Negócios

Catarinense mira R$ 32 milhões na Black Friday com cadeiras que aliviam suas dores

Empresa nasceu focada no público gamer, mas decidiu expandir para o mercado corporativo com a volta ao trabalho presencial

Rafael Dutra, da Elements: "Não queremos vender cadeiras de 299 reais que quebram em pouco tempo. Temos modelos que chegam a custar 6.000 reais e que têm garantia de 10 anos” (Elements/Divulgação)

Rafael Dutra, da Elements: "Não queremos vender cadeiras de 299 reais que quebram em pouco tempo. Temos modelos que chegam a custar 6.000 reais e que têm garantia de 10 anos” (Elements/Divulgação)

Daniel Giussani
Daniel Giussani

Repórter de Negócios

Publicado em 23 de novembro de 2024 às 08h17.

Última atualização em 23 de novembro de 2024 às 12h30.

Uma pessoa passa, em média, 12 horas por dia sentada, seja no trabalho ou em casa. Não há costas que aguentem, a não ser que as cadeiras e mesas sejam bem pensadas para isso.

Quando o catarinense Rafael Dutra percebeu isso, enxergou uma oportunidade de crescimento no seu negócio, a Elements. Até 2022, a empresa vendia, principalmente, cadeiras para gamers. Mas Dutra e sua sócia decidiram expandir a operação, mirando também quem precisava de uma cadeira ergonômica para trabalhar - um mercado estimado em 10 bilhões de dólares, de acordo com a Verified Market Reports.

Assim, o negócio saiu de um faturamento de 36 milhões de reais em 2023 para uma projeção de 90 milhões de reais em 2024.

E boa parte desse faturamento virá da Black Friday. A Elements está com uma estratégia para vender 32 milhões de reais durante a principal data de ofertas do ano, apostando em descontos agressivos e uma operação tecnológica para fazer as entregas rapidamente. Não a toa, reforçou o time de vendedores e separou três meses de estoque.

Qual é a história da empresa

A Elements começou em 2016, em Florianópolis, vendendo cadeiras voltadas para o público gamer. Dutra e sua sócia, que antes trabalhavam como representantes comerciais de produtos de informática, como impressoras e monitores, queriam criar algo que fosse além de um produto. “A ideia era construir uma história envolvente, com um significado por trás”, diz Dutra.

Dutra encontrou um fornecedor de cadeiras para gamers e decidiu apostar nisso. Saiu da representação comercial e abriu a própria loja. Para vender, montou uma narrativa envolvendo histórias em quadrinhos, na qual os personagens representavam valores como disciplina e persistência.

"Junto com as cadeiras, nós mandávamos um cristal mineral e um pergaminho de iniciação ao clã do fogo, da água ou do ar. O cliente não recebia apenas uma cadeira, mas uma experiência", diz.

A estratégia foi certeira. A experiência gerou compartilhamentos espontâneos nas redes sociais, e a Elements cresceu rapidamente nos primeiros anos. Durante a pandemia, a busca por cadeiras para home office aumentou, e a empresa viu seu faturamento disparar. "Vendemos todo o estoque que tínhamos planejado para um ano em apenas dois meses", afirma Dutra.

No entanto, ao final de 2021, a empresa começou a enfrentar desafios. O mercado de cadeiras gamers estava saturado, e a competição havia aumentado. "Chegamos a operar no prejuízo por meses. Eu percebi que não estava mais me conectando com o público gamer, que era muito diferente de mim", diz o fundador. Foi então que a Elements decidiu mudar de rota.

Quais foram os desafios no caminho

A principal virada na história da Elements veio com o reposicionamento. A empresa, que até então focava no público gamer, decidiu expandir para o mercado corporativo. Cadeiras ergonômicas para escritórios e mesas ajustáveis se tornaram o carro-chefe do portfólio, numa época em que as pessoas começavam a voltar a trabalhar no escritório, depois do período de home office.

“Era um oceano muito maior. O mercado corporativo tem mais espaço para crescer do que o nicho gamer”, afirma Dutra.

Essa transição não foi fácil. A Elements teve que redesenhar seus produtos e melhorar a logística. Hoje, as cadeiras são fabricadas na China e na Coreia do Sul, mas os projetos são desenvolvidos por um time interno de design. O tempo médio para o produto chegar ao Brasil é de cerca de 45 a 60 dias, e a empresa conta com três centros de distribuição no país para agilizar as entregas.

Outro desafio foi criar produtos que se destacassem pela qualidade. “Nós não brigamos pelo preço mais baixo. Não queremos vender cadeiras de 299 reais que quebram em pouco tempo. Temos modelos que chegam a custar 6.000 reais e que têm garantia de 10 anos”, afirma.

Além disso, a Elements investiu em um monitor próprio, que substitui o uso de duas telas laterais. “O movimento repetitivo lateral prejudica a coluna. Criamos um monitor vertical que melhora a ergonomia, voltado para quem trabalha muito tempo sentado”, diz o fundador.

A maior aposta recente da empresa é a fabricação de uma cadeira 100% autoral na Coreia do Sul. O molde do produto, que custou 1,3 milhão de reais, foi desenvolvido internamente. "É um investimento arriscado, mas estamos confiantes na aceitação do mercado", afirma Dutra.

Qual será o futuro da Elements

Em 2025, a Elements planeja faturar 150 milhões de reais e, até 2030, atingir um valuation de 1 bilhão de reais. Para isso, a empresa pretende expandir seu portfólio e seus canais de venda. Além das cadeiras e mesas, estão nos planos novos produtos voltados para a alta performance de empreendedores.

A estratégia para alcançar esses números envolve um modelo de operação que mistura o tradicional com práticas de startups. “Nós somos uma empresa de móveis, que é um mercado tradicional", diz. "Mas usamos metodologias ágeis, como as startups. Todo mundo aqui tem autonomia para dar ideias e crescer dentro do negócio”.

Outra parte do plano é manter a proximidade com os clientes e garantir entregas rápidas. A empresa já consegue entregar cadeiras em até 24 horas em regiões como São Paulo e Florianópolis.

Com uma estratégia que combina propósito e lucro, a Elements aposta em crescer sem medo — e fazer você sentar mais confortável no processo.

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