Roberto Justus: "A SteelCorp é resultado de uma visão clara sobre o futuro da construção, onde o aço e a industrialização são o caminho" (Divulgação/Divulgação)
Editor de Negócios e Carreira
Publicado em 17 de fevereiro de 2025 às 11h16.
O Grupo SteelCorp avança na industrialização da construção civil com a inauguração de duas novas fábricas. A primeira, em Cajamar (SP), ocupa uma área de 16 mil metros quadrados e triplica a capacidade produtiva da empresa na região. A segunda, em Aparecida de Goiânia (GO), tem 13 mil metros quadrados e foca na produção de casas populares em larga escala. Com essas unidades, a empresa pretende faturar 1 bilhão de reais em 2025.
A construção industrializada é o centro da estratégia. Em vez de erguer paredes tijolo por tijolo no canteiro de obras, a SteelCorp fabrica módulos prontos, que chegam ao terreno quase finalizados. Esse método reduz custos, acelera entregas e gera menos desperdício. O modelo se tornou atrativo para construtoras, governos e incorporadoras que buscam maior eficiência e previsibilidade.
"A escalabilidade e a velocidade desse sistema representam uma mudança de paradigma no setor", afirma Justus. "Nós não estamos inventando nada novo. O mundo já está industrializando a construção civil. O Brasil ainda está atrasado, mas isso vai mudar."
A SteelCorp nasceu em 2023, mas sua história começa anos antes pelas mãos de Roberto Justus, um dos nomes mais conhecidos da publicidade brasileira.
Justus fundou a agência de publicidade Newcomm, que mais tarde se tornou o Grupo Newcomm, dono de marcas como Y&R (Young & Rubicam Brasil), Wunderman e Grey Brasil. Liderou o mercado por 15 anos e vendeu a empresa para o grupo multinacional WPP. Na TV, apresentou o reality show O Aprendiz, além de programas como Roberto Justus + e Power Couple Brasil. Mais recentemente, diversificou seus negócios, investindo em setores como construção civil, educação e assessoria de investimentos.
Justus viu na industrialização da construção civil uma oportunidade de negócios. O setor no Brasil ainda opera com métodos tradicionais, com prazos longos e custos imprevisíveis. A possibilidade de aplicar processos industriais para resolver esses gargalos chamou sua atenção.
Daniel Gispert, sócio de Justus e executivo com experiência no setor, já estudava o modelo de construção modular. Ele identificou que, apesar da demanda, o Brasil não possuía capacidade produtiva suficiente para atender grandes projetos com essa tecnologia.
"O setor continuava dependente de métodos antigos. Era preciso trazer escala para a industrialização da construção", afirma Gispert.
O primeiro passo foi a aquisição da TecnoFrame, fábrica especializada em estruturas de aço para construção. A partir dela, a SteelCorp estruturou um ecossistema completo, capaz de projetar, fabricar e entregar construções modulares em larga escala.
"Eu sempre trabalhei com negócios baseados em talento e inovação", diz Justus. "Na publicidade, minha empresa foi líder de mercado porque investimos em qualidade. Agora, na construção, estamos aplicando o mesmo princípio. Trouxemos os melhores especialistas para dentro da SteelCorp e estruturamos um modelo de negócios com crescimento rápido e sustentável."
A SteelCorp usa o sistema Light Steel Frame, uma tecnologia baseada em perfis de aço galvanizado. Diferente da alvenaria convencional, esse método permite fabricar paredes, lajes e telhados dentro da fábrica, em ambiente controlado. No canteiro de obras, as peças chegam prontas para montagem, como um quebra-cabeça.
"Se alguém me pedir para construir uma casa isolada, eu não faço", diz Justus. "Mas se forem 500 casas, aí sim. Nosso negócio é a escala."
Esse modelo elimina o desperdício de materiais comuns na construção tradicional. Em uma obra convencional, cerca de 30% dos insumos vão para o lixo. No sistema modular, esse índice cai para menos de 5%.
Outra vantagem está no tempo de obra. Casas populares podem ser entregues em menos da metade do prazo convencional. Em fábricas automatizadas, como as novas unidades da SteelCorp, a empresa pretende produzir até 10 casas por dia.
"Nós reduzimos o uso de aço por metro quadrado em dois terços desde que começamos", explica Justus. "Isso significa que conseguimos baixar custos e tornar nosso sistema competitivo para o mercado de casas populares."
A tecnologia também melhora o desempenho térmico e acústico das construções. "No Rio Grande do Sul, entregamos casas para o governo e o governador entrou em uma delas no meio do verão. Estava 34 graus lá fora e dentro da casa, sem ar-condicionado, a temperatura era de 22 a 24 graus. Esse isolamento térmico é uma grande vantagem em um país quente como o Brasil", destaca.
Construção com steel frame: promessa de obra mais rápida do que a com métodos convencionais (Divulgação/Divulgação)
O modelo industrializado atraiu o interesse do mercado. Em menos de dois anos, a SteelCorp passou de uma startup para uma das maiores empresas do setor. Em 2023, o faturamento foi de 23 milhões de reais. Em 2024, esse número saltou para 200 milhões de reais. Para 2025, a meta é alcançar 1 bilhão de reais, impulsionado pelas novas fábricas e pela entrada no mercado americano.
Nos Estados Unidos, a SteelCorp inaugurou uma fábrica na Flórida, com 25 mil metros quadrados. O primeiro contrato fechado prevê a entrega de 500 casas modulares em 2024 e 1.500 unidades em 2025. Nos próximos dois anos, a operação americana deve gerar 350 milhões de reais em novos negócios.
"Fomos convidados por um grande incorporador americano para levar nossa tecnologia para lá. O mais impressionante é que não existem fábricas de Light Steel Frame na Flórida. Vamos ser pioneiros nesse mercado", afirma Justus.
Além das fábricas, a SteelCorp criou a SteelBank, uma securitizadora que financia projetos de construção modular. O acesso a crédito sempre foi um dos maiores desafios do setor. O SteelBank pretende movimentar 1 bilhão de reais em operações financeiras ainda em 2024, oferecendo crédito para construtoras e incorporadoras que adotarem a tecnologia.
Outro pilar do crescimento está na capacitação de mão de obra. A SteelAcademy, lançada em 2024, pretende formar 4 mil profissionais no primeiro ano, ensinando engenheiros, arquitetos e operários a trabalhar com o sistema modular.
"Estamos formando do zero a nova geração de profissionais da construção. Sem mão de obra qualificada, o setor não avança", diz Justus.
A SteelCorp enfrenta desafios para consolidar o modelo industrializado no Brasil. O setor da construção ainda é dominado por empresas que operam com métodos tradicionais, e a mudança de mentalidade leva tempo.
"O mercado ainda tem resistência, mas isso é normal. No início, as pessoas não acreditam, depois testam, e por fim adotam como padrão", afirma Justus.
Empresas como MRV e Tenda começaram a testar o sistema modular, mas ainda em escala reduzida. Concorrentes como Tech Verde, Alea e Brasil ao Cubo também disputam esse mercado, cada uma com sua abordagem.
"A construção modular não é moda. É um caminho sem volta. Quem entender isso antes vai dominar o setor", diz Justus.
Os planos da SteelCorp vão além das novas fábricas. A empresa já estuda novas unidades no Brasil e no exterior, além de expandir sua atuação para projetos de infraestrutura, como escolas, hospitais e prédios comerciais.
"A gente trabalha 24 horas por dia para entregar tudo no prazo. Abrimos porta, fechamos contrato e agora temos que entregar. Isso é o mais importante", diz Justus.
Outra frente de crescimento está na criação de condomínios modulares. O modelo permite construir bairros inteiros em poucos meses, reduzindo custos para incorporadoras e governos.
"A SteelCorp não quer ser apenas uma empresa de construção. Queremos ser a referência na industrialização do setor. Esse é o futuro da construção civil, e estamos no lugar certo, na hora certa", diz Justus.