Protestos em Kenosha, no Wisconsin: atos viraram palco de batalha da troca de farpas entre Trump e Biden (Scott Olson/Getty Images)
Carolina Riveira
Publicado em 1 de setembro de 2020 às 06h22.
Última atualização em 1 de setembro de 2020 às 09h04.
A dois meses das eleições presidenciais americanas em 3 de novembro, os protestos antirracistas que tomaram os Estados Unidos neste ano continuam sendo o tema político da vez. Outra mostra desse embate acontece nesta terça-feira, 1º de setembro, quando o presidente americano, Donald Trump, visita o estado de Wisconsin, apesar dos pedidos para que ele desistisse da viagem. O presidente irá a Kenosha, onde Jacob Blake, de 29 anos, levou tiros da polícia em frente aos filhos.
O ataque a Blake, em 23 de agosto, desencadeou uma onda de protestos em Kenosha desde então, e vem fazendo os dois lados do espectro político trocarem acusações sobre o caso.
O movimento em curso é o de tentar emplacar, entre os eleitores indecisos, um dos dois discursos em disputa. Trump vem batendo de frente com os manifestantes e usando a retórica de que são "baderneiros" e violentos, enquanto culpa os democratas pelos protestos que terminaram em confrontos -- e, de quebra, tenta desviar a atenção do coronavírus, da crise econômica e de outras críticas a sua gestão. O rival democrata Joe Biden tenta encontrar um equilíbrio entre criticar a violência e apoiar os manifestantes, majoritariamente eleitores democratas.
Ontem, Biden voltou a culpar Trump por dividir o país, mas disse que condena violência nos protestos. Já Trump defendeu o extremista adolescente Kyle Rittenhouse, de 17 anos, que atirou em manifestantes na terceira noite de protestos em Kenosha e matou duas pessoas. "Ele estava tentando fugir deles... E então ele caiu e eles de forma muito violenta o atacaram", disse Trump, segundo reportou a Reuters. "Ele provavelmente teria sido morto [pelos manifestantes]."
Na visita ao Wisconsin, Trump não pretende se encontrar com a família de Jacob Blake, como seria de praxe a um presidente no caso. Blake está internado em estado grave e deve perder os movimentos das pernas.
No resto do país, o ataque a Blake serviu para alimentar ainda mais a onda de protestos antirracistas que já vinha desde George Floyd, enforcado por um policial em maio em Minneapolis, estado do Minnesota. Até a NBA, liga de basquete americana, teve jogos adiados depois que os jogadores do Milwaukee Bucks, time do Wisconsin, decidiram não jogar.
Outro ponto de conflito é Portland, em Oregon, que continuou com protestos seguidos nos últimos três meses e também vêm sendo tema constante de críticas por parte de Trump. A situação ganhou novo combustível depois que um apoiador de Trump em Portland foi morto no último fim de semana. O homem era parte de um grupo de manifestantes brancos que entrou em embate nas ruas com os manifestantes antirracistas. A polícia ainda não encontrou quem foi o atirador.
No Twitter, Trump trocou farpas com o prefeito democrata de Portland, Ted Wheeler, a quem chamou de "idiota" e culpou pela violência, ameaçando chamar novamente a Guarda Nacional à cidade -- nos últimos meses, a Guarda Nacional foi deslocada para Portland, mas moradores questionaram eventuais abusos das forças policiais federais. Wheeler disse a Trump em pronunciamento que "por quatro anos tivemos que viver com você e com seus ataques racistas à população negra".
Por ora, Biden lidera nas pesquisas: tem na média das sondagens 337 votos contra 201 de Trump no colégio eleitoral, ganhando em boa parte dos estados decisivos -- como justamente em Minnesota e Wisconsin. Mas Trump tentará, como fez em 2016, apelar para a população branca e pouco escolarizada de alguns desses lugares. O presidente espera que a retórica anti-violência nos protestos possa ajudar.