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Como crescer com consistência

A paulista Cleusa Maria da Silva fatura 700 milhões de reais com a rede de franquias de docerias Sodiê. A receita para chegar lá: disciplina e austeridade

Cleusa Maria da Silva, da SODIÊ: De trabalhadora rural à líder de uma empresa com 400 lojas e mais de 5.000 funcionários
 (Leandro Fonseca/Divulgação)

Cleusa Maria da Silva, da SODIÊ: De trabalhadora rural à líder de uma empresa com 400 lojas e mais de 5.000 funcionários (Leandro Fonseca/Divulgação)

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Publicado em 24 de julho de 2024 às 18h00.

Última atualização em 25 de julho de 2024 às 12h00.

A rede paulista de docerias Sodiê acumula indicadores importantes. Deve terminar o ano de 2024 com 400 lojas abertas, empregando mais de 2.700 pessoas, produzindo cerca de 750 toneladas de alimentos por mês e faturando 700 milhões de reais. “Até o DJ Alok é meu cliente”, diz a fundadora Cleusa Maria da Silva, de 56 anos. “Mas gosto de ver meus produtos sendo consumidos pelos mais diferentes tipos de pessoas, de gente famosa até o boia-fria”, diz ela.

Não faz muito tempo, Cleusa também era uma trabalhadora rural. Em Salto, no interior de São Paulo, colheu algodão e soja dos 9 aos 16 anos. Depois de passar algumas temporadas na capital para terminar a 8a série enquanto equilibrava suas atividades como doméstica, voltou para sua cidade natal e encontrou um emprego como ajudante-geral numa fábrica que produzia bobinas para alto-falantes.

Certo dia, a mulher do dono da empresa fez um pedido inusitado a Cleusa: auxiliar na produção de 35 quilos de bolos a serem vendidos pela cidade. Cleusa a ajudou em tempo recorde, embora nunca tivesse feito um doce na vida. Depois de um tempo, ganhou dessa mesma pessoa sua primeira batedeira. Foi o início de uma rotina de trabalho convencional durante o dia, uma jornada na cozinha à noite e plantões aos fins de semana para venda dos bolos.

A empreendedora ficou assim por dois anos. Em 1997, conseguiu abrir seu próprio negócio com a sua rescisão somada à do seu irmão. Era uma loja de 20 metros quadrados, com o freezer servindo como balcão, uma pequena vitrine e duas mesinhas de bar num bairro simples de Salto. No local, aprendeu a lição mais importante da sua trajetória de empreendedora: disciplina. Sem grande capital para investir em ganho de escala, fez da austeridade a sua melhor amiga. “Muito empresário se perde ao misturar o dinheiro da empresa com o dele”, diz. Só após cinco anos Cleusa realizou seu primeiro movimento de expansão, com a abertura de uma loja de 80 metros quadrados no centro de Salto. “Foi um investimento de tudo o que tinha guardado até então, e não precisei contrair nenhuma dívida”, diz.

Após alguns anos, em sociedade com amigas, inaugurou docerias em Itu, Indaiatuba e Sorocaba, to- das no interior paulista. A Sensações Doce, como era chamada na época, ganhou corpo. Clientes viajavam da capital só para consumir os bolos de Cleusa. Um dos clientes de longe insistia para Cleusa franquear sua marca para ele abrir uma unidade. Instigada, ela decidiu fazer um curso para entender a viabilidade do projeto. Cleusa estabeleceu um rigoroso padrão de expansão. Contratou nutricionistas, profissionais de marketing e advogados, criou uma área de treinamento e de auditoria e uma identidade visual que todos deveriam seguir. “Com a venda de uma franquia, investia cada centavo de volta no negócio”, diz. “Meu segredo foi não ter me deslumbrado.”

Quando contava com 70 lojas, teve uma reviravolta. Por uma questão de registro de marca, teve de mudar o nome da franquia. Novamente, Cleusa gastou todas as economias para criar uma identidade visual e executá-la em todas as unidades. Repaginou todas as fachadas e a decoração interior das lojas, incluindo tapetes, quadros, uniformes dos funcionários, entre outros. Rigorosa com o padrão tanto visual quanto de qua- lidade da rede, Cleusa fez questão de custear a mudança, ainda mais porque a maioria dos franqueados estava começando a ganhar tração. “Parcelei tudo e fiquei três anos para pagar as despesas”, diz Cleusa.

Arrependimentos? Nenhum. Afinal, foi nesse momento que nasceu a marca Sodiê, uma junção dos primeiros nomes de seus filhos, Sofia e Diego. Foi também um sinal de que sua disciplina para gerir seus negócios não era apenas uma mola propulsora, mas um cinto de segurança para mo- mentos de turbulência. Passado esse período, Cleusa dirigiu seu foco ainda mais à expansão e à conformidade de padrão e atendimento da sua rede. Atualmente, a Sodiê tem uma área de qualidade que visita todas as lojas com frequência para verificar limpeza, utilização do uniforme da maneira correta e cumprimento das regras. Para Cleusa, qualquer unidade tem de conseguir fazer um bolo na hora para o cliente se ele precisar.

Recentemente, a companhia anunciou a expansão da sua fábrica de salgados a partir de um investimento de 20 milhões de reais. Coxinhas e quiches são o carro-chefe. O cardápio de doces, por sua vez, tem quase uma novidade por mês: bolo da boneca Barbie, bolo com a apresentadora Ana Maria Braga, especiais de Páscoa, e por aí vai. Atualmente, a menina dos olhos de Cleusa é a fábrica de chocolates premium da Sodiê, que deve ficar pronta até 2026 para vender os produtos tanto na rede franqueada quanto em lojas próprias. “Trabalhar com doce é consagrar momentos de felicidade”, diz Cleusa.

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