Agência de notícias
Publicado em 17 de fevereiro de 2025 às 06h23.
O primeiro-ministro britânico, Keir Starmer, afirmou em artigo no domingo, 16, que pode mandar tropas à Ucrânia “se for necessário”, retomando uma discussão levantada pela primeira vez no ano passado. As declarações foram feitas na véspera de uma cúpula de emergência, convocada pela França, para analisar os rumos da guerra e as ações do presidente americano, Donald Trump, por um acordo.
Em artigo publicado no jornal Daily Telegraph, Starmer afirma que a Europa está diante de um momento histórico sobre a segurança coletiva do continente, e que o momento exige um maior engajamento: ele defendeu o aumento nos gastos com defesa, ecoando um argumento do próprio Trump (com quem se encontrará nos próximos dias), e afirmou que o Reino Unido quer liderar as discussões sobre garantias de segurança para a Ucrânia.
Além da ajuda financeira, Starmer foi além, dizendo que esse papel de liderança “significa estar pronto e disposto a contribuir para as garantias de segurança da Ucrânia, colocando nossas próprias tropas no terreno, se necessário”.
“Sinto profundamente a responsabilidade que vem com o potencial de colocar militares britânicos e mulheres em perigo. Mas qualquer papel em ajudar a garantir a segurança da Ucrânia está ajudando a garantir a segurança do nosso continente e a segurança deste país”, escreveu Starmer.
Essa foi a primeira vez que o premier trabalhista manifestou a possibilidade de enviar militares à Ucrânia como parte de uma força de manutenção de paz, e parece endossar, ao menos em teoria, uma ideia circulada no ano passado pelo presidente da França, Emmanuel Macron.
Segundo o Daily Telegraph, Starmer e Macron estão discutindo, a portas fechadas, estabelecer uma força de paz europeia para a Ucrânia, mas cujos detalhes ainda não foram fechados. Segundo estimativas, poderiam ser necessários até 100 mil soldados.
Nesta segunda-feira, líderes europeus se encontrarão, em caráter de emergência, em Paris, onde discutirão os recentes avanços de Trump para tentar resolver o conflito, que está prestes a completar três anos. Na semana passada, o líder americano conversou com o presidente russo, Vladimir Putin, e representantes de Washington e Moscou se encontrarão na Arábia Saudita nos próximos dias, e Trump disse, neste domingo, que poderá se encontrar com Putin “muito em breve”.
Até agora, os líderes europeus e a Ucrânia não foram convidados para conversas, embora Trump tenha afirmado que o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, será envolvido nas negociações — Kiev reafirmou que não concordará com qualquer plano que seja elaborado sem sua participação. Em seu artigo, o premier britânico concordou com o ucraniano.
“Devemos deixar claro que a paz não pode vir a qualquer custo. A Ucrânia deve estar à mesa nessas negociações, porque qualquer coisa menos seria aceitar a posição de Putin de que a Ucrânia não é uma nação real”, escreveu Starmer. “O presidente Zelensky e o povo ucraniano demonstraram a mais extraordinária resiliência e fizeram grandes sacrifícios na defesa de sua nação. Não podemos ter outra situação como o Afeganistão, onde os EUA negociaram diretamente com o Talibã e cortaram o governo afegão. Tenho certeza de que o presidente Trump também vai querer evitar isso.”
Para Starmer, além do aparente desdém de Trump pelos europeus sobre a Ucrânia, declarações recentes da Casa Branca sugerem que os americanos querem reduzir seus compromissos de segurança com o continente. Por isso, argumenta que o bloco deve ter um papel cada vez maior sobre a própria segurança, ao mesmo tempo, em que defende a parceria com Washington. Para ele, “o apoio dos EUA continuará sendo essencial e uma garantia de segurança dos EUA é essencial para uma paz duradoura, porque somente os EUA podem impedir Putin de atacar novamente”.
“Esses dias cruciais que virão determinarão a segurança futura do nosso continente. Como direi em Paris, a paz vem pela força. Mas o inverso também é verdade. A fraqueza leva à guerra”, escreveu o premier. “Este é o momento para todos nós nos levantarmos, e o Reino Unido o fará porque é a coisa certa a fazer pelos valores e liberdades que prezamos, e porque é fundamental para nossa própria segurança nacional.”