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Tea Party, o grande vencedor da paralisação nos EUA

Tea Party foi capaz de afogar o pragmatismo dos líderes republicanos para tornar-se o grande vencedor da crise fiscal

EXAME.com (EXAME.com)

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Da Redação

Publicado em 13 de outubro de 2013 às 10h41.

Washington - Muitos o consideravam um moribundo após as eleições de 2012, mas a paralisação do governo dos Estados Unidos demonstrou que o movimento ultraconservador Tea Party foi capaz de afogar o pragmatismo dos líderes republicanos para tornar-se o grande vencedor, pelo menos temporário, da crise fiscal.

Apoiado em pequenos grupos de ativistas e nos cheques em branco de multimilionários conservadores, o grupo conseguiu, apesar de ser minoria no Congresso, 'atar as mãos' do presidente da Câmara dos Representantes, o republicano John Boehner, e os demais líderes moderados do partido.

Nomes como os do senador Ted Cruz e dos congressistas Steve King e Michele Bachmann passaram a ocupar tanto as manchetes como o próprio Boehner, convencidos que paralisar a administração é um mal menor em uma batalha sem quartel contra a maior conquista interna da presidência de Barack Obama: sua reforma da saúde.

'Nos últimos dois meses seguimos juntos um modelo para deter esse estropício, esse desastre, esse pesadelo que é o 'Obamacare'' (como os republicanos batizaram a reforma), disse Cruz na última sexta-feira na conferência Eleitores de Valores, que reúne anualmente figuras conservadoras em Washington.

Incapazes de derrotar a reforma da saúde nos tribunais ou nas urnas, o Tea Party e seus apoios financeiros planejaram desde o começo deste ano uma nova estratégia, que acabou vinculando-se à recusa de seguir financiando o governo federal se não fossem eliminados os fundos para essa legislação.

'Basicamente, eles forçaram a paralisação do governo. Conseguiram uma vitória temporária', disse à Agência Efe James Thurber, diretor do centro de estudos do Congresso e da Presidência na American University (AU) de Washington.

O próprio Obama se viu obrigado a admitir esse triunfo, denunciando repetidamente que 'uma facção de um partido em uma câmara do Congresso' tinha paralisado sua administração.

A queda de braço do Tea Party surpreendeu os que previram sua decadência nas eleições de 2012, nas quais perderam várias cadeiras em um claro 'revés' em relação ao pleito de 2010, que marcaram sua ascensão à cena nacional, lembrou Thurber.

'Mas seguem tendo muito poder estratégico', ressaltou.

Parte da explicação está na chamada regra Hastert, uma diretriz republicana pela qual o presidente da Câmara não permite que se vote nenhuma lei a menos que tenha o apoio de metade dos legisladores do partido.

Se aos 50 ou 60 simpatizantes do Tea Party na Câmara se somam outros tantos republicanos que votam guiados pelo temor de perder sua cadeira contra candidatos ainda mais conservadores nas próximas eleições primárias, se supera facilmente a metade dos 232 membros do partido no plenário.


Porém, a ascensão do Tea Party não é mera estratégia, afirmou à Efe Tom de Luca, professor de política na Universidade de Fordham.

'O Tea Party não é um acidente, é um reflexo da crescente polarização da política americana, pela qual o partido republicano se tornou muito mais conservador nos últimos 30 anos. As diferenças entre os partidos tanto no Congresso como no ativismo estão no nível máximo', considerou.

Essa polarização, que afeta o próprio eleitorado, faz com que não haja 'nada surpreendente em sua estratégia de fazer o possível contra o 'Obamacare', apesar do prejuízo que possa causar com a paralisação do governo e a possível moratória', completou De Luca.

John Fleming, um médico convertido em congressista do Tea Party, admite que seus eleitores na Louisiana 'não se preocupam com a paralisação do governo, porque ocorre em Washington; não afeta seu dia a dia'.

'O que dizem é: 'Sigam lutando contra o Obamacare'', declarou Fleming esta semana ao jornal 'Los Angeles Times'.

À medida que passam os dias com a administração paralisada, no entanto, os líderes do movimento mudam sutilmente de mensagem. Se logo após a paralisação do governo, Bachmann assegurava ter conseguido 'exatamente o que queria', Cruz não demorou em responsabilizar Obama e sua recusa a negociar pelos efeitos perniciosos da crise.

'Fazem comentários confusos, que refletem que buscam como sair de uma situação à qual chegaram porque o público não apoia a paralisação e menos ainda a moratória pela simples razão de enfastiar Obama, que acabou de ser reeleito', analisou De Luca.

As últimas enquetes não favorecem os republicanos nem o Tea Party, mas os analistas concordam que é difícil que o movimento perca força em curto prazo.

'O Tea Party só se enfraquecerá quando suas táticas demonstrem ser desastrosas para o Partido Republicano em termos eleitorais ou quando sejam desafiados por interesses alinhados com o partido, como a Câmara de Comércio', previu De Luca. EFE

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