das unidades em operação. Este número representa um crescimento na casa de 20% em relação a 2023, quando a rede faturou 14 milhões de reais.
A meta imediata é alcançar 100 unidades até o final de 2024, consolidando sua posição no mercado brasileiro de franquias de sobremesas. Mas os planos não param por aí. Para o próximo ano, pelo menos mais 50 lojas devem ser abertas.
A rede também já tem franqueados interessados em levar a marca para fora do Brasil.
“Um dos nossos parceiros está viabilizando uma operação nos Estados Unidos, na Flórida", diz. "Isso abre um mercado enorme e reforça o potencial global do nosso modelo”.
A expansão para o exterior faz parte da visão de longo prazo da empresária, que planeja adaptar o cardápio e o conceito do quiosque para atender às demandas de consumidores internacionais.
Mesmo com o crescimento acelerado, a Mundo di Chocolate enfrenta desafios consideráveis, típicos de uma rede em expansão. Com mais de 50 unidades, garantir a padronização da experiência em todas as lojas é uma prioridade. Desde a temperatura ideal do chocolate até a apresentação das sobremesas, cada detalhe é crucial.
“Nosso maior desafio é assegurar que todas as unidades entreguem a mesma qualidade, mesmo com um volume crescente de operações”, afirma a fundadora.
O mercado de franquias exige atenção constante às demandas dos franqueados, especialmente em momentos de expansão rápida. Desde a escolha de pontos comerciais até o suporte diário, é preciso evitar gargalos que possam afetar o desempenho das lojas. “O franqueado precisa se sentir amparado, porque o sucesso dele é o nosso. Esse equilíbrio é desafiador em uma rede que cresce tão rápido”, diz Vannessa.