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Premiê de Israel fica sob pressão com cobranças de aliados sobre cessar-fogo em Gaza

Benjamin Netanyahu prometeu abordagem linha-dura em Rafah, independentemente de uma trégua com o Hamas, em momento em que o governo parece aliviar demandas para negociar com o grupo

Benjamin Netanyahu, primeiro-ministro de Israel (JACQUELYN MARTIN/POOL/AFP /Getty Images)

Benjamin Netanyahu, primeiro-ministro de Israel (JACQUELYN MARTIN/POOL/AFP /Getty Images)

Agência o Globo
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Publicado em 30 de abril de 2024 às 11h53.

Última atualização em 30 de abril de 2024 às 12h39.

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O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, enfrenta um momento de extrema pressão política à medida que tenta equilibrar os interesses de aliados internos e externos em meio às negociações sobre um cessar-fogo com o Hamas em Gaza. Diante de uma pressão diplomática crescente dos Estados Unidos para uma resolução rápida da negociação, Netanyahu tenta manter um discurso alinhado à ala mais radical de seu governo, necessária para sua permanência no cargo, que cobra uma abordagem linha-dura contra o grupo terrorista.

Netanyahu acenou aos aliados extremistas nesta terça, momento em que as atenções estão voltadas para a assinatura de um possível acordo pelo Hamas. Com mediadores internacionais garantindo que as negociações avançam no sentido de atingir uma trégua, o premier aproveitou uma agenda interna para reafirmar que seu objetivo de aniquilar o grupo palestino que governa Gaza não mudou após quase sete meses de guerra.

"A ideia de que vamos interromper a guerra antes de atingir todos os objetivos está fora de discussão. Entraremos em Rafah e eliminaremos os batalhões do Hamas, com ou sem acordo [de trégua], para conseguir a vitória total", disse Netanyahu durante um encontro com representantes das famílias dos reféns capturados pelo Hamas, segundo um comunicado divulgado pelo seu gabinete.

Pouco depois do atentado de 7 de outubro, o governo e a cúpula militar sob Netanyahu definiram três objetivos para a guerra: a eliminação do Hamas, o resgate das centenas de reféns capturados e a criação de um novo parâmetro de segurança para Israel e para o enclave palestino. Meses depois, a ofensiva é alvo de críticas tanto do ponto de vista estratégicos, com dúvidas sobre a capacidade de atingir tudo o que pretendia, quanto pela tragédia civil que impulsionou.

Atualmente, a maior preocupação da comunidade internacional é justamente com uma invasão de Rafah, no extremo sul do território palestino, para onde cerca de 1,5 milhão de pessoas fugiram para evitar o conflito. Israel diz que batalhões ativos do Hamas estão escondidos na cidade, em meio aos civis.

As cobranças sobre Rafah sintetizam as pressões sobre Netanyahu. Em um telefonema no domingo, com o presidente dos EUA, Joe Biden, o premier foi informado de que Washington não apoiaria uma ação contra a cidade, sem que houvesse um plano de alívio humanitário. Em contrapartida, o ministro das Finanças israelenses, Bezalel Smotrich, um dos mais radicalizados no gabinete de Netanyahu, defendeu uma "obliteração total", incluindo em Rafah, nesta terça.

"[Israel está] conduzindo negociações com aqueles que não deveriam mais existir", disse Smotrich, em fala registrada pelo jornal israelense Haaretz. "Não pode haver um trabalho pela metade. Rafah, Dir al-Balah, Nuseirat. Obliteração total. 'Agora vá e destrua Amaleque de debaixo do céu'".

Uma menção à história bíblica de Amaleque, povo inimigo dos hebreus destruído a mando de Deus, feito por Netanyahu há meses, foi apresentado pela África do Sul no processo de genocídio movido contra Israel na Corte Internacional de Justiça (CIJ) como prova de que a alta cúpula do governo age com intenção de exterminar o povo palestino. Israel nega.

Apesar da disputa no campo narrativo, as negociações diplomáticas continuam cercadas de otimismo por parte dos mediadores. Fontes americanas dizem que, apesar do discurso para o público interno, o governo Netanyahu aceitou aliviar as demandas para alcançar um acordo. Em conversas separadas com o presidente do Egito, Abdel Fattah al-Sisi, e com o emir do Catar, Tamim bin Hamad al-Thani, Biden afirmou que a libertação dos reféns pelo Hamas seria "o único obstáculo para um cessar-fogo imediato", indicando que o governo israelense estaria disposto a negociar.

Os termos, no momento, estão nas mãos do Hamas. Uma delegação política enviada ao Cairo para discutir a proposta de cessar-fogo temporário retornou a sua base no Catar, nesta terça, para uma decisão final. Porta-vozes do grupo informaram que irão "discutir as ideias e a proposta" em uma reunião fechada no Catar e que haveria ansiedade para "responder o mais rápido possível".

Fontes de Israel afirmaram à imprensa estatal que esperam uma resposta do grupo palestino na noite de quarta-feira. O país só deve retornar à mesa de negociação quando houver uma resposta de fato.

Os termos em discussão no momento não são totalmente conhecidos, mas funcionários que acompanham as negociações afirmam que envolveriam uma janela de trégua de 40 dias e a troca de prisioneiros palestinos por reféns israelenses. Os chefes das diplomacias de EUA e Reino Unido, Antony Blinken e David Cameron, classificaram a proposta como "muito generosa".

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