Mundo

Sucesso de vacinação em países ricos mascara crise global

Apesar da melhora dos dados do mundo desenvolvido, mais de 600 mil novos casos de covid-19 são registrados globalmente a cada dia, com persistência em países como Colômbia, Brasil e Malásia

Enquanto a Índia enfrenta a disparada de casos entre sua população de 1,4 bilhão, as preocupações também aumentam em muitos outros países (Abhishek Chinnappa/Getty Images)

Enquanto a Índia enfrenta a disparada de casos entre sua população de 1,4 bilhão, as preocupações também aumentam em muitos outros países (Abhishek Chinnappa/Getty Images)

B

Bloomberg

Publicado em 13 de maio de 2021 às 13h11.

Última atualização em 13 de maio de 2021 às 18h28.

As vacinações em massa e o menor número de casos e mortes por covid-19 em alguns países ricos podem mascarar o sofrimento mundial em curso, que pode se estender por meses ou talvez anos.

Essa é a preocupação de Carl Bildt, o novo enviado especial para a iniciativa apoiada pela Organização Mundial da Saúde lançada no ano passado para fornecer vacinas e outros medicamentos contra a covid-19. Combater o coronavírus que avança na Índia e em outros países depende de persuadir países ricos a compartilhar doses em excesso e ajudar a fechar uma lacuna de financiamento de 19 bilhões de dólares, disse Bildt em entrevista.

Uma revisão independente sobre a resposta internacional à covid-19 ecoou as preocupações de Bildt na quarta-feira, com o pedido para que países do G-7 garantam 60% do dinheiro necessário neste ano. O relatório recomenda que países de alta renda forneçam mais de 2 bilhões de doses às regiões mais pobres até meados de 2022.

“O risco é que, se as pessoas no Reino Unido, na União Europeia ou nos Estados Unidos acharem que o pior já passou, a atenção vai se desviar”, disse. “O pior ainda não passou.”

Familiarizado com esforços diplomáticos de peso, Bildt foi copresidente das negociações de paz de Dayton em 1995, que resultaram no fim da guerra na Bósnia. Anteriormente, liderou a Suécia como primeiro-ministro quando o governo negociou a entrada na UE. Agora, se encontra no meio de uma campanha urgente para angariar apoio ao Acelerador de Acesso às Ferramentas Covid-19 (ACT, na sigla em inglês) da OMS e incentivar líderes a contribuir mais para a luta global.

Para alguns países afortunados, o otimismo está em alta. Os Estados Unidos se preparam para vacinar alunos do ensino fundamental e médio, um grupo de risco relativamente baixo, antes do início dos acampamentos de verão e do próximo ano letivo. As mortes por covid podem cair para 1.500 por semana até 5 de junho, de acordo com a previsão do Centro de Controle e Prevenção de Doenças; o número semanal era de mais de 8.000 em meados de março.

O Reino Unido não registrou mortes por covid em uma atualização diária no início desta semana, e o governo britânico pretende permitir que as pessoas possam se abraçar e se encontrar em lugares fechados, como residências, pubs e restaurantes. Autoridades na Europa, incluindo o ministro da Saúde da Alemanha, também sinalizaram esperança com a queda do número de casos.

Ineficiência

Mas enquanto a Índia enfrenta a disparada de casos entre sua população de 1,4 bilhão, as preocupações também aumentam em muitos outros países. Apesar da melhora dos dados do mundo desenvolvido, mais de 600.000 novos casos de covid são registrados globalmente a cada dia, com a persistência de epidemias em países como Colômbia, Brasil e Malásia. A renúncia de patentes de vacinas, proposta que o governo Biden apoia, é promissora, mas não atenderá às necessidades imediatas de fornecimento, disse Ellen ‘t Hoen, diretora da Medicines Law & Policy, um grupo de pesquisa com sede nos Países Baixos.

“Tudo o que existe hoje deve realmente ir para lugares onde a crise é mais séria”, disse. “Talvez vacinar adolescentes na Califórnia não deva ser prioridade neste momento.”

A Covax, a iniciativa de vacinas que faz parte do ACT, despachou apenas 60 milhões de doses, menos de um quarto do número já administrado apenas nos Estados Unidos. Em relatório sobre a resposta à pandemia, especialistas independentes recomendaram uma revisão do ACT, citando deficiências no programa para garantir o acesso global a vacinas, medicamentos e outros suprimentos.

É necessária uma maior coordenação internacional para corrigir as ineficiências e desigualdades, de acordo com Robert Yates, diretor executivo do Centro de Saúde Universal no Chatham House, um think tank com sede em Londres.

“As vacinas deveriam ir para países e grupos etários mais necessitados, mas isso não está acontecendo”, disse Yates.

Autoridades de saúde global enfatizam que todos são vulneráveis se o vírus continuar avançando, pois isso aumenta o risco de variantes preocupantes e de prolongar a pandemia. A imunização de profissionais de saúde em países em desenvolvimento deve ser foco, disse Bildt, que foi nomeado para o cargo no final de março.

“Enquanto esta pandemia se espalhar como um incêndio em partes do mundo, não estaremos seguros”, afirmou Bildt.

Assine a EXAME e acesse as notícias mais importantes em tempo real.
Acompanhe tudo sobre:CoronavírusPaíses emergentesPaíses ricosPandemiavacina contra coronavírus

Mais de Mundo

Parlamento da Holanda rejeita acordo UE-Mercosul e pede a governo que evite aprovação

Governo Lula defende solução pacífica em crise por lei marcial na Coreia do Sul

Lula terá novo encontro com Mujica durante viagem ao Uruguai

Netanyahu avisa ao Hezbollah que 'um cessar-fogo não é o fim da guerra'