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Ceará vs. Goiás: o duelo de resorts

O Beach Park e o Rio Quente Resorts, os dois maiores complexos hoteleiros com parques aquáticos do Brasil, compartilham recordes de ocupação

RIO QUENTE: a meta da empresa é dobrar o faturamento até 2020, para 600 milhões de reais  / Divulgação (Rio Quente/Divulgação)

RIO QUENTE: a meta da empresa é dobrar o faturamento até 2020, para 600 milhões de reais / Divulgação (Rio Quente/Divulgação)

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Da Redação

Publicado em 27 de outubro de 2016 às 11h50.

Última atualização em 18 de julho de 2018 às 15h03.

Betina Neves

Um se estende junto aos coqueirais do litoral do Ceará; outro, pelos arbustos retorcidos do Cerrado goiano. Entre as atrações do primeiro corre água fria (mais precisamente 7.793.000 litros), já o segundo é abastecido por 18 fontes termais que brotam da terra. Em comum, além do clima majoritariamente ensolarado e o público familiar, o Beach Park e o Rio Quente Resorts, os dois maiores complexos hoteleiros com parques aquáticos do Brasil, compartilham recordes de ocupação, investimentos na casa dos seis dígitos e nenhum sinal de crise.

São, sob qualquer ângulo que se olhe, um caso raro no mercado brasileiro de turismo, em que os casos de fracasso são muito mais comuns que os de sucesso. O Costa do Sauípe, no litoral baiano, por exemplo, que nasceu há 16 anos com um plano pra lá de ambicioso da Previ, o fundo de pensão do Banco do Brasil, está à venda. O próprio Rio Quente é um dos principais candidatos, segundo executivos do setor (a empresa nega).

“Este ano nos beneficiamos com os brasileiros que deixaram de ir ao exterior”, diz Francisco Costa, CEO do Grupo Rio Quente. Com cinco décadas em atividade, o complexo a 27 quilômetros de Caldas Novas (GO) foi de um hotel de madeira de 20 quartos com uma piscininha qualquer nota nos anos 1960 para um gigante de 497.000 metros quadrados com oito hotéis que somam mais de 1.000 quartos e dois parques (abertos também a não hóspedes). Em 2015 foram ao todo 1,5 milhão turistas. E, em julho deste ano, houve recorde de visitação no período, historicamente o melhor para o resort: 200.000 pessoas.

Uma das razões do sucesso é a boa taxa de retorno, de 55%. Para manter os habitués entretidos e conquistar novos, um leque de novidades é inaugurado anualmente: entre 2013 e 2016 foram 100 milhões em investimentos, que trouxeram um spa, 88 novos apartamentos para o Hotel Crystal (o mais luxuoso dos hotéis, onde a taxa de ocupação este ano foi 93%), o Hotibum, um brinquedão infantil com oito toboáguas, e o Eko Aventura Park, um parque inteiro dedicado a esportes de aventura como rafting, tirolesa e trilhas de quadriciclo. Até 2019 devem concluir a ambiciosa Hot City, uma cidade de entretenimento nos moldes do Disney Springs, de Orlando, com restaurantes, bares e cinema para suprir a carência de vida noturna do complexo.

Controlado pelas holdings Algar (de Uberlândia) e FLC Participações e Investimentos S/A (de Goiânia), o grupo inclui também a Valetur Viagens, operadora de turismo com seis lojas físicas entre São Paulo, Brasília, Goiás e Minas que é a segunda maior contratante de voos charter do Brasil. “60% do nosso público vem de São Paulo, e nossa localização permite que em uma hora de voo e mais meia de traslado o visitante esteja dentro do quarto”, explica Costa. Outro naco importante do grupo é o clube de férias de timeshare Rio Quente Vacation Club, com 25.000 famílias associadas e parceiro da maior empresa global desse nicho de mercado, a RCI. Ao todo, a meta da companhia é somar 600 milhões de reais em faturamento até 2020, dobrando seu atual desempenho.

O concorrente

No Brasil, o único empreendimento turístico comparável é o principal concorrente nacional, o Beach Park. Enquanto o Rio Quente teve que construir a própria praia (com piscina de ondas e espreguiçadeiras), o Beach Park se originou de uma barraca nas areias de Porto das Dunas, a 17 quilômetros de Fortaleza, em 1985. O primeiro hotel veio só 11 anos depois – hoje são quatro, que somam 524 acomodações, e mais o parque com 18 atrações e um restaurante.

Apesar de ser consideravelmente menor do que o Rio Quente, não está longe de se equiparar no número de visitantes: até o fim de dezembro deve romper pela primeira vez 1 milhão de pessoas no complexo – e os hotéis seguem com taxa de ocupação 2% acima do ano passado. Seu programa de timeshare, o Beach Park Vacation Club, associado à mesma RCI, conta com 19.000 famílias associadas.

A toada de inaugurações aqui também é acelerada: “Mantemos a média de um brinquedo novo no parque a cada dois anos”, diz Murilo Pascoal, diretor geral do Beach Park. As atrações são mais megalomaníacas e radicais do que as do Rio Quente: o Vaikuntudo, por exemplo, inaugurado no fim de 2015, é um toboágua com altura de um prédio de 8 andares de onde se despenca num funil com 18 metros de diâmetro.

Na mesma ânsia de aumentar a permanência no complexo e embalar as noites dos hóspedes, foi inaugurada a Vila Azul do Mar, com restaurante, um centro de artesanato desenvolvido pelo designer Marcelo Rosenbaum, bar, sorveteria, lojas e eventos como sessões de cinema ao ar livre e circo – em breve serão inauguradas uma pizzaria e uma loja de sapatos.

A proximidade de Fortaleza traz conveniências como a ampla oferta de voos saindo de várias cidades e um público forte de fim de semana que vem apenas curtir o parque.

Pensando nisso, o Beach Park construiu no bairro Mereiles um teatro que espera receber até 7.000 pessoas por mês na alta temporada para abrigar o Ceará Show, inaugurado em 29 de setembro. O espetáculo musical passeia por ícones da cultura cearense como a índia Iracema, de José de Alencar, unindo música, dança, teatro e artes circenses, com 40 pessoas na produção. O projeto está envolvido nas várias iniciativas de comunicação do parque, que já tem TV, revista, rádio e um estúdio de animação.

Ambos os complexos não sofreram com a queda de público corporativo que atingiu outros resorts e hotéis com a recessão econômica: tanto no Beach Park quanto no Rio Quente, esses hóspedes representam menos de 10% da ocupação. A briga, então, é acirrada para conquistar famílias paulistas, mineiras e cariocas, que formam o grosso dos visitantes dos dois, e disputar as atenções com destinos internacionais como Orlando, Cancún e Bariloche.

Até agora, a crise jogou a favor. Daqui pra frente, com a melhora da economia e um câmbio mais favorável, as viagens internacionais devem voltar com tudo. Haja água para manter o ritmo.

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