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Economia circular é uma realidade crescente na indústria brasileira

Levantamento mostra que sete em cada dez companhias já adotam iniciativas para fazer um melhor uso dos recursos naturais. A JBS é uma delas

JBS Ambiental, no interior de São Paulo, onde foi aplicado o Piso Verde – criado da reciclagem de resíduos que eram destinados a aterros (JBS/Divulgação)
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Publicado em 3 de dezembro de 2021 às 09h00.

Sete em cada dez indústrias brasileiras desenvolvem alguma iniciativa de economia circular, embora a maior parte não saiba que as ações se enquadram nesse conceito.

O dado é da Confederação Nacional da Indústria (CNI) e aponta, ainda, que entre as principais práticas elencadas pelos respondentes estão a otimização de processos (56,5%), o uso de insumos circulares (37,1%), a recuperação de recursos (24,1%) e a extensão da vida do produto (22,9%).

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“A indústria brasileira tem adotado práticas para o melhor aproveitamento dos recursos naturais há bastante tempo”, afirma Davi Bomtempo, gerente executivo de meio ambiente e sustentabilidade da CNI.

Ele cita o programa Produção mais Limpa (P+L), proposto pelo United Nations Environment Programme (Unep), de 1989, como sendo uma das primeiras iniciativas no processo de racionalização da produção industrial.

Desde então, diz o especialista, diversas abordagens e ferramentas com propósitos similares foram sendo desenvolvidas, como as normas da série ISO 14000, a avaliação do ciclo de vida, simbiose industrial, logística reversa, “design for environment” e biomimetismo, entre outras. “Todas essas práticas colaboram de alguma forma para o melhor uso dos recursos naturais e, consequentemente, com a transição para a economia circular”, afirma Bomtempo.

Diferenças entre economia circular e economia linear

A economia circular associa desenvolvimento econômico ao melhor uso de recursos naturais. Isso é feito por meio de novas oportunidades de negócios e de otimização na fabricação de produtos. A ideia é depender menos de matéria-prima virgem, priorizando insumos mais duráveis, recicláveis e renováveis.

É um contraponto ao modelo econômico linear – de extração de matéria-prima, transformação, uso e descarte de resíduos –, que está atingindo seu limite.

Dados levantados pela CNI mostram que, nos últimos 30 anos, apesar dos avanços tecnológicos e do aumento da produtividade dos processos industriais, que extraem 40% mais valor econômico das matérias-primas, a demanda para a indústria mostrou aumento de 150%.

Bomtempo pontua que, apesar de a indústria já ter incorporado algumas práticas de economia circular em seus processos, ainda há um longo caminho pela frente para que se consiga manter, de forma efetiva, o fluxo circular dos recursos ao longo do tempo e fora das instalações das empresas.

“Cadeias de valor que trabalhem com a retenção e recuperação dos valores dos recursos ainda precisam ser mais bem estruturadas”, diz ele. “Esse desafio traz muitas oportunidades para inovação em modelos de negócios e produtos, formalização de empresas e trabalhadores, atração de investimentos e ampliação da participação no comércio internacional em bens de maior intensidade tecnológica”.

O bom proveito de resíduos

Segunda maior empresa de alimentos do mundo e líder do setor de proteína, a JBS colocou a sustentabilidade no centro de sua estratégia e, diante disso, encontrou novas oportunidades de negócios dentro da economia circular.

Um exemplo é a produção de biodiesel feito pela companhia à base de resíduos da cadeia de produção de proteínas. Atualmente, são produzidos mais de 265 milhões de litros do biocombustível, transformando a JBS na maior produtora mundial verticalizada desse tipo de combustível, fundamental para a redução de emissões nos veículos de carga.

A companhia está construindo também uma fábrica de fertilizantes em Guaiçara, no interior de São Paulo. A novidade faz com que se torne a primeira empresa de alimentos no Brasil a utilizar resíduos orgânicos gerados em suas fábricas para produção de fertilizantes.

Outro exemplo é o desenvolvimento e a utilização do Piso Verde – criado por meio da reciclagem de embalagens plásticas de produtos in natura, de difícil reciclagem e que eram destinadas a aterros, e que hoje pavimentam uma área de 2.200 m2 da JBS Ambiental.

Como zerar as emissões de CO2

Essas ações estão em linha com o compromisso Net Zero, ou seja, a JBS vai zerar o balanço líquido de suas emissões de gases causadores do efeito estufa, reduzindo suas emissões e compensando toda a emissão residual até 2040.

“A sustentabilidade faz parte da estratégia da JBS e, dentro dela, existe a economia circular”, explica Susana Carvalho, diretora executiva da JBS Ambiental. O objetivo, diz ela, é agregar valor a algo que seria descartado no meio ambiente. “Dentro de uma cadeia sustentável não existe o conceito de resíduo. Tudo se torna ‘nutriente’.”

De forma direta, isso quer dizer que, na operação de economia circular dentro da JBS, os resíduos das operações e das atividades das plantas da companhia são tratados, reciclados e transformados em novos produtos, como sacos de lixo reciclado, lonas plásticas, paletes de plástico injetado e paletes de madeira. “O conceito de economia circular é reduzir a geração de resíduos, reutilizar e reciclar”, afirma a executiva.

Com esse mindset, a JBS já conseguiu reaproveitar 50% do total de resíduos produzidos em suas operações em todo o mundo. Somente em 2020, reaproveitou cerca de 1 milhão de toneladas de materiais que até então eram considerados lixo.

Os ganhos da economia circular

Para Mateus Peçanha, diretor do Instituto Lixo Zero Brasil, a ação de empresas dentro da economia circular se encaixa em alguns pontos de importância. Primeiramente, em tom de responsabilidade. “Repensar todo seu ciclo é uma forma de reduzir resíduos, gastos de energia e geração de carbono. Além disso, tem o impacto de uma mudança de comportamento e cultura, do linear para o circular”, explica.

Outro ponto importante, diz o especialista, é a questão dos benefícios econômicos. “Indústrias que possuem uma atenção em seu processo produtivo, desde a matéria-prima, passando pelo design, meios de produção e distribuição, conseguem identificar formas de reduzir materiais e resíduos, diminuindo automaticamente seus custos.”

Por fim, Peçanha lembra que existe a questão do compliance. “O atendimento à legislação também é muito importante, pois todas as empresas são responsáveis pela logística reversa de seu produto e, quanto mais circular ele for, mais ela estará atendendo a legislação.”

Peçanha diz ver um movimento muito grande de indústrias que buscam reduzir seu impacto, buscando materiais mais sustentáveis ou renováveis. “Porém, ainda é algo que se limita a projetos e linhas específicas.”

Legislação em pauta

A questão econômica, para o especialista, ainda é um fator que impede que muitas empresas entrem na economia circular. “A falta de cobrança de legislações já existentes também faz com que muitas fiquem em uma zona de conforto. Porém, o que considero mais importante é a conscientização aliada a um senso de responsabilidade por parte das empresas, e isso está vindo muito dos consumidores, que cada vez estão mais rígidos e procurando empresas sustentáveis.”

José Ricardo Roriz Coelho, presidente da Associação Brasileira da Indústria do Plástico (Abiplast), reitera a importância de se olhar para essa conscientização, dizendo que o modelo linear de produção e de consumo está esgotado. “O mundo percebeu, enfim, que a natureza é finita e oferece recursos limitados”, afirma. “Por isso, é preciso rumar para um modelo pautado na otimização dos recursos.”

Essa otimização, exemplifica Coelho, vai desde a gestão eficiente dos recursos e resíduos ao compartilhamento de bens, passando por prolongamento do ciclo de vida de produtos por meio do redesign até a reciclagem, envolvendo a reutilização. “Tudo está inserido na economia circular”, diz.

Cada vez mais global e inevitável, a economia circular envolve todas as cadeias produtivas, de todos os setores da economia até o consumidor final, e causa impactos positivos na sociedade: econômicos, sociais e ambientais.

“É uma alternativa que busca redefinir a noção de crescimento, com foco em benefícios para toda a sociedade”, afirma Coelho. “Isso envolve dissociar a atividade econômica do consumo de recursos finitos e eliminar resíduos do sistema por princípio. Apoiado por uma transição para fontes de energia renovável, o modelo circular constrói capital econômico, natural e social.”

Em agosto passado, a Abiplast realizou a 1ª edição do Circular Summit. O evento reuniu especialistas de diversos setores com a missão de promover os benefícios da economia circular para empresas, pessoas e o planeta. Foram dois dias de encontro virtual para debater novos modelos de negócios baseados em economia circular em uma década decisiva.

“É irrevogável a inserção paulatina de toda a indústria brasileira no âmbito da economia circular, sob pena da própria sobrevivência como modelo de negócio”, alerta Coelho. “As empresas que se adequarem e se adaptarem ao conceito fatalmente irão se sobressair, pois a economia circular maximiza o valor de produtos e serviços dentro do processo produtivo e minimiza a geração de resíduos e, por consequência, os custos.”

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-(Arte/Exame)

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