Quem é Alexander Dugin, o 'guru de Putin', que perdeu filha em explosão na Rússia
Conhecido como "filósofo de Putin", Alexander Dugin é criador da chamada Quarta Teoria Política, em que defende uma alternativa às três ideologias que dominaram o século 20: liberalismo, comunismo e fascismo
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Estadão Conteúdo
Publicado em 21 de agosto de 2022 às 16h10.
Um dos ideólogos mais influentes na política do Kremlin nos últimos anos, o filósofo Alexander Dugin, de 60 anos, é um nacionalista russo de direita radical apontado como um dos mentores da Guerra na Ucrânia . Às vezes chamado de " guru dePutin ", ele tem sido um dos principais defensores da conquista da Ucrânia pela Rússia . O ideólogo, que se apresenta como autodidata, é criador da chamada Quarta Teoria Política, em que defende uma alternativa às três ideologias que dominaram o século 20: liberalismo, comunismo e fascismo.
Na noite de sábado, 20, Daria Dugina, filha do filósofo, foi alvo de uma explosão nos arredores de Moscou, segundo meios de comunicação russos, ucranianos e italianos. Daria, de 29 anos, morreu no local. O Comitê de Investigação Russo abriu uma investigação criminal por homicídio.
Dugin por muitos anos foi considerado um ultranacionalista periférico na Rússia, mas nos últimos anos se aproximou do mainstream político. O presidente Vladimir Putin ecoou sua filosofia quando declarou o início de sua invasão da Ucrânia em 24 de fevereiro. A Rússia, disse Putin na época, estava lutando contra um "império de mentiras" liderado pelos americanos.
Originalmente um dissidente anticomunista, Dugin se concentrou nos últimos anos em influenciar o Kremlin e promove uma visão de uma Rússia ressurgente cujo principal inimigo é um mundo "atlântico" liderado pelos Estados Unidos.
Seu pensamento se baseia em ideias de "eurasianismo", de que a Rússia é uma civilização distinta que deve forjar um estado continental nos moldes de seu antigo império, mas sem a ideologia comunista da União Soviética.
Jane Burbank, professora emérita de história da Universidade de Nova York, escreveu que, na opinião de Dugin, após a "venda" da União Soviética para o Ocidente na década de 1990, "a Rússia poderia reviver na próxima fase do combate global e se tornar um ' império mundial.'" Dugin chamou a revolta ucraniana de 2013 contra a liderança pró-russa do país de "golpe de estado dos Estados Unidos" destinado a impedir tal expansão. "Somente depois de restaurar a Grande Rússia, que é a União Eurasiática, podemos nos tornar um ator global credível", disse ele.
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Apoiado na ideia de que a civilização russa é uma sociedade euroasiática que deve lutar por seu papel de protagonismo como potência mundial, Dugin defendeu a invasão russa ao leste da Ucrânia - na região de Donbass em 2014, quando a Rússia também anexou a Península da Crimeia. Ele também é apontado como o ideólogo de uma série de políticas expansionistas promovidas por Vladimir Putin, como as operações russas no Cáucaso.
Com o argumento de que o principal ator da história é o povo, não um Estado, ele baseou toda a teoria do "eurasianismo", a expansão da presença de Moscou para todas as regiões de influência histórica do povo russo, que serviu de base para a política de Putin. O reconhecimento de independência de minorias russas na Ucrânia, usado de argumento para invasão, é um exemplo de aplicação da teoria de Dugin.
Dugin é alvo de sanções dos Estados Unidos desde 2015 por ações políticas que ameaçam a paz, a segurança, a estabilidade ou a soberania da integridade territorial da Ucrânia. Nos últimos anos, a Ucrânia baniu vários de seus livros.
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Além da Rússia, Dugin também vem sendo utilizado como referencial teórico por grupos e movimentos da chamada 'alt-right', movimentos conservadores, populistas e nacionalistas, que ganharam espaço e representação política em todo o mundo nos últimos anos.
Dugin já veio duas vezes ao Brasil, fala português e fundou o Centro de Estudos da Multipolaridade, que estuda o conceito de que é preciso haver pólos alternativos de poder no mundo para além do Ocidente - outro tema central dos estudos de Dugin.
Em abril deste ano, participou de videoconferência em evento organizado pelo Laboratório de Estudos de Defesa e Segurança Pública da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (LEPDESP-UERJ).