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Volta de Trump, novas tarifas e yuan em queda desafiam Pequim

Especialistas acreditam que o banco chinês irá focar na estabilidade do yuan no curto prazo e evitará cortar as taxas de juros de forma acentuada

Carolina Ingizza
Carolina Ingizza

Redatora na Exame

Publicado em 21 de janeiro de 2025 às 10h41.

Há uma expectativa no mercado internacional sobre a depreciação do yuan chinês frente ao dólar americano. Desde a vitória de Donald Trump nas eleições presidenciais americanas em novembro, a moeda chinesa offshore vem perdendo valor.

O yuan onshore, apesar de mais controlado, também caiu para perto de uma mínima de 16 meses. A principal dúvida dos analistas agora é saber até que ponto e com que rapidez a moeda chinesa pode cair. 

Muitos investidores e analistas estão pessimistas com as perspectivas da China. Com a crise imobiliária, os gastos tímidos dos consumidores e a preocupação dos participantes do mercado com a deflação, houve uma grande entrada de fundos em títulos do governo, o que levou os rendimentos a uma mínima histórica. 

Os Estados Unidos, em contrapartida, agora antecipam menos cortes nas taxas de juros do que o previsto anteriormente. As novas tarifas alfandegárias propostas por Donald Trump, se concretizadas, podem acelerar a inflação, levando o Federal Reserve (Fed), o banco central americano, a manter as taxas de juros mais altas por mais tempo. Na prática, isso aumentaria o rendimento dos títulos.

Com a diferença de rendimentos entre EUA e China aumentando, os investidores elevaram o dólar e empurraram o yuan para baixo. Nesse cenário, um enfraquecimento acentuado do yuan pode beneficiar as exportações chinesas, mas as autoridades trabalham para evitar que uma queda acentuada cause uma instabilidade econômica excessiva.

Estratégias do governo chinês

O Banco Popular da China suspendeu a compra de títulos do governo devido à alta demanda e aumentou a emissão de papéis em Hong Kong para tentar estabilizar o yuan. O banco tem alertado contra especulações contra a moeda.

Especialistas acreditam que o banco chinês irá focar na estabilidade do yuan no curto prazo e evitará cortar as taxas de juros de forma acentuada, apesar da crescente pressão sobre o crescimento doméstico. Contudo, há uma previsão de que o yuan offshore atinja 8,5 por dólar até o final do ano caso os EUA imponham de fato tarifas de 50% a 60% sobre os produtos chineses.

Embora a estratégia mais agressiva do Federal Reserve limite a margem de ação do Banco Popular da China para reduzir as taxas de juros, Pequim ainda tem ferramentas políticas amplas para evitar quedas excessivas da moeda, incluindo o ajuste da liquidez offshore por meio da emissão de papéis e a mobilização de empresas financeiras estatais para comprar diretamente o yuan offshore.  

No mercado interno, uma das principais ferramentas usadas pelo Banco Popular da China para gerenciar a moeda tem sido a taxa de referência diária — o yuan onshore só pode ser negociado dentro de uma margem de referência. 

Exportações chinesas

A atividade econômica da China acelerou mais do que o esperado no último trimestre de 2024, impulsionada pelas exportações. Analistas acreditam que isso aconteceu porque as empresas decidiram antecipar suas compras antes do aumento das tarifas alfandegárias em 2025.

A tendência é que esse crescimento diminua à medida que as tarifas prometidas por Trump entrem em vigor — ele prometeu tarifas universais de 10% a 20% sobre os bens importados e de 60% sobre os produtos chineses.

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