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Além do ‘hi, how are you’: mais barato, ensino bilíngue cresce no Brasil

Estudo elaborado pela JK Capital mostra que sistemas de educação estão em franco crescimento -- e podem até mesmo roubar espaço de escolas de idiomas

Com alta demanda, empresas que vendem serviços para escolas têm bom momento - mesmo com inadimplência gerada pela pandemia (Germano Luders/Exame)

Com alta demanda, empresas que vendem serviços para escolas têm bom momento - mesmo com inadimplência gerada pela pandemia (Germano Luders/Exame)

KS

Karina Souza

Publicado em 19 de maio de 2021 às 08h00.

Última atualização em 19 de maio de 2021 às 12h43.

Em um país no qual falar inglês pode aumentar em até 72% o valor do salário, segundo a Catho, dominar o segundo idioma é uma etapa importante para a carreira profissional. Essa necessidade, somada ao fato de que o setor de educação pode gerar até R$7 bilhões em receita nos próximos anos e à carência de educação bilíngue -- hoje, 3% das escolas privadas oferecem essa modalidade, ante 10% na Argentina e Chile -- trouxe um ambiente propício para o desenvolvimento dos sistemas de educação bilíngues. A conclusão e os dados são da JK Capital, consultoria de finanças especializada em fusões e aquisições.

    De acordo com a empresa, esse modelo de venda aos colégios (B2B2C) dá certo principalmente pelo baixo custo na ponta, ou seja, para os alunos. Tomando como comparação, o ensino bilíngue -- que tem um currículo de uma escola tradicional, com parte das disciplinas ministradas em inglês -- é até 50% mais barato do que uma escola internacional, cujas mensalidades, por vezes, ultrapassam os R$ 10 mil. 

    Atualmente, no país, segundo a JK, as redes mais relevantes em número de unidades, dentro do ensino de inglês nos colégios, são: International School (presente em 340 escolas) e  Kids Club (108). Entre as escolas com unidades próprias, aparece a Maple Bear, com 159 unidades, e a  Simple (83).

    De acordo com Fernando Rodrigues, diretor de operações da Simple Education, o custo médio por aluno, para as escolas, é de R$ 80.

    “No último ano, crescemos em faturamento 53,53% em valores absolutos, quando comparado ao ano anterior (2019). Foi um ano excelente para a nossa empresa, isso porque tivemos alguns percalços com inadimplência. Caso contrário, poderia ter sido muito melhor. Em 2021, a nossa projeção é de 25% de crescimento em relação ao ano de 2020”, afirma. 

    Para Sylvia de Moraes Barros, diretora geral da Kids Club, fundada em 1994, a procura pelo inglês dentro dos colégios é uma tendência que ganhou mais força de dez anos para cá. “Existe toda a comodidade de aprender inglês dentro do colégio e os pais buscam cada vez mais por esse serviço. Em 2010, dizer que uma criança de três anos poderia começar a aprender inglês pareceria absurdo, mas hoje isso é encarado com muita naturalidade”, afirma. 

    Até mesmo quem (ainda) não está na lista projeta um futuro promissor. Um desses sistemas de ensino de idiomas é o Be-Bilingual Education, que está há quatro anos no mercado, presente em mais de 35 escolas pelo país e atende mais de 12 mil alunos. A operação da companhia dobra de tamanho a cada ano -- e em 2021, deve crescer mais de 100% novamente. 

    Todo o crescimento aconteceu de forma orgânica, mas a empresa já tem conversas para obter mais alunos por meio de fusões e aquisições. A companhia está “em conversas” com um fundo de investimento para realizar a captação (a empresa não diz o valor) e, em paralelo, está de olho em adquirir uma rede menor, focada na compra de carteira de clientes.

    “Há uma procura muito grande das escolas pelos projetos bilíngues. Enquanto uma escola internacional tem mensalidades que começam em cerca de R$6 mil, na escola bilíngue esse valor pode cair pela metade. Estamos atentos à procura pelo serviço, que não para de crescer”, diz João Lacerda, CEO da Be-Bilingual Education.

    E as escolas de idiomas?

    A redução de custos e a comodidade trazidas pelo ensino bilíngue podem colocar em xeque a posição das escolas de idiomas em relação aos alunos em idade escolar, matriculados em colégios privados. Segundo Daniel Damiani, sócio da JK Capital, "esse mercado pode perder muitos alunos em idade escolar nos próximos anos, com a popularização desses sistemas de ensino que se tornam cada vez mais baratos”, diz.

    Dados do IBGE mostram que a pandemia ajudou a agravar essa crise. O segmento de serviços prestados às famílias, que inclui os cursos de idiomas, acumula retração de 38,6% em 2020 e fez com que escolas até mesmo congelassem os preços de mensalidades para 2021

    Uma possível saída para esse cenário é o de as escolas de inglês começarem, também, a oferecer serviços aos colégios particulares, em uma atuação ambidestra: com os alunos que procuram o inglês para a vida profissional e com aqueles em idade escolar.

    É o que fez a Cultura Inglesa, uma das principais redes do país, o impacto dos alunos em idade escolar teve uma leve retração nos últimos anos (a companhia não divulga números). Segundo Marcos Noll Barboza, CEO da Cultura Inglesa, a retração ainda não é forte o suficiente para causar preocupações -- mas a companhia já mantém, em paralelo ao ensino de idiomas, uma nova unidade de negócios dedicada a fornecer o sistema bilíngue às escolas.

    “É algo totalmente novo, que inauguramos em janeiro deste ano. Ainda está na fase inicial de resultados mas já temos a oportunidade de ajudar as escolas que têm essa ambição e objetivo. Nosso principal obstáculo é, realmente, a falta de professores com o nível de proficiência adequado”, afirma.

    Na Pearson, dona das franquias Wizard Yázigi, o cenário é semelhante: há até aumento das matrículas para o público Kids (a partir dos três anos), mas a empresa também investe, desde 2019, em uma frente que fornece apoio aos colégios privados para implementar um sistema bilíngue de ensino. A dificuldade de encontrar professores qualificados também é mencionada tanto para o ensino direto quanto para os negócios B2B.

    Para os próximos anos, a compahia traz outro ponto importante como pilar: o uso de tecnologia para o aprendizado multiplataforma. "Temos que estar super antenados com assistentes virtuais, gamificação, virtual classroom. O desafio é encaixar essas questões todas e entender a necessidade real do consumidor. Eu sempre digo que os sistemas foram desenvolvidos pra como se quer educar e não como o aluno quer aprender. A tecnologia, sem dúvida, é uma importante aliada disso", diz Jonas Andrey Silva, vice-presidente de dados, estratégia, marketing e inovação da Pearson.

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