Cinco questões não respondidas sobre a descontratação do CEO do Santander
O conselho de administração do banco espanhol desistiu de nomear o italiano Andrea Orcel, alegando despesas excessivas de 50 milhões de euros
Da Redação
Publicado em 17 de janeiro de 2019 às 07h29.
Última atualização em 17 de janeiro de 2019 às 08h42.
O conselho de administração do banco espanhol Santander desistiu anteontem de nomear o italiano Andrea Orcel, ex-presidente do banco de investimentos suíço UBS, como seu novo líder por discordâncias quanto à remuneração do executivo.
Ao sair do UBS depois de fechar o acordo com o Santander, em setembro, Orcel ainda tinha direito a receber 50 milhões de euros do banco suíço como bônus diferido – um tipo de remuneração variável paga em dinheiro e ações da companhia que só podem ser vendidas após determinado período de tempo.
Como o UBS não quis pagar, já que Orcel estava rumando para um concorrente, o executivo passou a pedir que o Santander arcasse com o montante. O espanhol achou que pegaria mal ante seus funcionários e acionistas pagar essa bolada de cara para um novo colaborador e dispensou Orcel.
O desfecho surpreendeu a comunidade financeira internacional, um mundo de grandes egos e altas cifras, mas ainda há diversas perguntas não respondidas nessa história. Os detalhes picantes da discussão devem aparecer nos próximos dias.
1 – O Santander e Orcel não tinham feito a conta direito de quanto o executivo deveria receber?
É difícil de acreditar que, em uma negociação desse nível, somente às vésperas da assinatura do contrato de trabalho o executivo e o banco espanhol falaram sobre o bônus que não foi pago pelo UBS.
2 – Por que o UBS optou por endurecer com Orcel quando, nesse tipo de negociação, os bancos costumam ser flexíveis por conta das relações que precisam manter com outras instituições financeiras?
Segundo agências de notícias internacionais, a herdeira e presidente do conselho de administração do Santander, Ana Botín, esperava que o UBS pagasse Orcel para não abrir um mal-estar com o Santander. Além disso, em conversas com o presidente do banco suíço, a executiva chegou a argumentar que a ida do italiano para o Santander não chegava a ameaçar o UBS. Enquanto o espanhol atua no varejo, abrindo contas correntes e dando crédito para pessoas físicas e empresas, o suíço opera como banco de investimento e tem como alvo um público de alta renda. Mas o UBS não arredou pé.
3 – Orcel pode tomar alguma medida legal contra o Santander?
Não se sabe qual foi efetivamente o acerto feito entre o banco e o executivo no momento em que anunciaram a parceria. Se o Santander sinalizou para Orcel que pagaria o bônus diferido do UBS, o executivo pode ir à Justiça exigir o cumprimento dessa promessa, já que a sua carreira está em risco por conta do movimento frustrado. O grande objetivo profissional do italiano era ser o presidente de um banco multinacional de porte.
4 – O questionamento dos conhecimentos de Orcel sobre o varejo bancário tiveram peso na decisão do Santander de voltar atrás na sua nomeação?
Desde que o executivo italiano foi anunciado como novo presidente do Santander, a sua experiência como executivo de banco de investimento foi apontada por especialistas e analistas de mercado como insuficiente para credenciá-lo a liderar um gigante que tem patrimônio líquido total de 1,4 trilhão de euros. Em meio à briga pelo bônus diferido, essas dúvidas podem ter ganhado força na diretoria do banco espanhol.
5 – Com a descontratação de Orcel, quem vai substituir Jose Antonio Alvarez como presidente do Santander?
Ao avisar que Orcel havia sido dispensado, o conselho de administração do banco espanhol informou que seu atual presidente, Jose Antonio Alvarez, segue no posto. Por quanto tempo, é uma incógnita. A substituição tinha sido divulgada pelo Santander como um passo na estratégia para recuperar valor do banco, cujas ações caíram 28% no último ano.