Negócios

Após levar matriz a 1º prejuízo, Brasil Kirin vende ativos

Brasil Kirin causou primeiro prejuízo global da história da matriz, e agora precisa se reinventar e cortar custos


	Fábrica da Brasil Kirin: no ano passado, faturamento da empresa despencou 25,4%
 (Leandro Fonseca / EXAME)

Fábrica da Brasil Kirin: no ano passado, faturamento da empresa despencou 25,4% (Leandro Fonseca / EXAME)

DR

Da Redação

Publicado em 4 de julho de 2016 às 08h09.

São Paulo - Em 2011, quando a japonesa Kirin desembolsou quase R$ 4 bilhões pelo controle da cervejaria familiar Schincariol - na época, vice-líder do mercado nacional -, o Brasil havia crescido 7,5% no ano anterior e a cervejaria se apresentava como uma concorrente capaz de incomodar a gigante Ambev.

Cinco anos depois, a situação se inverteu completamente: a economia brasileira entrou numa espiral recessiva - em 2015, o Produto Interno Bruto (PIB) recuou 4% - e a Brasil Kirin viu sua relevância se esvaziar, perdendo 25% de participação de mercado e amargando o quarto lugar em vendas no País.

A situação chegou a um ponto tão crítico que, no mês passado, o presidente da Brasil Kirin, André Salles, apresentou um plano de recuperação da operação local à matriz japonesa.

As mudanças, que incluem a reorganização do portfólio de marcas e a promessa de corte de custos de R$ 200 milhões só neste ano, são uma resposta aos resultados cada vez piores que a companhia vem apresentando: em 2015, o grupo japonês registrou o primeiro prejuízo de sua história, basicamente por causa dos problemas no Brasil.

No ano passado, as receitas da Brasil Kirin despencaram 25,4%, para cerca de 134 bilhões de ienes (cerca de US$ 1,3 bilhão), em razão da forte depreciação do real e também da queda de 16,8% nas vendas de cerveja, na comparação com 2014.

O resultado da empresa foi muito inferior ao apresentado por todo o mercado de cerveja no País que, embora tenha andado para trás, registrou retração de 2%, segundo dados do Sistema de Controle de Produção de Bebidas (Sicobe) da Receita Federal.

A Kirin global teve de desembolsar mais de US$ 1 bilhão para cobrir previsões de resultados que não se concretizaram em todo o mundo - 90% das reservas, no entanto, se referiam ao mercado brasileiro.

No primeiro trimestre, a queda nas vendas no País foi estancada, segundo a companhia, mas a operação continuou no vermelho - a geração de caixa, medida pelo Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações), foi negativa em R$ 62 milhões.

Indústrias

Na apresentação que fez aos acionistas em 7 de junho, o presidente da operação brasileira revelou a meta de reduzir custos corporativos, renegociar contratos de matéria-prima e embalagem e otimizar ativos. Segundo apurou o Estado, isso quer dizer que a empresa pode se desfazer de mais unidades fabris.

O processo de redução da capacidade industrial começou em abril, quando a empresa se desfez da unidade de Cachoeiras do Macacu, no Rio de Janeiro, mercado onde as marcas da Kirin sempre enfrentaram resistência.

A unidade foi repassada para a Ambev. Segundo apurou a reportagem, a venda de outras unidades em um cenário de queda de volume seria uma saída rápida para cortar custos.

Fontes de mercado afirmam que a empresa estaria disposta a passar adiante outras 2 unidades das 13 que ainda mantém no País.

Para as concorrentes que estão em crescimento e precisam ampliar a produção, a vantagem é que comprar uma fábrica pronta pode reduzir pela metade o valor do investimento em relação à construção de uma planta nova.

A própria Ambev poderia ter interesse em absorver mais ativos da Kirin, segundo fontes. A Heineken, que vem ganhando rapidamente fatia de mercado no País, mas ainda não chegou a 10% de participação, também estaria de olho em opções de expansão de capacidade, embora esteja construindo atualmente uma nova unidade em Goiás.

Questionada sobre a possibilidade de reduzir ainda mais suas operações industriais no Brasil, a Kirin afirmou que "está sempre atenta ao cenário externo e do mercado de bebidas, buscando a manutenção de sua capacidade". Procuradas, Ambev e Heineken não comentaram.

Marcas

O principal problema da Kirin, segundo fontes, é que a empresa tem indústria de mais e argumentos de venda de menos, pois não conseguiu construir marcas relevantes.

"Para fazer um churrasco em casa, para a família, o consumidor pode comprar a cerveja mais barata. Mas, se está sendo visto, vai procurar marcas que deem status", explica Paulo Solmucci, presidente da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel).

Segundo ele, isso ajuda a explicar o sucesso das marcas Heineken e da Stella Artois, da Ambev, em casas noturnas.

A proposta de André Salles à holding japonesa inclui justamente o reposicionamento do portfólio de marcas. A empresa já anunciou que vai tirar do mercado a Devassa Bem Loura, nos últimos anos, uma de suas principais apostas no mercado Pilsen, que concentra o maior volume de vendas no País.

A marca Devassa, que era vendida no segmento premium, será reposicionada com preço mais baixo. Já a Eisenbahn, que estava na categoria artesanal, vai "descer" para a posição premium.

Um dos objetivos da reorganização, segundo a apresentação, é "reduzir a dependência do segmento econômico".

Para fontes de mercado, a tentativa é válida, mas a tarefa de fazer uma transformação agora será árdua. Segundo o consultor em alimentos e bebidas Adalberto Viviani, a concorrência está muito mais fortalecida hoje do que há cinco anos, quando a Kirin comprou a Schincariol.

"O universo competitivo era bem diferente. A Heineken ainda não existia e a Petrópolis não tinha força. Seria bem mais fácil ter feito esse movimento lá atrás, em vez de agora."

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Acompanhe tudo sobre:Bebidasbebidas-alcoolicasCervejasEmpresasEmpresas japonesasKirinSchincariol

Mais de Negócios

Com fritadeira elétrica, Shopee bate recorde de vendas no "esquenta" da Black Friday

Com linha de dermocosméticos para pele negra, ela quer empoderar mulheres por meio da beleza

“Disneylândia do Palmito” reúne gastronomia, turismo e lazer no interior paulista

Changan anuncia investimento de US$ 6,9 Bilhões em soluções de mobilidade e tecnologia