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Como Fiat e Peugeot Citroën podem se dividir para conquistar o Brasil

União pode levar empresas a ganhar importantes - e rentáveis - fatias do mercado brasileiro, que figura entre os dez maiores do mundo

Produção da Fiat em Betim: sinergias em plataformas e produtos (FCA/Divulgação)
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Juliana Estigarribia

Publicado em 18 de dezembro de 2019 às 16h50.

Última atualização em 18 de dezembro de 2019 às 16h55.

O acordo de fusão entre a Fiat Chrysler (FCA) e a PSA , dona das marcas Peugeot e Citroën, deve trazer importantes sinergias para os dois grupos no Brasil. A expectativa é que a nova empresa ganhe participação em segmentos de entrada, médio e maior valor agregado, além de obter um fortalecimento das marcas francesas no país.

A FCA tem 18,9% do mercado brasileiro, com aproximadamente 500 mil unidades vendidas no ano, fruto do bom desempenho da Fiat em categorias de entrada e também da Jeep, líder absoluta em SUVs. Se somadas as duas marcas, a empresa é líder no país. Já a participação da Peugeot e da Citroën é de 1,9%, com 44 mil unidades vendidas no acumulado deste ano.

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Com a fusão, abre-se uma excelente oportunidade para o grupo francês crescer no país. "APSA pode se beneficiar da ampla capilaridade da Fiat Chrysler, resultando em maior visibilidade e vendas.No médio e longo prazo, deve haver um compartilhamento de novas plataformas, o que vai ser importante para redução de custos das empresas", afirma Milad Kalume Neto, gerente da consultoria automotiva Jato Dynamics.

A Peugeot tem 100 concessionárias no Brasil e, a Citroën, 101. A meta é dobrar o número de lojas no país até 2022, informou a PSA. Em um cenário de conclusão da fusão, o grupo francês deve se beneficiar da forte capilaridade da FCA, que tem a maior rede do Brasil, se somadas todas as suas marcas: são 524 concessionárias Fiat e 203 Jeep (incluindo as que levam as bandeiras Dodge, RAM e Chrysler).

No Brasil, a FCA tem um portfólio bem mais amplo, desde o popular Mobi até os SUVs Renegade e Compass, da Jeep. Por outro lado, a PSA sempre teve uma participação pequena por aqui, com melhor desempenho do hatch 208 e mais recentemente com os SUVs Cactus e 2008.

"Podemos esperar um reposicionamento das marcas, com a Fiat nas categorias de entrada, a PSA no segmento médio e a Jeep em maior valor agregado", diz Neto.

Confira os modelos mais vendidos das empresas no Brasil:

FCA

1º - Argo (hatch) - Fiat

2º - Strada (picape de entrada) - Fiat

3º - Toro (picape média) - Fiat

4º - Renegade (SUV de entrada) - Jeep

5º - Compass (SUV médio) - Jeep

PSA

1º - Cactus (SUV de entrada) - Citroën

2º - 2008 (SUV de entrada) - Peugeot

3º - 208 (hacth) - Peugeot

4º - C3 (hatch) - Citroën

5º - Aircross (SUV de entrada) - Citroën

Plataformas

Com a fusão, espera-se que haja sinergias importantes de custos. No Brasil, a FCA tem duas fábricas, a de Betim, Minas Gerais, considerada a maior do país, e a de Goiana, em Pernambuco, onde são produzidos os SUVs da Jeep.

A Peugeot tem uma fábrica em Porto Real, no Rio de Janeiro, onde são fabricados também motores, item mais caro de um veículo. Além da produção voltada para o mercado local, a unidade exporta para países da América do Sul, principalmente a Argentina, onde a participação da Peugeot é expressiva, além de África e Europa.

Diante de uma fusão, as possibilidades de compartilhamento são grandes. O mercado está repleto de exemplos, tanto nas linhas de produção como em produtos.

A Volkswagen aposta fortemente em sua moderna plataforma MQB, que é compartilhada entre marcas do grupo como Audi e Skoda. No início da década, a Fiat lançou o SUV Freemont, primeira tentativa de sinergia de produto da então recém criada Fiat Chrysler:  um Dogde com preço "mais amigável".

"O compartilhamento de know-how poderá trazer melhorias de produtos em ambos os lados, até mesmo em conectividade. Desenvolver softwares e hardwares é extremamente complexo e caro, principalmente por conta de cybersecurity", diz Murilo Briganti, diretor de produto da consultoria automotiva Bright Consulting.

Aliança global

Os dois grupos se complementam nos mercados em que atuam. A FCA é forte nos Estados Unidos, onde vende grandes volumes de picapes e SUVs. Além disso, tem posição consolidada na América Latina com veículos menores.

Já a PSA é inquestionavelmente forte no mercado europeu, onde domina os segmentos de hatchs e crossovers, além de ter participação substancial na África e na Ásia.

Com a união, as empresas poderão também dividir os vultosos investimentos necessários para desenvolver o veículo do futuro: elétrico, autônomo e altamente conectado.

Briganti lembra que a FCA já entregou várias peruas da marca Chrysler para a WAYMO,empresa de desenvolvimento de tecnologias para carros autônomos,como parte de sua estratégia para avançar na área. O grupo francês pode se beneficiar desse know-how.

Para o grupo ítalo-americano, a PSA é uma boa oportunidade de parceria para o desenvolvimento de elétricos, uma vez que investimentos consideráveis têm sido feitos na área pela dona da Peugeot.

As sinergias se mostram evidentes em um mercado que passa por profundas transformações. No entanto, colocar em prática um novo plano ambicioso de mais uma gigante automotiva, em um cenário de mudanças também do perfil do consumidor, é um desafio cujos resultados são imprevisíveis.

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