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Desperdício de alimentos: conheça 6 startups que trazem soluções para o problema

Foodtechs estão mudando o mercado alimentício com modelos de negócios e consumo que reduzem a quantidade de comida que vai para o lixo

No Brasil, mais de R$1,3 bilhão em frutas, legumes e verduras vão das prateleiras dos mercados para o lixo todos os anos, segundo a Associação Brasileira da Indústria de Alimentos (ABIA). (Jose A. Bernat Bacete/Getty Images)

No Brasil, mais de R$1,3 bilhão em frutas, legumes e verduras vão das prateleiras dos mercados para o lixo todos os anos, segundo a Associação Brasileira da Indústria de Alimentos (ABIA). (Jose A. Bernat Bacete/Getty Images)

EXAME Solutions
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Publicado em 16 de abril de 2024 às 09h44.

O Brasil é um dos maiores produtores mundiais de alimentos, mas também está entre os 10 países que mais desperdiçam comida no mundo, de acordo com a ONU. O problema afeta desde a produção agrícola até o consumidor final. 

Ao todo, segundo dados do IBGE, as perdas e desperdícios no Brasil são estimados em cerca de 30% de toda a produção alimentar, representando cerca de 46 milhões de toneladas de alimentos por ano. Ao mesmo tempo, milhares de pessoas sofrem de fome ou insegurança alimentar.

Nesse contexto, muitas startups viram no desperdício uma oportunidade de negócio e têm se destacado ao criar soluções inovadoras para enfrentar o problema  de forma eficiente e sustentável em diferentes estágios da cadeia de produção e distribuição. Conheça algumas iniciativas:

Fruta Imperfeita

Para entender o desperdício, é preciso fazer o caminho que o alimento percorre do campo até chegar à mesa. Foi o que fizeram Roberto Matsuda e Nathalia Inada ao criar a Fruta Imperfeita - startup cujo modelo de negócios é a assinatura de frutas e legumes. Os empresários notaram que, além das questões logísticas, de armazenamento e embalagem, as perdas de produtos frescos no Brasil são fortemente influenciadas por padrões estéticos. “Lá em 2015, visitamos mais de 30 produtores e vimos que muitos alimentos eram descartados porque não eram vendidos devido à aparência”, conta Roberto Matsuda.

Como solução, em uma ponta, a Fruta Imperfeita ajuda os pequenos produtores comprando produtos que não se enquadram nos padrões do mercado e, na outra, vende diretamente para o consumidor final, por meio de cestas que privilegiam produtos locais, sazonais e imperfeitos. A partir de 2020, a startup expandiu a operação para o B2B, atuando com bares e restaurantes, e diversificou os produtos, incluindo itens de pequenos artesãos, como geleias, nuts e vinhos - combatendo o desperdício em outras etapas de produção.

Para Roberto Matsuda, um dos maiores desafios é conscientizar o consumidor final de que ele pode consumir frutas e legumes imperfeitos (Fruta Imperfeita/Divulgação)

Desde sua criação, a Fruta Imperfeita já salvou mais de 5 mil toneladas de frutas e legumes. Isso representa um faturamento de mais de R$ 20 milhões para a empresa, incremento de até 20% ao mês na renda de 100 pequenos produtores rurais e um impacto positivo na vida de mais de 100 mil pessoas do estado de São Paulo.

Frubana

A foodtech Frubana nasceu com a missão de tornar a comida mais barata na América Latina e simplificar a vida do pequeno produtor rural e dos restaurantes. Mas, se deparou com um obstáculo: o desperdício, que acaba sendo repassado no preço dos alimentos.

A empresa identificou que a falta de previsão na produção, problemas no transporte e a incerteza na revenda dos produtos eram os principais fatores do desperdício de alimentos, e passou a atuar nessas três frentes.

Otávio Pimentel no galpão da Frubana. (Frubana/Divulgação)

Segundo Otávio Pimentel, country manager da Frubana, na primeira, são feitos acordos com os produtores com base na demanda dos restaurantes, utilizando tecnologia para prever com antecedência as necessidades de compra. Na segunda, o produtor faz a entrega e a startup leva os produtos direto para o estabelecimento comprador. Já no terceiro ponto, a Frubana garante que as empresas comprem na plataforma todos os dias e recebam com hora marcada.

“Isso elimina intermediários e minimiza o manuseio dos alimentos”, explica Pimentel.

O impacto pode ser observado na redução do desperdício na cadeia atualmente. “Quando começamos, a gente estava com uma taxa de 10% e fomos diminuindo isso ao longo do tempo para 0,8%”, conclui. Nos próximos 18 meses, a Frubana espera diminuir a taxa de desperdício para 0,5%.

Daki

Ao operar no segmento de mercado sob demanda com entregas em minutos e agendadas, a Daki atua em duas vertentes para reduzir o desperdício. A primeira delas foca em evitar que os alimentos estraguem ou sofram danos durante o transporte, aplicando tecnologias próprias para melhorar a movimentação dos produtos entre os centros de distribuição e a casa dos consumidores. A segunda evita que o produto estrague na prateleira e, para isso, a empresa criou uma categoria em seu aplicativo para oferecer descontos em produtos próximos ao vencimento.

Mesmo assim, de acordo com Henrique Falcão, Diretor de Growth & MKT da Daki, um grande volume de alimentos ainda fica perto de vencer ou de estragar. Para reduzir esse impacto, a empresa firmou parceria com a ONG Associação Prato Cheio e o excedente de alimentos, principalmente vegetais, é coletado e distribuído para entidades assistenciais. “Saber que o nosso trabalho já levou comida para mais de 8 mil pessoas e destinou mais de 40 toneladas de alimentos para essas refeições, é muito gratificante e vai ser sempre maior do que qualquer métrica de negócio”, ressalta Henrique Falcão.

b4waste

A startup b4waste também atua no combate ao desperdício de alimentos, mas com foco na venda dos supermercados. A empresa identificou que o varejo é um dos setores que mais enfrentam essa dor e tinha espaço para uma solução disruptiva: “Estamos falando de uma venda anual de 800 bilhões de reais, dos quais 16 bilhões são desperdiçados anualmente”, aponta o CEO, Luciano Kleiman. 

Luciano Kleiman mostra o app b4waste. Hoje em São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte, a startup quer triplicar o tamanho da operação em 2024. (b4waste/Divulgação)

O aplicativo do b4waste foi pensado para conectar os varejistas que buscam evitar o descarte de alimentos próximos ao vencimento a consumidores dispostos a consumi-los dentro do prazo de validade, pagando preços acessíveis. Para as redes parceiras, a b4waste calcula que o serviço gera redução de 40% no prejuízo proveniente do descarte de produtos.

Em 2 anos de operação, a b4waste já salvou mais de 4,2 milhões de refeições. A empresa estima que esse valor equivale a mais de 2.700 toneladas de alimentos, o que representa a prevenção da emissão de 6 mil toneladas de CO² na atmosfera e do gasto de 1,4 bilhões de litros de água. 

SuperOpa

Para Luis Borba, CEO da startup SuperOpa, o erro na previsão de demanda e a burocracia nas operações do dia a dia, como a adequação a milhares de regras tributárias e o trâmite com grandes redes varejistas, são fatores que contribuem para o desperdício. Para lidar com esses desafios, a empresa está usando inteligência artificial na precificação de produtos com tempo de prateleira inferior a 50% - garantindo preço justo e que o estoque de produtos com validade curta gire em tempo hábil para consumo, além de simplificar seus processos.

"Também criamos canais únicos para comercialização desses produtos que antes não eram recebidos pelo varejo tradicional, onde os consumidores encontram alimentos com descontos agressivos e transparência quanto à validade de cada produto", afirma Luis Borba.

De acordo com Luis Borda, um trabalhador consegue economizar até 50% em suas compras de alimentos utilizando as plataformas SuperOpa. (SuperOpa/Divulgação)

Recentemente, a startup lançou uma solução para empresas que fornecem cestas básicas para os funcionários como benefício, o app FoodPass. Além dos alimentos tradicionais, o colaborador tem a opção de incluir produtos próximos da validade na cesta, fazendo seu crédito render ao conseguir comprar mais alimentos, já que os preços são mais baratos.

Em 2023, a SuperOpa atingiu 2 milhões de kg de alimentos salvos e está empenhada em ampliar as metas de impacto ambiental e social. “Queremos atingir o marco de 10 milhões de kg de alimentos salvos até 2025, o que representaria 21 mil toneladas de CO² que deixaram de ser emitidas na atmosfera”, vislumbra o CEO da startup. 

FOTO 5 - LUIZ BORBA

Legenda: De acordo com Luis Borda, um trabalhador consegue economizar até 50% em suas compras de alimentos utilizando as plataformas SuperOpa (Divulgação/SuperOpa)

Restin

A cadeia de produção e distribuição de proteína é complexa e o produto estraga rápido. Nesse cenário, a foodtech Restin criou uma solução para evitar o desperdício: conectar produtos FIFO da indústria alimentícia, especialmente carnes, com o mercado de Food Service. “Negociamos com a indústria a compra do lote próximo à validade, mandamos para o nosso Centro de Distribuição e, de lá, enviamos para bares e restaurantes de pequeno e médio porte localizados em São Paulo e região do ABC”, explica o CEO, Luciano Almeida.

A investidora e sócia da Restin, Carol Paiffer, lembra que o trabalho da startup tem relevância não só pelo impacto social, mas também por ser uma solução interessante para a gestão financeira. “Tanto para a indústria que vai evitar esse desperdício - isso significa dinheiro, quanto para o dono do estabelecimento, que vai conseguir comprar esses insumos mais baratos”, explica.

Há um ano e meio, a Restin migrou de um modelo de negócios B2C para B2B, o que permitiu que a empresa se especializasse em atender o setor de carnes, firmando parcerias com grandes empresas.  Luciano Almeida ressalta que a empresa já conseguiu salvar mais de 55 toneladas de proteínas. “Agora, nosso objetivo é chegar ao faturamento de R$ 3,5 milhões e resolver 100%  do desperdício da indústria”.

Atualmente, a Restin está captando investimentos para escalar as operações para outras cidades e desenvolver sua plataforma de vendas, incluindo análises de produtos com base no Recommended Practice (RP) da indústria. “Estamos abertos a novas soluções, a parcerias com outras empresas e startups”, reforça Carol Paiffer.

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