Negócios

De botequeiro a empreendedor: ele fatura R$ 2,5 milhões com a venda de cachaça de jambu

Marca planeja expansão internacional e o lançamento de novos produtos com gim e licores, todos usando o jambu como ingrediente

Leodoro Porto, da Meu Garoto: para sair do balcão e ir para a indústria foi algo muito grande porque, realmente, eu estava vendendo pinga, eu era o botequeiro (Meu Garoto/Divulgação)

Leodoro Porto, da Meu Garoto: para sair do balcão e ir para a indústria foi algo muito grande porque, realmente, eu estava vendendo pinga, eu era o botequeiro (Meu Garoto/Divulgação)

“Se você quiser saber o que a jamburana faz, o tremor do jambu é gostoso demais, o tremor do jambu é gostoso demais”, assim começa a letra “Jamburana”, canção de Dona Onete, um ícone da música paraense. Os versos funcionam bem para descrever a sensação de tremor, formigamento e dormência que as pessoas sentem ao provar a cachaça de jambu, uma mistura que começou a se espraiar pelo Brasil a partir da década passada.

Tradicional na bacia do Amazonas, o jambu - também conhecido como jamburana, agrião do pará e agrião bravo - é uma planta presente em receitas como o Tacacá, prato indígena com camarão, e pato com tucupi. E, desde 2011, se transformou em ingrediente de cachaça graças a Leodoro Porto, piauiense da cidade de Piripiri.

Ele chegou ao estado amazônico em definitivo em 1994, logo após ter morado por três anos em São Paulo, cidade onde trabalhou na construção civil, de servente de pedreiro a almoxarife. Com o dinheiro, comprou o bar “Meu Garoto”, à época uma filial de um bar do seu irmão.

Porto celebrava o Círio de Nazaré, a maior festividade da religião católica em Belém, no Pará, e conhecida por ser uma data de fartura. Ele comia um prato no tucupi e tomava uma cachaça em casa quando a ideia vem à mente. “Será que a cachaça vai tirar essa essência do jambu e transmitir para a pessoa quando ela apreciar”. O passo seguinte foi correr até o Ver-o-Peso, mercado famoso na cidade por suas ervas, para comprar jambu.

Assine a EMPREENDA e receba, gratuitamente, uma série de conteúdos que vão te ajudar a impulsionar o seu negócio.

O piauiense é um apreciador de cachaça e sempre gostou de ‘temperá-las’, resgatando uma tradição nordestina de adicionar raízes e plantas às bebidas para captar novos sabores. A infusão com jambu surgiu neste ambiente.

Com a nasce a marca Meu Garoto

A primeira versão da mistura ficou terrível, esverdeada, amarga e espumava na boca. Fez outras tentativas e nada. Foi quando resolveu dar um tempo e guardar as garrafas onde costumava armazenar as demais infusões. Três meses depois foi ao depósito e viu um amarelo dourado.

“Égua moleque”, disse, ecoando uma expressão da região. “Eureca”, foi o grito seguinte quando provou. “Eu vi que tremeu e que tinha adquirido aquilo que eu estava buscando”. Nascia a marca de cachaça de jambu Meu Garoto, vendida inicialmente no próprio bar.

A mistura ganhou fama local e, para atender a demanda, Leodoro recorreu ao uso de garrafas de reciclagem, valia de cascos de tequila, whiskey a 51. Aproveitando da criatividade mais raiz dos brasileiros para encarar os perrengues, a marca aparecia apenas com um adesivo que continha a informação "cachaça de jambu”.

Em determinado ponto, enxergou o potencial do negócio e a necessidade de regularizar o produto. De dono de bar, que ficava ali atrás do balcão a vender e conversar com os fregueses, teve que colocar um um outro chapéu.

Como foi a transformação como empreendedor

“Para sair do balcão e ir para a indústria foi algo muito grande porque realmente eu estava vendendo pinga, eu era o botequeiro”, afirma. “Foram várias aprovações, eu pensava quase em desistir porque quando você vê um obstáculo que você não entende, não tem conhecimento, ele se torna muito grande na sua mente”.

Entre as questões que perturbaram o pequeno industrial, entraram desde a criação e o registro da marca juntos aos órgãos de regulamentação, os tipos de garrafas para o produto e os equipamentos necessários para estruturar a fábrica, montada a partir de 2014 na cidade de Ananindeua, na região metropolitana de Belém.

A cachaça é comprada de produtor terceirizado, e o espaço industrial é utilizado para fazer todo o processo de mixologia, armazenagem e envase da bebida. Em outra parte da propriedade, Porto fez o plantio de jambu, hoje com um volume que atende a 40% de todo o jambu necessário para a produção da marca, em torno de 8 mil litros por mês.

Quais os próximos passos da Meu Garoto

Atualmente, a Meu Garoto é distribuída por todos os estados do país, com demanda impulsionada pelos mercados de São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro, em estabelecimentos como empórios, cachaçarias e restaurantes.

A marca também lojas próprias e quiosque em Belém, além de espaço nos Lençóis Maranhenses. Na estratégia, prevê marcar mais presença na região litorânea do país. “O nosso produto é muito do turista. O turista estrangeiro fica louco pela cachaça”, afirma. Até de olho neste interesse, a marca está buscando a internacionalização, começando por Portugal a partir de um distribuidor.

Como a versão original tem um gosto mais forte, Leodoro criou novos sabores com uma linha chamada “jambuci”, que responde por 25% do faturamento de 2,5 milhões de reais. Nela, conta com as opções mais adocicadas e com menor teor alcoólico:

  • jambu com açaí
  • jambu com bacuri
  • Jambu com cupuaçu
  • jambu com castanha-do-Pará

Agora, prepara a entrada da Meu Garoto em outros setores de bebidas. Até meados do ano, pretende lançar gim e licores de jambu e um molho de pimenta, à base de cachaça com jambu.

LEIA TAMBÉM:

Especialista em PIX, startup de gestão de pagamentos recebe aporte de R$ 7 milhões

Startup com foco em crianças com autismo recebe aporte de mais de R$ 50 milhões

Escola de tecnologia de tricampeão brasileiro de robótica capta mais de R$ 23 milhões

Acompanhe tudo sobre:EmpreendedorismoPará

Mais de Negócios

Escola bilíngue de excelência: a proposta da Start Anglo para formar os cidadãos do futuro

De novas fábricas a uma agência de desenvolvimento: os planos de Eduardo Leite para reerguer o RS

Empresas estão deixando de economizar até 70% em impostos, diz o advogado Eliézer Marins

21 franquias baratas que custam menos que um carro popular usado