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Trace Finance já trouxe ao Brasil R$ 1,5 bi captados por startups lá fora. Como? Spreads baixíssimos

Leone Parise, Bernardo Brites e Rafael Luz são sócios da startup paulistana Trace Finance, focada em ajudar empreendedores a trazer recursos de aportes para o Brasil

Leone Parise, Bernardo Brites e Rafael Luz, sócios da Trace Finance: 1,5 bilhão de reais transacionados por uma plataforma dedicada a trazer recursos estrangeiros ao Brasil (Divulgação/Divulgação)
LB

Leo Branco

Publicado em 10 de setembro de 2022 às 09h30.

Última atualização em 12 de setembro de 2022 às 09h48.

Os empreendedores Leone Parise, Bernardo Brites e Rafael Luz são um dos principais exemplos de uma juventude disposta a não apenas ter um negócio, e sim ter um negócio capaz de crescer rápido — do tamanho de sua própria ambição.

Parise, de 35 anos, Brites, de 25, e Rafael Luz, de 27, são sócios da Trace Finance, uma fintech aberta em São Paulo em 2020 como spin-off de outra empresa de tecnologia.

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O negócio da Trace é ajudar empreendedores a trazer para o Brasil os recursos captados em aportes com fundos gringos, um evento de liquidez que virou rotina nos últimos anos, apesar da entressafra em 2022.

O que faz a Trace

Em pouco mais de um ano, os sócios saíram do zero para um volume de 1,5 bilhão de reais transacionados pela plataforma da Trace Finance.

Questão quase despercebida nos anúncios de aportes, a movimentação de recursos de fundos estrangeiros para o Brasil costuma brecar numa porção de burocracias.

Como não estão acostumados a realizar esse serviço, instituições financeiras mais tradicionais acabam pedindo muitos documentos e demoram a processá-los e a categorizar esse tipo de operação — em alguns casos, a coisa pode ficar arrastada por meses.

Além disso, para trazer investimentos estrangeiros, uma startup normalmente precisa ter uma holding nas ilhas Cayman e em Delaware, nos Estados Unidos.

"Na Trace, o dinheiro chega no mesmo dia", diz Brites.

A agilidade no serviço deriva do fato de a Trace estar 100% focada no negócio de câmbio.

Além de manter parcerias com as principais instituições financeiras do país e de outros países, de modo a conectar os bancos de investidores com os bancos de empreendedores tomadores do capital, a Trace serve também como uma consultoria de serviços jurídicos para startups em busca de recursos.

“Como a Trace está bem inserida neste mundo de venture capital, também ajudamos a conectar uma ponta com a outra”, diz Brites.

No mês passado, a fintech organizou um evento exclusivo para 100 pessoas com esse propósito na capital paulista.

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Quem são os clientes

Na lista de clientes já atendidos pela Trace estão grifes do ecossistema como a fintech Conta Simples, que já levantou mais de 120 milhões de reais de fundos como Valor Capital e Y Combinator.

A ideia de montar a Trace veio de experiências prévias dos sócios com o universo dos criptoativos.

Brites, hoje com 25 anos, iniciou sua carreira em 2017 como líder de parcerias na Decred, um projeto no mercado de ativos digitais. Sua principal atuação estava calcada na expansão institucional — ele dobrou a quantidade de corretoras parceiras da companhia logo no primeiro ano em que chegou.

Em 2019, Brites se juntou a Rafael Luz — que viria a se tornar COO da Trace — para lançar a Lasting Capital, onde conseguiram realizar a intermediação de mais de 400 milhões de dólares entre clientes brasileiros e corretoras de criptomoedas estrangeiras – a despeito da resistência a esse mercado no Brasil naquela época.

Com mais expertise e vivência no setor de câmbio, ambos decidiram seguir para um novo projeto — a Trace Finance. Para colocar a empresa em pé, contaram com a ajuda de um terceiro nome, Leone Parise (CTO), engenheiro de software que foi um dos primeiros membros da TrustWallet, maior carteira de criptomoedas do mundo, com mais de 20 milhões de usuários, e na Binance.

A ideia inicial era auxiliar startups em seus processos de câmbio, tanto na importação quanto na exportação. Quando conheceram a The Coffee, rede de cafeterias com inspiração japonesa, no entanto, mal esperavam que estavam prestes a encontrar uma promissora vertical de mercado.

A The Coffee precisava de ajuda para importar uma série de itens essenciais para a manutenção do negócio — desde chá verde do Japão até outros utensílios como copos e canudos. A Trace auxiliou na importação desses produtos e, pouco tempo depois, a rede a procurou. Desta vez, com um pedido diferente – ela precisava de auxílio para trazer o dinheiro que a The Coffee havia captado em rodada Série A liderada pelo fundo estrangeiro de venture capital Monashees.

“Estávamos apreensivos porque demoramos alguns dias para finalizar o serviço”, diz Brites. “Fiquei surpreso com o retorno da The Coffee dizendo que estava impressionada com a nossa rapidez.”

A rede de cafeterias estava há semanas realizando cadastro com grandes bancos e não tinha ideia de quando estaria apta a operar. Com a Trace conseguiram realizar a operação em menos de 3 dias, na época em regime MVP. Hoje a Trace finaliza o cadastro e operação de startups no mesmo dia.

“Fizemos em bem menos tempo e cobrando um décimo do que cobram os bancos”, diz Brites. “Foi quando eu e meus sócios percebemos uma grande oportunidade.” Desde então, a Trace ajudou diversas startups a receberem investimentos estrangeiros, como Mercado Bitcoin, Zippi, Flash, Medway e Emcasa.

Como a Trace ganha dinheiro

Atualmente, a Trace não cobra nenhuma taxa fixa — nem pelos serviços jurídicos que presta às empresas. O lucro vem apenas do spread das operações de câmbio que oferece — a maioria delas para trazer investimentos que uma startup recebe de fundos de venture capital estrangeiros.

O spread é a taxa final que instituições financeiras cobram para realizar serviços.

Entre 9 de setembro e 9 de outubro, como forma de comemorar a marca do 1,5 bilhão de reais transacionados, a taxa de câmbio será de até 0,05% para operações de câmbio realizadas para trazer aportes recebidos de fundos estrangeiros de venture capital e M&As.

“Nosso grande objetivo é melhorar a experiência financeira global dos clientes”, diz.

O ano de 2021 foi sem dúvida o melhor para o setor de venture capital no país. As startups receberam quase 10 bilhões de dólares em 1.264 negócios fechados, segundo a plataforma de inovação Distrito.

Altamente sensível a fatores como juros e inflação, entretanto, o setor teve um ajuste de liquidez em 2022. “Isso não quer dizer necessariamente que falta dinheiro”, diz Brites. "Os fundos seguem capitalizados, porém estão mais rigorosos em relação às empresas em que vão investir."

Até julho deste ano, as startups brasileiras receberam 3,3 bilhões de dólares em 383 operações. Há uma tendência de concentração de investimentos nas startups com maior potencial de darem certo, segundo ele. “Ainda tem muita oportunidade”, diz.

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