Como a Sears foi de maior varejista do mundo para a beira da falência
Rede chegou ao auge nos anos 1960 - mas não se adaptou à internet e hoje tem uma dívida de 5,6 bilhões de dólares.
Mariana Desidério
Publicado em 15 de outubro de 2018 às 14h19.
Última atualização em 15 de outubro de 2018 às 14h27.
São Paulo – A rede de varejo norte-americana Sears já foi a maior do mundo e hoje está perto do fim da linha. Com uma dívida de 5,6 bilhões de dólares, a companhia anunciou hoje que vai fechar 142 lojas e recorreu à lei de falências dos Estados Unidos para tentar um suspiro final e se reorganizar.
Mas como uma rede deste tamanho conseguiu entrar numa crise tão profunda? A verdade é que a Sears não caminha bem há muito tempo.
Fundada em 1888 como uma empresa de venda de joias e relógios por catálogo, a Sears passou a operar lojas físicas na década de 1920 e viveu seu auge na década de 1960, quando chegou a ser a maior varejista do mundo.
Porém, a concorrência chegou e a Sears começou a ver seu império encolher. Em 1991, o Walmart superou a rede como maior varejista dos Estados Unidos. Em 2004, a rede foi vendida para a Kmart. A chegada da internet e a crise econômica de 2008 complicaram a vida da companhia.
O comando da empresa passou a ser questionado. Desde a venda para a Kmart, a Sears passou a ser gerida por Edward Lampert. Maior acionista do grupo, Lampert tem sido alvo de duras críticas. Há quem diga que sua posição de acionista e CEO levou a decisões prejudiciais para a empresa. Ele acaba de anunciar que deixará o comando do grupo.
Há mais de dez anos, o mega-investidor Warren Buffett já previu que o futuro da companhia não seria promissor. Questionado sobre o tema numa entrevista em 2005, Buffett respondeu: "Mudar o rumo de uma varejista que está patinando há muito tempo seria muito difícil. Quantas varejistas realmente afundaram e conseguiram se reerguer? Não consigo pensar em nenhuma."
Apocalipse do varejo
É difícil dizer se a varejista vai conseguir sair deste buraco. Nos últimos anos, a Sears fechou centenas de lojas e vem perdendo espaço para as vendas online, de concorrentes como a Amazon. Em 2008, as ações da companhia valiam mais de 100 dólares – no ano passado chegaram a menos de 1 dólar.
A rede não é a única a sofrer os efeitos do chamado “apocalipse do varejo”. O juízo final do setor parece cada vez mais próximo no mercado norte-amercano: shoppings centers fecham as portas, a rede de brinquedos Toys R Us decidiu encerrar as atividades no país e a loja de departamentos Macy's também vive dias complicados.
No Brasil, as vendas online ainda não trouxeram consequências tão radicais. Mas é inevitável pensar que mais cedo ou mais tarde o apocalipse chegará por aqui e deve abalar redes consolidadas, como tem feito nos Estados Unidos. Vale lembrar que a Amazon chegou ao Brasil vendendo apenas livros, e hoje já oferece eletrônicos, roupas e artigos para casa.
Neste cenário, especialistas dizem que, para se manter em pé, será necessário aliar as vendas físicas com o varejo online. Ainda dá tempo para as varejistas brasileiras – para a Sears, parece que ficou tarde demais.