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Singapura já foi exemplo no combate ao coronavírus. O que deu errado?

Vista como exemplo global no combate ao coronavírus, Singapura registrou um número recorde de casos confirmados nesta semana

Dormitório de trabalhadores estrangeiros em Singapura: salto em novos casos de coronavírus aconteceu entre pessoas deste grupo (Edgar Su/Reuters)

Dormitório de trabalhadores estrangeiros em Singapura: salto em novos casos de coronavírus aconteceu entre pessoas deste grupo (Edgar Su/Reuters)

Gabriela Ruic

Gabriela Ruic

Publicado em 20 de abril de 2020 às 13h00.

Última atualização em 20 de abril de 2020 às 16h35.

Singapura está acostumada a ser um exemplo global em diferentes áreas. É assim na educação, na competitividade da economia, na expectativa de vida. Quando a pandemia do novo coronavírus começou a abalar seus vizinhos, não demorou até que os esforços da cidade-Estado fossem reconhecidos internacionalmente e elogiados pelo Organização Mundial da Saúde (OMS).

Só que alguma coisa deu errado. Muito errado.

Nesta segunda-feira, 20 de abril, a má notícia: foi registrado um número recorde de casos diários, com 1.400 novas infecções, chegando ao total de 8 mil casos confirmados da covid-19. Em 15 de março, a cidade-Estado registrava 200 casos confirmados. Agora, assume a liderança como local mais afetado pela doença em todo o Sudeste Asiático, ranking no qual ninguém quer o primeiro lugar.

Análises da situação em Singapura mostram que o governo não olhou com atenção para uma parcela da população: os trabalhadores estrangeiros que vivem em dormitórios apertados e em situação de precariedade. Das novas infecções registradas no início desta semana, três quartos foram detectadas nestas pessoas, muitas das quais indispensáveis na construção civil ou nas grandiosas obras de infraestrutura. Apenas 16 casos eram de cidadãos ou trabalhadores residentes.

De acordo com dados oficiais, esse grupo representa um milhão de trabalhadores e mais de 200 mil deles são de outros países asiáticos, como Índia, Bangladesh e China, países que foram muito afetados pela doença. O que não se sabe, ainda, é se essas pessoas trouxeram a doença consigo ou se o vírus já circulava silenciosamente entre eles, indetectável em razão da não testagem dessa população.

A bomba-relógio não explodiu sem aviso. Ainda em março, uma entidade que protege os direitos desses trabalhadores, a Transient Workers Count Too (TWC2), criticou o tratamento recebido por essas pessoas e alertou o governo para os riscos que as condições de vida representavam. Lembrava, ainda, que muitos são multados pelos empregadores quando não aparecem para o trabalho, apesar de doentes.

“Era uma questão de tempo até que a covid-19 se espalhasse pelos dormitórios. Não temos prazer algum de estarmos certos em nossas previsões”, escreveu a ONG. O governo, por sua vez, prometeu redobrar os esforços para proteger e tratar essas pessoas. “Nos sentimos responsáveis pelo bem-estar dessas pessoas e vamos fazer o nosso melhor para cuidar da sua saúde”, disse o primeiro-ministro, Lee Hsien Loong.

Singapura: do exemplo até a recaída

Ao lado de Hong Kong e Taiwan, Singapura mostrava ter aprendido as lições aprendidas nos idos de 2003, quando outra epidemia, da síndrome respiratória aguda grave (SARS), matou 774 pessoas em mais de 20 países e contaminou quase 9 mil pessoas.

No caso do novo coronavírus, foram implementadas medidas de contenção como as vistas em outras partes do mundo. A testagem foi em larga escala e todos os pacientes que testaram positivo foram direto para o hospital, independentemente do grau de sintomas apresentado. E isso deu à Singapura uma sensação de segurança e a avaliação era a de que não seria necessário fechar negócios e escolas.

No fim de março, no entanto, alguns sinais de que a epidemia voltava a ganhar tração em Singapura começaram a surgir. Foi só então que as ações mais duras vieram, como multa para quem se aproximasse a menos de um metro de outras pessoas de forma intencional, bares, restaurantes e escolas fechados, pessoas trabalhando de casa e eventos com mais de dez pessoas proibidos.

Em 7 de abril, foi implementado um novo plano, apelidado de “circuit-breaker”, termo do mercado financeiro que indica o momento de pânico, no qual é necessária a suspensão das negociações no pregão em razão de quedas bruscas, causando grandes choques aos mercados. No caso da epidemia, isso significa regras ainda mais rígidas de distanciamento social.

Isso mostra que Singapura não abandonará os esforços contra a pandemia do novo coronavírus. Com uma população de 5,7 milhões de habitantes e um sistema de saúde invejável, a cidade-Estado tem condições de se recuperar. Ao que tudo indica, aprendeu uma nova lição: relaxar antes da hora pode ser uma cilada em tempos de covid-19.

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